sexta-feira, outubro 29
E...Nada!
O projeto caseiro de João Urbano e Ana Teresa Real continua a dar cartas no universo das publicações temáticas.
Cruzando a ciência com as artes, sob a alçada de sobriedade do designer gráfico Manuel Granja, o projecto vai já no seu 3o número.
Para os interessados pela abrangência dos dois vastos campos da revista e não só, neste número poder-se-á encontrar, para além do sempre inquietante a-editorial/entrada de João Urbano, uma excelente entrevista a um dos mais desconcertantes pensadores portugueses da actualidade, Hermínio Martins, assim como textos de Lymert Garcia dos Santos, Jorge Leandro Rosa ou George Gessert.
Com base na experimentação, as novas tecnologias e os avanços diários no plano bio-tecnológico são focos centrais da revista Nada que tem o condão de preencher o enorme vazio criado entre a sociedade e o universo da ciência, com um design simples, uma linguagem acessível e uma abrangência desconcertante.
A experimentar numa banca perto de si.
"Post"alinho...
Uma perturbadora surdez
E a nossa perturbadora surdez que tende a ser permanente.
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_____EXPROPRIAÇÃO JÁ!____
quinta-feira, outubro 28
Ao infante Henrique
não chores
Henrique, que a chuva passa
Vês o céu lá fora,
Não tenhas medo.
É cinzento porque esconde o Sol,
O Sol está a rir-se para ti,
escondido atrás nuvens
Vês as gotinhas de chuva a brincar na janela,
abre os olhos
estão lá para ti.
a brincar à apanhada
para te divertir
E já viste Henrique, o amor
Vê bem
Abre bem os olhos,
Que o amor está à tua volta
Para te embalar com meiguice
Para te mimar
Para te proteger
Para te ensinar a não teres medo
Não tenhas medo do amor Henrique
Vês estas mãos que te tocam nas bochechas,
Não tenhas medo, são as mãos do carinho
Caso não saibas, o amor e o carinho são os melhores amigos
Andam sempre juntinhos, agarradinhos
Deixa-os ir contigo para todo o lado.
Ainda agora nasceste Henrique,
E ainda não sabes que há mar
Sabias que havia um menino Henrique antigo que queria ver o mar,
E descobriu o mundo.
E sabias que no mundo há quem nunca tenha visto o mar?
Mas tu não, Henrique
Tu vais poder ver o mar
Chapinhar na maré baixa
E nadares com braçadas tranquilas
Ao fim da tarde
e sentires a areia húmida nos pés
e encheres os olhos de lágrimas salgadas
com a luz forte do horizonte
que é o limite da tua esperança,
de ti que és a nossa esperança
a nossa inabalável fé
num futuro melhor
E vais poder ver a serra com neve
E uma lareira a crepitar calor
E o sorriso envergonhado das meninas,
E a borboleta a cortejar a flor
E vais ter fome e comer
E ter sede e beber
E ter curiosidade e saber
Vais ver Henrique,
Que bonito que vai ser
O mundo todo só para ti
À tua espera para te receber
E vais ver quadros tão bonitos, Henrique
E a música, Henrique, tu nem sabes o bem que faz a música
A música não se vê se fechares os olhos Henrique
Mas, ás vezes, a melhor maneira de ver o mundo
É fechando os olhos.
Agora dorme, Henrique
Agora dorme meu bebé
Porque amanhã começa o teu dia
Inteiro, puro e claro
Respira devagar nos braços do amor
Porque o amor te protege
Do feio que o mundo pode ser.
Ao Henrique que hoje nasceu
PS: Desculpem mais esta "lamechice", mas como não tinha nenhuma prenda para dar ao puto, dou-lhe isto.
Seja bem aparecido menino Henrique
Cumprindo também uma função noticiosa, o granito tem o prazer de dar as boas vindas ao seu universo afectivo de mais um membro. Trata-se de Henrique Marçalo, uma jovem promessa do jornalismo português, apesar de por enquanto não saber ainda ordenar o ba-ba. Isto, porque o jovem Henrique Marçalo acabou de nascer esta tarde, pelas 12.30h, com um peso estimado de 3 quilogramas e meio (nisto do peso, sai ao Pai).
O Henrique é o primeiro filho do Carlos Marçalo e de Helena Valente, e segundo as primeiras declarações extraídas à boca do pai baboso após o parto “O miúdo e a mãe estão bem.” O Carlos Marçalo e a Helena Valente são nossos amigos e acabaram de trazer ao mundo o primeiro rebento da “geração” granítica.
Segundo apuramos, as primeiras palavras do puto foram buááá´!, desatando em berraria quando viu o pai, pensando decerto “Este é que é o meu pai, ora que grande azar.” Conhecendo o nosso amigo Espanhol como conhecemos, só nos resta deixar uma palavra de conforto e solidariedade ao pequeno Henrique, dizendo “Valha-te a mãe e os tios aqui do granito.” Ainda assim, o Barcelona acabou de ganhar mais um adepto, o que não deixa de ser uma boa notícia, e nós ficamos todos mais ricos.
Welcome to the world, Henrique, apesar deste não ser o melhor dos sítios, ainda é um sítio em que vale a pena viver e ter esperança que o sonho seja possível. O mundo conta contigo.
Beijinhos e abraços aos pais, avós e ti Patri babados, neste Natal já temos um menino Henrique para adorar.
Filosofia de bolso ou a Verdade de La Palisse?
A História como ciência humana aprendeu a distanciar-se do momento presente analisando e comentando a jeito de "press-release" os eventos pelo menos 20 anos depois de eles terem acontecido. Enquanto isso acontece e não acontece, os críticos de arte portugueses não perdem tempo e lançam mão à obra nos jornais de domingo, também em jeito de comunicado de imprensa.
Já os críticos estrangeiros redobram esforços para tentar compreender em que paradigma nos encontramos. A labuta destes últimos cai nas boas graças dos artistas portugueses que se apoiam nos neologismos criados pelos novo-filósofos para poderem continuar a mandar piadas uns aos outros nas conferências.
Se se tentar reduzir o sistema das artes ao essencial restam três factores: o artista, a peça, e o comprador. Não tenho a menor dúvida que destes três agentes, o mais importante é aquele que literalmente decide a validade e valor dos outros dois, ou seja, o comprador/espectador. Ele pode mesmo ditar sobre a existência do artista enquanto isso, e da obra de arte enquanto arte. Por outras palavras, se o comprador preferir, e achar que lhe daria mais "status", comprar um seixo da zona do Pinhal moldado pelo rio Zêzere, o artista morria de fome e consequentemente peça de arte não cumpria a sua função social.
Por outras palavras (tentando não cometer nenhuma falácia e prometendo a ausência de sufismos):
Como todos os outros conceitos e ciclos, como todas as outras sistematizações, ideias, imagens, palavras, narrativas, a arte não passa de uma construção mental humana. Se algum parvo achar que tudo é arte, essa ideia passa a existir. Citando as sábias palavras de Paradocsiére de la Palisse: "Não sabemos da existência de tudo, mas sabemos que tudo existe."
Voltando agora à realidade social, acredito piamente que há duas formas de ser respeitado por ser artista. A primeira é por conhecimentos e por trabalho, leia-se, tendo muitos amigos críticos, comissários, donos de museus, galeristas, jornalistas, fotógrafos e ao mesmo tempo ir desenvolvendo trabalho que seja validado por eles. A segunda é tendo algum dinheiro para fazer coisas bizarras, muito grandes, ou muito pequenas, internéticas, ou cirúrgicas aliando-se de algum modo à tonteria ou à ciência (está de volta a velha máxima: "ars sine scientia nihil").
Publicado primeiramente em dois "posts" distintos em www.fbaup.blogspot.com
O granito esculpido pelos seus leitores
A beleza da polémica!
Indicado por um dos "vossos", vim um dia parar a este espaço de britagem, onde desde cedo reparei que a picareta estava sempre afiada e sem medo das lascas saltarem e ferirem olhos mais sensíveis. Como é normal num espaço em que a exploração é livre e o responsável máximo pela escavação é mais espiritual do que terreno, sempre houve total liberdade para abrir novos caminhos por entre pedra dura. Qual o meu espanto quando um dia destes, como qualquer bom mirone, fui mais uma vez à pedreira ver como se desenrolavam as obras, e me deparo com um rigoroso sistema de entrada. Eu que nunca tinha arregaçado as mangas e participado nesta labuta, decidi, apesar do apertado sistema de segurança agora vigente - que este era o momento ideal para deixar a minha marca e esculpir no vosso granito uma mensagem. Um firme voto de desagrado por se terem deixado seduzir pela sempre castradora medida da selecção/identificação de mensagens, a fim de evitar comentários anónimos e desagradáveis. Apesar de por vezes serem desprovidos de qualquer sentido e apenas e só uma forma que muitos fantasmas conhecidos têm de vos atacar de forma visível, ainda que escondidos no anonimato, é a factura a pagar por um casa deste tipo, que mesmo tendo os seus habitantes próprios, está colocada num local em que as portas estão abertas, logo susceptível a que muita gente entre sem ser convidada. Tal como eu, que sem convite formal, me imiscui na vossa , privacidade, levado pelos cheiros da Beira Baixa e por muitos dos temas que aqui se vão abordando. A beleza das coisas, está na imprevisibilidade, no trinómio texto/resposta/polémica, e não no previsível depositário de ideias, que sem permissão das legítimas incursões alheias se tornará cada vez mais um espaço fechado, que como todos, têm mais cedo ou mais tarde tendência para a claustrofobia. Mas tudo isto é feito por vocês e para vocês, a quem cabe - esse sim sem qualquer espécie de discussão - o poder de decisão.
Quanto a mim, cá estarei a ouvi-los e a usar amigavelmente a picareta sempre que mo permitirem.
Um abraço Oliveira"
Enviado por email por J. P. Oliveira em 28/10/2004
O granito feito pelos seus leitores
Granito
Foi talhado para ser: belo, duro e útil.
Assim obra de pedreiros nobres.
Já o vi como pedra de altar ao gosto dos deuses.
Banco para todos, pobres e poetas.
Rude em caminhos de viajante, em colunas verticais, ou assento tumular.
Gosto dele puro e limpo lá no alto, nos montes.
Andou em pedaços pelo chão, comentado nos lamaçais.
Julgo que se fundiu para sempre, de onde virá dizer verdades a rir aos que nos mentem a sério!
Diamantino Gonçalves
Adepto de tudo o que é bom, a da raiva também!
Enviado por Diamantino Gonçalves em 26/10/2004
Teatro a história do golpe
"No Fundão está a formar-se uma nova companhia profissional de teatro. Aparentemente (para usar um advérbio tão ao jeito dos que gostam de falar e de especular sobre o que não conhecem), formado por uns tipos que "programaram" mal um golpe de estado no Teatro das Beiras. Estes senhores tiveram o descaramento de pôr em causa a ordem das coisas e do mundo e deixaram o Sr. Sena com as suas duas secretárias à beira de um ataque de nervos. Com este gesto, pôs-se em causa o teatro na região.
Força, Teatro das Beiras, a região precisa de ti, não era o que Sr. Fiuza dizia? É tão bom falarmos com paixão sobre a vida e os actos dos outros, principalmente se não dominamos os factos.
Mas o que se passa é o seguinte:
1. No Teatro das Beiras existe um Presidente da Direcção que põe e dispõe, manda e desmanda a seu belo-prazer, conforme a disposição diária. Não existe qualquer princípio, qualquer metodologia que possa ser considerada perceptível, coerente, logíca.
2. O Presidente centraliza a informação, pratica actos isolados na maioria dos casos com implicações no bom funcionamento da casa, num total desrespeito para com os seus colegas da Direcção. Direcção essa que ele dirá candidamente ser quem manda, quando confrontado com estas situações.
3. No Teatro das Beiras, a desmotivação das pessoas era tão profunda, tão profunda, que já nem esse nome tinha. Talvez ausência e conformismo. Ou funcionarismo público, se se preferir.
4. Este Presidente da Direcção não se interessa por teatro, não assiste a um único ensaio, não pratica um único acto de generosidade para com os actores, técnicos e outros criativos.
5. Este Presidente da Direcção usa, em prejuízo do funcionamento das actividades, os bens do Teatro em seu proveito próprio, alegando que os seus trinta anos de GICC lhe dão esse estatuto e esse direito. Pelo contrário, em relação aos outros, é de uma inflexibilidade e rigor que até faz doer.
6. Este Presidente da Direcção senta-se numa cadeira de 70 contos e faz-se servir de toda uma parafernália de equipamento informático, quando lá em baixo os actores, numa das cidades mais frias do país, ensaiam com frio e ainda não tiveram direito a água quente. (Sim, Sr. Fiuza, vá-se desmaquilhar para casa ou receba a água congelada no alto da pinha a que tem direito!)
7. Este é um Sr. que só fala das pessoas, dos seus erros e nunca, mas nunca é capaz de um agradecimento ou de um mero "parabéns", quando as coisas correm bem.
8. São actores com 10, 6, 4 anos de casa que disseram basta. "Basta" ao facto de associar-se à coisa que mais gostam de fazer, teatro, existir sempre um pesadelo, uma nuvem negra a pairar sobre as suas cabeças.
9. Não há alegria, boa-disposição naquele teatro. Não há generosidade para quem dá verdadeiramente o rosto do Teatro das Beiras nos palcos. Temos todos que viver as mesquinhices dos acontecimentos individuais e andar a falar mal uns dos outros, num clima irrespirável.
10. A gestão artística de um projecto para a região, quando falamos de orçamentos que rondam os 70 ou 80 mil contos é de um amadorismo atroz. O Teatro das Beiras não passa de um prestador de serviços, completamente ausente de um desenvolvimento sócio-cultural. O edício-sede, frio, sem vida, virado todo para dentro, de costas voltadas para a Travessa da Trapa, espelham bem o que ali se vive.
11. Nove pessoas disseram numa petição (em 21 de Julho de 2004) BASTA. Ou tu ou nós. Tão simples quanto isso. E por uma razão muito simples: porque estas pessoas não são tão ocas quanto aqueles que, não dominando os assuntos, escrevem na praça pública dislates tão grandes quanto os do Sr. Fiuza. ("Golpe de estado mal gerido...", por exemplo.)
Vá para o Teatro das Beiras, Sr. Fiuza. Submeta o seu carácter a uma provação de pelo menos 6 meses. Submeta-se ao regime do grande, do magífico Sena e depois regresse a este Blog para continuar a filosofar sobre esta arte e o que é ser actor.
Espinosa dizia: as pessoas que falem, que falem sobre tudo... mas façam-no um bocadinho mais devagar.
Quem fala em golpes de estado é quem emborcou na estratégia do Sr. Sena. Não há ninguém neste mundo que consiga arranjar um facto, uma testemunha que provem seja em que tribunal for, que houve uma tentativa de golpe de estado. Tratou-se de uma demissão em bloco que referia num documento de 10 pontos todas as razões desta ruptura. Quando se fala em golpe de estado deixa-se de poder comentar as razões primitivas e primárias que levaram 9 pessoas a prefeir o desemprego a continuar a pactuar com uma companhia gerida por um só homem que não tendo qualquer sensibilidade para o teatro, faz questão de nem sequer se preocupar com isso. Foi isto que o Sr. Sena conseguiu. Desviar as atenções.
Parabens, Fiuza. Foste mais um. Mas em prejuizo de "quem faz" o teatro. Ou se preferires, em favor de "quem faz" o teatro nos gabinetes, não nos palcos da região. Escreve este texto alguém que, ao contrário do actor Fiuza, viveu esta situação.
O Golpista do Teatro das Beiras Pedro Fino ex-tecnico do Teatro das Beiras "
Enviado por email por Pedro Fino em 26/10/2004
"Constituição da República Portuguesa, Artigo 199.º:
Compete ao Governo, no exercício de funções administrativas:(...)
f) Defender a legalidade democrática;
.... Donde se conclui que este governo é inconstitucional."
Enviado por email por Alipio Severo de Noronha em 28/10/2004
<
Enviado por email por Alípio Severo de Noronha em 26/10/2004
quarta-feira, outubro 27
O Sr. James Cook
Ainda adolescente, foi trabalhar para uma ilha piscatória e foi aí que começou a ter um grande fascínio pelo mar. Com 18 anos embarca pela primeira vez num navio e a paixão que tem pela navegação faz com que comece a estudar matemática e navegação.
Em 1755, ofereceu-se como voluntário para a Marinha Britânica e passado pouco tempo, Cook já era comandante do seu próprio navio. Naquela época, muitas das regiões que já tinham sido descobertas ainda não estavam registadas em mapas. Para se cartografar uma região, era preciso ir lá de navio e explorar a costa marítima ao pormenor, para depois se desenhar tudo nos mapas. Por isso é que as primeiras missões de Cook a bordo do seu navio foram a exploração e o levantamento topográfico de algumas regiões. Saiu-se tão bem no seu trabalho, que os mapas desenhados por ele foram usados até ao início do séc. XX!
Em 1768, James Cook partiu de Inglaterra ao comando do seu navio Endeavour rumo ao Taiti. A sua missão era observar o eclipse provocado pela passagem do planeta Vénus e fazer alguns estudos astronómicos. Cook observou o eclipse e aproveitou para cartografar a costa do Taiti.
Reza a história que foi no Taiti que James Cook e a sua tripulação viram pela primeira vez tatuagens nos braços dos nativos e pensa-se que foi por isso que nasceu a tradição de os marinheiros tatuarem os braços!
Três meses depois de observar o eclipse, James Cook partiu do Taiti com uma nova missão: descobrir se existia ou não um continente na parte desconhecida do hemisfério sul. Cook começou a viagem em direcção ao sul, mas o mau tempo obrigou-o a desviar a rota e parar na Nova Zelândia. Esta já tinha sido avistada antes por um holandês, mas foi James Cook que "descobriu" a ilha do Sul e cartografou as principais ilhas do território, em 1769. Depois, navegou para oeste e parou na Austrália. A Austrália já era conhecida dos europeus mas foi com a expedição de James Cook que a parte oriental deste país foi reclamado para a Inglaterra.
Em 1771, Cook regressou a Inglaterra a bordo do Endeavour, mas ainda faltava descobrir se existia ou não um continente desconhecido no hemisfério sul...vai daí e em 1772 parte de novo em busca do continente que hoje conhecemos como Antárctida.
Esta segunda viagem de Cook durou três anos mas foi muito proveitosa.
Apesar de não ter descoberto o continente, James Cook navegou à volta de todo o Círculo Polar Antárctico (uma espécie de fronteira entre a Antárctida e o resto do hemisfério sul) mas não percebeu que estava ali o continente que procurava.
Em 1775, Cook voltou para Inglaterra, mas não ficou lá por muito tempo. No ano seguinte, foi-lhe dada uma nova missão: descobrir a Passagem do Noroeste. Esta "passagem" devia unir o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico através do norte do Canadá, mas Cook nunca a chegou a descobrir, já que morreu numa escaramuça nas ilhas do Havai (que ele também tinha descoberto)...
James Cook morreu em 1779, sem descobrir a Passagem do Noroeste nem o continente que procurava. No entanto, descobriu territórios por todo o mundo e navegou por sítios onde nunca ninguém tinha estado!
terça-feira, outubro 26
Formula 2.2
Não estava ninguém no palco. O público estava sentado no auditório e as luzes apagaram-se. Apareceu um rectângulo cinzento escuro (que deveria ser preto) oriundo de um projector situado no topo do espaço em que nos encontrávamos. Lentamente foi subindo de amplitude um sinal sonoro com frequências quase inaudíveis de tão altas (entre 14 a 16 Khtz). A aplitude era modulada por uma frequência bem mais lenta que dava ao som um ar menos maquinal. Em "fade in" surgiu um linha horizontal branca que ocupava o ecrã de uma ponta à outra. 1 ou 2 minutos depois entrou pela margem esquerda um linha vertical branca que se movimentou rapidamente até ao centro, altura em que foi disparado para o público um "strobe", situado acima do ecrã, sicronizado com um piiiiii que reverberou durante alguns segundos (desculpem a onomatopeia mas é mais fácil explicar assim). Escusado será dizer que toda gente que tinha os olhos abertos ficou cega durante algum tempo, ouvindo.
A situação complexificou-se com o aparecimento de novas sinusoidais que gradualmente desciam o tom até a minha cadeira tremer com os subgraves que saíam das colunas. Durante todo o tempo em que ali estive não parei de ser surprendido, confundido pelas relações, mais ou menos básicas, respectivamente, que se podem criar entre som e imagem. Cheguei mesmo a assustar-me com uma quebra do ruído branco (TFFFFFFFFFF) quando subitamente passou para um quase silêncio. O silêncio e a calma só podem existir quando nos habituamos à constância. Por outras palavras tudo o que se ouve sempre, é silêncio.
Recomendo a peça a todos os amantes de música, e não pensem que é uma daquelas intelectualices só para quem tem paciência. Em Formula 2.2 é simplesmente impossível não sentir o som. Uma experiência sinestésica a não perder.
Há uma palavra melhor que frete
Há anos que aquele jornal se transformou num meio pastelão, cinzento e serventuário dos poderes vigentes na administração da Lusomundo, desde que esta faz parte do universo PT, e por consequência a administração máxima daquele jornal é nomeada por critérios de confiança política.
Desde o consulado de Mário Bettencourt Resendes, com aquele seu estilo de senador bonacheirão e apascentador, que se tem assistido a uma sucessiva colonização e deformação vertebral da informação daquele jornal, que navega ao sabor do vento que sopra.
Para quem não se recorda, relembro que no tempo do Engº Guterres, o DN era o orgão de informação oficial do Governo, e foi defendendo até aos limites do decoro o estertor do regabofe socialista. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e agora que o vento sopra de outras bandas, o "DN" volta a prestar-se ao servicinho de fretismo.
A nomeação de Luís Delgado, o moço de recados mais bem pago deste país, para a presidente executivo da PT Multimedia (controla o DN, JN, TSF; 24 Horas)é um sinal claro da forma descarada e desavergonhada com que a actual maioria encara o controlo e a instrumentalização das empresas de comunicação social sobre as quais detém ascendente político e tutorial.
Antigamente estas coisas faziam-se de mansinho, pela calada, em sussuros de almocinho e conveniências de pacotilha. Agora é às clarinhas, sem pudor algum.
Louve-se pelo menos a transparência.
Para os mais cépticos com esta visão "cabalista" e conspirativa, aconselho vivamente que leiam o tema de abertura da edição de ontem do DN.
Duas páginas assinadas pela jornalista Leonor Figueiredo (shame on you baby), que explicam as razões de estado que levam à criação da famosa "Central de Comunicação" do Governo PSD/PP.
O artigo, entitula-se "Uma central de dois bicos", e o texto é uma espécie de justificação laudatória à criação de um serviço de informação da política governamental. Para mostrar a bondade e a modernidade desta medida, o DN recorre aos seus correspondentes em Madrid, Paris e Londres, que explicam que esta coisa de haver uma Central de Propaganda é "tramóia" velha nestes civilizados e democráticos países.
Já para falar da infeliz escolha do caso espanhol, onde o Governo central exerce um poderoso controlo sobre a máquina informativa sob a sua alçada, estas duas páginas
são confrangedoras, porque à "bondade" da medida governamental não contrapõem as perversidades que uma tal central de comunicação é passível de gerar, sobretudo quando não é enquadrada com um sistema de "checks and balances" que lhe refreiem a natural tentação propagandistica e de vigilância da liberdade de imprensa, exercida por meia dúzia de mastins pagos a peso de ouro.
Neste artigo do DN há uma total ausência do contraditório, regra elementar do bom jornalismo, tão grata ao Ministro Rui Gomes da Silva.
Mais fosse preciso, com este jeitinho ao Governo, o "DN" revela com descaramento que se tornou o orgão oficial do Dr. Lopes e do Dr. Portas, sob os auspícios de sua eminência parva Luís Delgado, com a conveniênica amedrontada e sabuja do Dr. Fernando Lima, sob a condescedência "cool" do Dr. Bettencourt Resendes e com a rafeira e solícita prestação de serviços de alguns jornalistas de bolso.
O PSD já tinha um semanário - "O Povo Livre", agora também tem um diário, só falta mesmo decapitar os cavaquistas da direcção do jornal - o Dr. Lima - e lá colocar a amiguinha dilecta do Dr, Lopes, a Dra. Clara Ferreira Alves para a pornografia envergonhar o big brother holandês.
Há uma palavra melhor para definir o frete que o DN fez ao Governo.
Essa palavra é um bico.
PS: O pior disto tudo, é que com o afastamento de Henrique Granadeiro da administração da Lusomundo PT, o patrão máximo do nosso "Jornal do Fundão" é o senhor Luís Delgado, e não sei durante quanto tempo é que a "central de comunicação" do Governo vai continuar a ignorar um dos poucos jornais portugueses que permanecem verdadeiramente livres; durante quanto tempo vão resistir à tentação de açaimar, domesticar e fazer obedecer à voz do dono.
Contamos consigo Fernando para defender o seu e nosso jornal, e pode certamente contar connosco para cerrarmos fileiras em defesa da liberdade que é o património genético do jornal fundado em tempo de ditadura, e que a ele resistiu e sobreviveu, e que se prepara agora para enfrentar as tácticas movediças de uma ditadura democrática.
Esses bardamerdas nem imaginam o trinta e um da armada em que se metem se vierem aqui meter o bedelho, podem crer que o caso Marcelo vai parecer apenas uma ligeira enxaqueca, comparada com aquilo que estamos dispostos a fazer.
Por cá, gostamos pouco de brochistas.
Solturas - Tempos difíceis
Pois é Vó, hoje estou com uma soltura verbosa que nem me aguento. Estou que nem posso. Vamos então passar em revista as últimas medengardas que infectam este esterco em que se transformou a vida política do nosso País.
Tempos difíceis
O nosso estimável e afável Presidente da República foi há pouco tempo agraciado com um prémio pelo Rei de Espanha, pelo seu relevante contributo para a construção do ideal europeu. Trata-se de um prémio inócuo e meramente simbólico que podia bem ser corporizado num jarrão com danaçarinas de flamengo a agitarem bandeiras da UE para o Dr. Sampaio colocar os cravos de Abril sobre a lareira, mas desta vez a jarra vem com um recheio de 18 mil contos. Normalmente a maçaroca seria destinada para qualquer associação de beneficência, ou uma santa casa qualquer, mas desta vez o irónico Sampaio decidiu abotoar-se ao papel com a seguinte explicação: "Desta vez o dinheiro é para mim. É que os tempos estão difíceis!" O bom e solidário homem quis assim fazer um gesto de afirmação política lançando uma alfinetada a quem nos desgoverna. Pois é, sr. Presidente, imagine Vossa Excelência que os tempos estão difíceis para sim que tem um ordenado superior aos 1800 contos líquidos/mês, agora imagine lá para as inúmeras famílias portuguesas que têm de sobreviver com 150 contos por mês, e o milhão de seus compatriotas que vivem no limiar da pobreza. Para eles a sua gracinha política soa a insulto e a desplante indecoroso. Teria feito muito melhor em meter as notinhas ao bolso e ficar caladinho em vez de vir para aí dizer graçolas infelizes, proferidas pela boca de quem, em última instância, é o máximo responsável pelos tempos difíceis em que vivemos.
Para todos os entusiastas e apoiantes do Dr. Sampaio como grande símbolo do humanismo e da solidariedade; cavaleiro impoluto da esquerda de moral austera, eis mais uma bofetada de luva branca. O consulado manso e enconado do Dr. Sampaio passará brevemente à história com o cognome de Sampaio "O preocupado", em nota de rodapé, explicando que se tratava de um presidente que esvaziou a função presidencial até ao tutano, mas que andava sempre preocupado com uma série de questões de interesse nacional. Posso garantir-lhe, Dr. Sampaio que nós portugueses ficaremos muito mais despreocupados no dia em que o senhor fizer as malinhas e for gozar a sua reforma de "grande estadista" à frente dos destinos de mais uma fundação - A Fundação Jorge Sampaio de Apoio ao Cidadão Preocupado. Vá com Deus!
PS: Apenas se entende a atribuição deste prémio europeista pelas relações próximas do Rei Juan Carlos com o seu amigo Jorge Sampaio, e não se reconhece ao actual Presidente da República nenhum contributo decisivo para o ideal da construção europeia. O Dr. Sampaio ganhou este prémio porque é amigo do Rei de Espanha e Presidente da República Portuguesa, e ao meter o dinheiro ao bolso poderia mesmo criar algum embaraço diplomático se os espanhóis não estivessem positivamente a cagar para o nosso pequeno país de grandes pequenotes.
Tuema lá uns truecos e vai comprar chupa-chupas ou fazer uma fundação!
Paula Rego em Serralves
"O meu tema é a minha história, a história que eu tenho para contar e a minha maneira de a contar"
(Paula Rego)
A exposição de Paula Rego, inaugurada na sexta feira, dia 15, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves no Porto lembra, pela dimensão do evento, a retrospectiva apresentada há sete anos atrás no Centro Cultural de Belém. São cerca de 150 trabalhos produzidos, quase todos, desde 1996, que têm em comum a característica de serem obras jamais apresentadas em público. De 15 de Outubro a 23 de Janeiro, estará à disposição esta que já é considerada uma exposição que suplantou todos os recordes de afluência de público em Serralves, inclusive na própria inauguração. Comissariada por João Fernandes e Ruth Rosengarten, esta selecção da obra de Paula Rego incide sobretudo na relação entre a sua pintura e o desenho. Pela primeira vez, a artista apresenta os desenhos preparatórios das suas pinturas, numa exposição na qual foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago da Espada. Ao percorrermos esta exposição antológica, apercebemo-nos da permanente construção de situações ficcionais, bem como do uso estratégico e subversivo da violência, como arma de denúncia política tanto ao nível do público como do privado, constantes aliás na estética de Paula Rego. Através destas imagens que provocatoriamente recusam determinados estereótipos, Rego aflora domínios sensíveis, tais como o lado mais recôndito dos instintos - a perversidade, o horror, o fascínio que o abjecto pode exercer sobre o humano. Uma das obras mais marcantes de Paula Rego é o quadro "Anjo" (1998). A imagem do Anjo-Mulher carrega toda uma carga simbólica, sendo a sua função proteger e vingar - numa mão a espada e na outra a esponja do fel. A robustez do Anjo-Mulher inspira força e cultiva o enigma lançado em muitos quadros da pintora. Como disse a própria Paula Rego: "Ela apareceu, ganhou forma e não sabemos o que se lhe seguirá".
segunda-feira, outubro 25
Margarida Gil dos Reis - Põe/Retira Comentários
Margarida Gil dos Reis"
Enviado por email por Margarida Gil dos Reis em 25/10/2004
Cova da Beira ao anoitecer
Quando começa a anoitecer no Fundão e o lago de ar frio desce sobre a cidade... surreal esta vista de Alcongosta, não é?
(David, Ricardo e os demais: vamos a esse diálogo de imagens? Sem abusar do espaço, claro...)
domingo, outubro 24
Em referimento ao jantar granìtico... E que tal em terras Berlusconianas?!? (it will put anyone off?!!)
Entrar por pòrticos e passar pelos arcos em ruas que quase sempre acabam em praças cheias de gente requintada como se fossem modelos de passerelle (e eu que nem gosto de falar de bom gosto e beleza ou mesmo do belo que pode e deve ser uma grande dor de cabeça a qualquer artista que se preze)!
Entremos agora no restaurante: Um "risotto" de cebola e limão depois de alguns "crostini al tartuffo"; Como "secondo" um rosbife "isanguinatto" com batatas e "di contorno" leves bròculos com azeite extra-virgem. Tudo isto regado de "Chianti rosso dell'anno scorso" e para culminar com o melhor cafezinho do mundo acompanhado "di grappa".
Como temas de conversa proponho "calcio" para começar, "Le Donne com(m)o primo piatto" e (porque não) passar para o "belo" tocando nos aspectos mais fàceis e vazios. Até parce que estou a propor uma dor de cabeça para o final, mas os temas vão de certeza sobrepor-se neste sìtio onde a procura do belo, do perfeito e da "Dolce Vita" é uma constante intrìnseca num quotidiano incomparavel!
Arrivederci.
P.S.: E que tal um jantar granìtico entre o Natal e o Fim-de-Ano?
Nunch, nunch... Know what I mean?
Para os amantes do Documentário
De 24 a 31 de Outubro 2004
Festival Internacional de Documentário de Lisboa - Culturgest
"O doclisboa vai apresentar 8 dias de projecções em regime intensivo que nos vão ajudar a perceber, por um lado o estado do mundo (a ressurgência do cinema político, o passado enquanto conhecimento da História e das suas personagens mais singulares) e por outro, a situação do documentário contemporâneo – cuja fronteira com a ficção é cada vez mais ténue.
O cinema documental é aqui apresentado enquanto viagem iniciática ou road movie mas também como expressão íntima, de carácter (auto)biográfico. Apostámos na variedade dos temas e das escritas cinematográficas.
O doclisboa 2004 vai exibir cerca de 60 filmes, em 5 secções:
Competição Internacional Documentários de curta e longa-metragem. Selecção de filmes de maior destaque internacional, produzidos em 2003 e 2004.
Para onde vai o documentário português? [ver +]
Uma mostra de 10 filmes entre os 70 enviados ao Festival.
Foco sobre Espanha [ver +]Secção comissariada por Casimiro Torreiro (crítico do diário El Pais e ensaísta).
A ressureição do documentário espanhol, que teve lugar a partir dos anos 90, é aqui apresentada através de uma selecção de filmes estreados em salas de cinema.
Como entender o Médio Oriente? [ver +]
Secção comissariada por Marie-Pierre Duhamel-Müller (directora do festival Cinéma du Réel). Filmes que permitem um conhecimento mais profundo do conflito israelo-árabe, com obras de grandes realizadores, como Amos Gitai, Elia Suleiman e Avi Mograbi.
Sessões especiais + Master class [ver +]
Filmes extra-competição de realizadores consagrados e uma master class com o realizador de Être et Avoir - Nicolas Philibert.
Os filmes são legendados em português.
Os filmes portugueses e muitos dos estrangeiros serão apresentados pelos seus realizadores. Grande parte das projecções será seguida de um debate com os realizadores, produtores e críticos de cinema.
Competição Internacional
A secção competitiva do festival é composta por 17 longas-metragens e 12 curtas-metragens documentais de todo o mundo, na sua maioria inéditas em Portugal e premiadas em festivais.
A selecção reúne os filmes de maior relevo produzidos entre 2003 e 2004.
Destaca-se um grupo de filmes polémicos, que serviram para questionar questões políticas e de justiça nos seus países de origem: 10ème Chambre; O Prisioneiro da Grade de Ferro; Justiça; Les Escadrons de la Mort; Le Génie Helvétique; Checkpoint; Le Mur, etc. Em complemento, pode-se falar de um grupo de filmes que interrogam a história, muitas vezes para compreender melhor o presente: Santa Liberdade; The House of Saoud; Grandad’s Waking Dream; No Jardim do Mundo…
A vida do dia a dia e tudo o que é mais central no documentário estará presente numa constelação de obras muito variadas: Landscape; A Scuola; La Peau Trouée; In the Dark; The Weel; Untertage; Olhar por dentro; Fruitful Summer; The City Beautiful…
Finalmente, a arte tem um lugar privilegiado enquanto espelho do mundo: Bright Leaves; Cinévardaphoto; Sylvia Kristel – Paris; El pequeño pianista...
Da Europa à Ásia passando pela América, uma diversidade de géneros e de culturas serão visitados pelos filmes documentais a concurso no doclisboa 2004.
Origem dos filmes em Competição:
Alemanha, Bélgica, Bielorússia, Brasil, Cambodja, China, Cuba, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Índia, Israel, Itália, Portugal, Rússia e Suíça.
Para onde vai o documentário português?
Esta secção tem como objectivo reflectir e debater o rumo da produção do documentário português durante os últimos anos. Neste sentido, o doclisboa 2004 apresenta uma mostra de dez filmes de curta e longa-metragem, seleccionados de entre 70 enviados ao Festival.
A selecção das obras privilegia uma grande diversidade de estilos e géneros: do documentário estritamente observacional ao retrato íntimo; da montagem cuidada de entrevistas à narrativa na primeira pessoa.
É interessante notar a presença de produções independentes de qualidade. Apesar da precariedade generalizada com que são feitos os documentários em Portugal, comprova-se uma vontade de filmar contra a corrente (sem os apoios tradicionais) e a capacidade de o fazer com brio.
Também é interessante referir um esboroamento das fronteiras da produção nacional. Contam-se nesta secção várias co-produções internacionais e parcerias de outro tipo: um filme de uma realizadora portuguesa (Maria de Medeiros) produzido por produtores franceses; o de uma realizadora alemã (Christine Reeh) ou o de uma realizadora inglesa residente em Moçambique (Karen Botswall) produzidos por produtores portugueses; um filme sobre a Aldeia da Luz com uma parceria luso-suiça…
Os debates que se realizam no final de cada sessão permitirão reunir elementos para um futuro encontro de produtores e realizadores portugueses de documentário.
O Prémio doclisboa / Tóbis de “melhor documentário português” será atribuído pelo júri a um dos 10 filmes presentes na secção Para Onde Vai o Documentário Português? ou a um dos dois filmes portugueses presentes na secção internacional.
Foco sobre Espanha
O ensaísta, professor universitário e crítico do diário El País, Casimiro Torreiro, vai apresentar na Culturgest alguns de entre muitos documentários estreados em sala nos últimos anos em Espanha. Eis alguns excertos do texto - A propósito de uma ressureição - que escreveu para o catálogo do doclisboa…
"Setembro de 2003. Por ocasião do festival de cinema de San Sebastián, o mais importante dos eventos cinematográficos espanhóis, a ministra da Educação e Cultura do governo do Partido Popular, Pilar del Castillo, manifestava-se perante os meios de comunicação social contra uma modesta produção quase artesanal, ainda que de importante impacto, La Pelota Vasca, primeiro documentário de um consagrado realizador de ficção, Julio Medem, concebido como uma contribuição pessoal para a análise da complexa situação sociopolítica do País Basco. Pouco antes, o mesmo governo conservador tinha recusado ao filme um apoio para a sua promoção internacional e exibição no festival de Londres.
A reacção da ministra que, na lógica de tantos censores que a precederam, reconhecia não ter ainda visto o filme (de facto, a sua estreia pública foi uns dias depois, no mesmo festival de San Sebástian), marcou simbolicamente uma espécie de emergência geral do documentário espanhol à escala pública (como na actualidade existe, a outro nível Fahrenheit 9:11 de Michael Moore). Uma coisa era que um filme documental chegasse de quando em quando aos circuitos comerciais, ou até alcançasse um êxito pontual entre minorias (os 145.000 espectadores de En Construcción, 2000, de José Luis Guerín, por exemplo), mas outra bem diferente sucedeu com a mobilização generalizada da opinião pública e dos políticos a partir de um documentário, como foi o caso de La Pelota Vasca (375.000 espectadores).
Os caminhos que se abrem ao documentário espanhol não são fáceis, mas sim promissores."
Casimiro Torreiro
Como entender o Médio Oriente?
Ao reunir um conjunto de 13 obras maiores realizadas sobre o conflito israelo-árabe nos últimos 15 anos, Marie-Pierre Duhamel- Müller, comissária desta secção, pretendeu dar uma ideia da superior capacidade do documentário e do cinema em entender uma região onde se decide o futuro do mundo, que os Media não param de referir e que no entanto continuamos a não conseguir ver claramente.
"Como dar uma ideia, ainda que parcial ou fugaz, daquilo que o documentário pode contar, hoje em dia, a respeito de uma região do mundo desde há muito assimilada a um tabuleiro de xadrez?
E os cineastas? Em que medida são diferentes? Eles não falam apenas do conflito. Seguem pelas estradas mais longas, mais tortuosas, que correm independentes, sem repetir os caminhos já traçados dos discursos políticos, das convicções calcificadas, das falsas evidências que resistem até à cegueira.
O que consegue fazer ver o cinema a não ser aquilo que os poderes escondem? A não ser a complexidade dos seres e das situações? Uma complexidade que pode gerar empatia ou crítica, mas que coloca constantemente os seres filmados ao nosso lado, transformando-os em seres iguais a nós, surpreendentes, impensáveis, desconhecidos e às vezes até repugnantes ou terrivelmente semelhantes."
Marie-Pierre Duhamel-Müller
Sessões Especiais [ver lista de filmes]
Master Class com Nicolas Philibert
A Master Class de Nicolas Philibert no Grande Auditório da Culturgest terá uma duração de duas horas. O realizador do polémico Être et Avoir (documentário sobre uma escola de aldeia, visto por mais de 5 milhões de espectadores e estreado em Portugal este ano) vai fazer uma apresentação do seu trabalho e do seu modo de filmar, com projecção de excertos de alguns dos seus filmes.
Nicolas Philibert também apresentará e debaterá com o público um dos seus filmes mais polémicos La Voix de son Maître - inédito em Portugal, realizado em parceria com Gérard Mordillat.
Nicolas Philibert nasceu em 1951 na cidade de Nancy. Após concluir a licenciatura de Filosofia na Universidade de Grenoble, estreia-se como assistente de realização de autores como René Allio, Allain Tanner e Claude Goretta. Em 1978 realiza, em parceira com Gérard Mordillat, La Voix de son Maître, filme com entrevistas a quinze dirigentes de grandes grupos industriais franceses que, por razoes políticas, foi proibido em França durante vários anos. Desde 1989, Nicolas Philibert realizou seis documentários estreados em salas de cinema. A sua obra mais recente Être et Avoir foi distinguida com o Prémio Louis Delluc."
Filmografia
1978 - La Voix de son Maître (co-realização com Gérard Mordillat)
1986 - Christophe
1987 - Trilogie pour un homme seul
1988 - Le Come-back de Baquet
1990 - La Ville Louvre
1992 - Le Pays des sourds
1994 - Un animal, des animaux
1996 - La Moindre des choses
1998 - Qui sait?
2002 - Être et avoir
O autista
- "A homossexualidade é um pecado"
- "As crianças que não têm pai, mas apenas uma mãe, são filhas de uma mãe não muito boa"
- "A família existe para que as mulheres tenham filhos e os homens cuidem delas"
Como é que, depois disto, Barroso mantém Buttiglione na Pasta da Justiça, Liberdade e Segurança?!? Ele devia ter sido automaticamente expulso da sua equipa, quanto mais continuar a ser o responsável por uma pasta onde figuram aquelas três premissas essenciais! Barroso foi tão inflexível e autista, que arrisca-se agora a entrar para a história europeia como o primeiro chefe de executivo a ver a sua investidura recusada pelo Parlamento Europeu. E seria muito bem feito, digo eu!
sexta-feira, outubro 22
É assim mesmo, carago!
Vim só picar o ponto.
Bruno, concordo.
Malvado... vá lá... só uma caixinha, para os meus.... O tema da Propriedade intelectual é bem mais complexo do que a visão que me deste no Post de resposta. Falamos no jantar se te apetecer.
Rui Pelejão, por questões de segurança rodoviária sugiro um qualquer restaurante dentro do Fundão menos o Luís dos Frangos e a Hermínia. Enclave? Oito Bicas? um tagliatelle num italiano? Marisqueira da Eugénio de Andrade?
Fiuza, não li o teu último post. É muito grande, imagino que sobre teatro e já pouco tempo tenho para as minhas encenações privadas. Sobre o gajo dos Current, repensei, e dá-me o nome o alter-ego do húngaro mas não lhe dês o meu e-mail. Ok!
Ricardo não tenho andando informado sobre as telenovelas e consequentemente não percebi o mapa. Sei que também não queres comentários e até compreendo mas de facto assim já não é o que era.
Prometo um "post" de jeito para a semana, talvez já domingo se não me doer a cabeça.
Abraços sólidos.
Que tal um grande jantar granítico?
1- Um vodka tónico com gelo
2- Manteiguinha dos açores, e pãozinho da Atalaia do Campo
3- Falar do granito, dos comentários e partir pedra (limite máximo de 30 minutos, sem direito a descontos)
4 - Passar directamente ao cabritinho e ao vinho, entremeado com uma boa conversa sobre mulheres, futebol, copos e política. Necessariamente por esta ordem. E depois, o futuro o dirá.
Para já mantinha o granito em silêncio até ver, e enchia o copo até não mais poder.
Portanto, datas e local para o jantar, sugiro o fim-de-semana do feriado (o próximo), talvez no sábado. Aceitam-se inscrições. O local do crime à escolha, e a participação livre, especialmente de mulheres bonitas que é coisa em que o granito é de uma pobreza desalmada.
…ainda os comentários
1- À partida, discordei instintivamente da abolição das ditas caixinhas. Tal como o Pelejão, penso eu, a reacção à queima-roupa foi mais por (de)formação profissional do que racional. Depois, deixei arrefecer o impacto inicial, destranquei o hermetismo dos princípios e desatei a pôr tudo em causa…
2- Não nego que me provocava um tremendo desconforto o nível baixo, reles e totalmente desprovido de sentido a que chegavam algumas trocas de opiniões. Principalmente quando insistiam mais no ataque pessoal, anónimo e insultuoso, do que no debate do conteúdo do post propriamente dito. Muitas foram as vezes em que a discussão perdeu todo o sentido de lógica e valor para se transformar numa guerrilha cobarde promovida por snippers camuflados. Estava aqui encontrado um argumento pró-abolição, essencialmente porque, por um lado, qualquer um tem direito ao seu bom nome e, por outro, não reconheço qualquer legitimidade a quem faz declarações públicas sob anonimato.
3- É indiscutível que a troca de opiniões em sede própria, e mesmo uma boa e inteligente picardia, enriquecem tremendamente o blog. Ver o Granito assim despido desse linguajar, imerso num estranho silêncio, parece-me claramente contrário à filosofia e mística que esteve subjacente à sua criação. Além do mais, dependendo do pé que saía primeiro da cama, ou simplesmente desdenhava de certos comentários com um sobranceiro desprezo, e isso parecia bastar-me, ou então entrava na barafunda e dizia de minha justiça. Esta liberdade de fazer uma coisa ou outra parece-me muito mais justa do que este silêncio. Cá estava um argumento contra a abolição dos comentários.
4- Porém, para o mal e para o bem, o Granito ganhou a "notoriedade" que se sabe e percebia-se que a regularidade das visitas e a acutilância dos comentários colocavam um simples blog num patamar que já não tinha nada de simples. Houve alturas em que dei por mim a pensar no Granito como quem pensa num jornal, com as inerentes regras, limites e filosofias editoriais. Partindo desta abordagem, nunca num jornal se publicariam alguns escritos que aqui deram à estampa nas caixas de comentários. No limite, por uma mera questão de bom-senso ou bom-gosto. Mas essencialmente por uma questão de princípio e seriedade. Ou seja, nos jornais publicam-se direitos de resposta, cartas de leitores, e outras opiniões várias mas sempre até um certo limite e com os seus autores claramente identificados. Para exemplificar gostava de ter agora aqui à mão um texto de Fernando Palouro Neves onde ele justificava a sua recusa em continuar a alimentar uma discussão entre duas pessoas, que se alongava há várias semanas no Jornal do Fundão através do espaço do leitor, mas que, entretanto, já descambara para o insulto pessoal e que nada de mais (sério) acrescentava.
5- A conclusão que me é possível tirar disto tudo é que por mais que queiram escudar-se na liberdade de expressão simplesmente para insultar, caluniar e denegrir sob anonimato, devem ser levantados limites. Quais? Bom, aqueles que cada um dos escribas entender. Proponho que cada um dos pedreiros dê a liberdade que entender aos seus posts, através das várias ferramentas que o Blog dispõe: ou impedir os comentários a um determinado post, ou impedir comentários anónimos, ou até mesmo ser o próprio a usar do seu discernimento e, em último caso, simplesmente apagar comentários que sinta que ultrapassam os seus limites. É algo discricionário mas penso que seja o melhor sistema.
Um grande abraço a todos
Mexia, o divisor
A Rebelião Continua...
Camaradas Graniticos em Geral, Camarada Pelejão em Particular:
Antes de mais devo dizer que a tomada de atitude em relação aos comments não se tratou de "incómodo pessoal", pois nunca neste blog me atacaram gratuitamente, nem "defeito profissional", uma vez que não tenho nem nunca tive a pretensão de instaurar uma qualquer legalidade em terras graníticas.
Tomei uma posição, isolada ou não, pois não compreendo a razão de dar voz ou, neste caso, espaço, a uma oposição sem rosto.
Continuo a defender que as nossas "fronteiras" sejam controladas. E não estamos já no campo do comentário ao post em si. Os últimos comentários eram já de índole pessoal, verdadeiros ataques aos autores dos posts, membros da picareta.
Concordo que haja sempre um quota de exposição aos ataques quando se escreve (embora ache que não o tenhamos de suportar numa coisa que é nossa...), mas toda a gente que aqui é escreve tem um nome, uma existência...se não gostarem do que escrevo podem chegar ao pé de mim e perguntar, refutar, bater-me, qualquer coisa...o mesmo já não posso fazer a quem me comenta, certo?...quem comenta tambem está a escrever, mas apesar do que escreve existir o seu autor é ficção...há aqui uma certa desigualdade de armas...
Pelé, lembras-te do "imberbe"? hehehe...
Abraços
P.S.: Qualquer um dos membros "administradores" pode desfazer o que eu fiz.
O silêncio dos inocentes
Acho isso uma injustiça que não se resolve apenas com o expediente de publicarmos os comentários que nos enviarem por e-mail, devidamente assinados e identificados, com registo notarial e tudo.
Para mim a opção legítima de alguém não querer ver os seus textos comentados é bastante para assegurar uma liberdade de expressão sem máculas (e existia essa opção no programa de edição), e o argumento de quem nos quiser insultar noutros posts, aventado pelo Malvado, não chega para justificar esta decisão que só o vincula a ele, e porventura a quem concorde com ele.
Pela minha parte não podia deixar de manifestar o total desacordo com esta decisão, que só tem explicação pelo incómodo pessoal e por um excesso legalista, que é decerto causado por um defeito de formação profissional :)
É que amigo Malvado, o granito é de facto nosso, daqueles que para eles contribuem para ele, mas não é um condomínio fechado, guardado por dobermans e câmaras de tele-vigilânicia e o facto de aceitarmos comentários; bons, maus, jocosos, ejaculativos e iracundos só contribui para enriquecer a pedreira, e para nos dar mais estofo.
Sem a possibilidade de utilizar a caixa de comentários, nós próprios (os "proprietários" intelectuais do blogue), ficamos mais pobre de recursos, e o granito fica mais árido e umbiguista.
Ás provocações sem sentido e diarreias verbais só passamos cavaco se quisermos, e também temos esse direito. Não acredito numa liberdade vigiada e "editada", pelo menos aqui nesta pedreira. Por isso vou tentar reunir uma maioria qualificada para corrigir essa medida.
De resto, parabéns a todos (em especial ao Ricardo e ao Malvado), pelos excelentes momentos de leitura que me proporcionaram, e que só tenho pena de não poder ter comentado em local próprio.
Um abraço
Santos - Teatro...Prática ou Fuga?
O teu texto que prefere a prática é muito giro. Começei por ficar aliviado depois de perceber que falas de ti. Gostei. A tua visão do estado de sitio em que se encontra o teatro é ao mesmo tempo ternurenta e violenta. Quando referes aquilo que o poder faz ao teatro... nunca podia estar mais de acordo. Já não estou de acordo quando clamas pelos actores, quando os criticas dessa maneira... cuidado, estás a falar de ti! Não há pior actor do que aquele que reclama dos outros aquilo que não faz.È desde logo um mau colega. Mas... certo, eu percebi que não gostas de citações corporativistas, que és diferente, único. A tua visão é revolucionária, cheia de tudo e vazia de nada certo? Estás fora do sistema, podes criticá-lo, não lhe deves nada nem ele te deve nada a ti. É óptimo para ti e muito mau para o público que dificilmente verá um dia a tua clara e transparente representação do terrorismo teatral, da morte no palco, do actor que mente tão descaradamente que nos faz acreditar que é ele mesmo, ali, à distância do cheiro e da mão. Subscrevo a tua visão intensa do ser-se actor num teatro diferente, subversivo, actuante. Um actor conhecedor do mundo que intervenha com a sua arte para o melhorar. Pergunto: quando o actor faz rir ou chorar, melhora o mundo? Mesmo que as razões porque faz rir ou chorar tenham simplesmente o objectivo de fazer rir ou chorar? Eu acho que o bom teatro é aquele que nos desperta sentimentos, aquele que me faz sentir o actor em mim próprio, aquele que me faz rir ou chorar de mim próprio... percebes? O teatro como processo industrial tem esse problema: pode transmitir sentimentos mesmo mal representado, ou melhor, mesmo sem rigor. Se vou ao teatro e consigo rir é óptimo, se consigo chorar é óptimo. Sinto que estou vivo. Será que só por isso tenho de me distanciar dos sentimentos e desatar a avaliar técnicamente o actor? a descobrir os seus erros? as suas incoerências? mesmo aquelas inerentes ao facto de ele estar num grupo do sistema? digo NÃO.
Eu percebo a angustia, percebo a revolta. Não percebo a desistência, a fuga de ti próprio. Não percebo como, por exemplo, não entendes a revolta dos outros.Não percebo porque é que não fazes teatro. Vi-te uma vez e confesso, gostei daquilo que me prometeste. Mas assim, estou a perceber que poderás vir a ser, como tantos outros actores falhados, um critico ácido, azedo, pulverizador quimico de uma arte que o não compreendeu. Adivinho naquele teu texto, um defensor envergonhado de causas. Causas que, acho eu, não percebes. E não percebes porque não falas de amor, não falas de paixão, não falas de solidariedade, não falas... mas falas de morte. A propósito, conheces aquela história do actor e encenador do Porto (penso que o conheces) que pediu um subsidio para representar a sua própria morte em palco? È loucura ou redenção? Loucura ou excentricidade? Loucura ou megalomania? E quem pagava o enterro? É verdade, o enterro fazia parte dos custos de produção! Felizmente ainda não se patrocinam subsidios em directo, ainda por cima em representação única. Bem, seja como for não acredito que subscrevesses esta ideia ainda que ela seja o teatro do fim que tu defendes. O teatro na sua máxima representação da vida: a morte.
Apesar de não estar totalmente de acordo, confesso que gostei de ler o teu texto. Revela reflexão, desperta o debate ainda que de pressupostos tristes e de uma abordagem demasiado deprimida e angustiada. Já não gostei nada do outro em que assumes o papel do critico de teatro. Ainda por cima falando dos amigos. Por mais que gostes do encenador, ele não precisa que tu lhe chames nomes. Não acredito que ele goste que lhe chames mestre do teatro português. Além de que esses títulos normalmente só fazem mal. Não é? Mas pior do que isso, foi a defesa daquilo que no texto da prática criticavas ferozmente. Afinal já existem mestres; afinal já existem actores bons (mesmo no sistema); afinal aqueles que se revoltam apenas querem o poder? Ainda por cima não o sabem tomar. Já te perguntaste se eles o queriam mesmo? Por melhor que tenha sido o espectáculo (e acredito que tenha sido bom) não acredito que seja suficiente para de repente mudar drásticamente o teu pensamento tão profundo da prática. Quem é que agora está a ser incoerente? A não ser que haja aqui qualquer coisa que não compreendo... a causalidade. Foi o espectáculo que te motivou o texto, ou o texto que te levou ao teatro? Aquele teatro que apenas sobrevive para justificar os dinheiros públicos - subsidios - aquele teatro que vive do engano, não da mentira porque essa faz parte da arte. Aquele teatro que alimenta os tais animais de secretaria, vampiros da arte que ao mesmo tempo amordaça e trata mal. Já sei... o pior do teatro são os actores. Tudo seria melhor, se não fossem preciso actores que pensassem por si. O teatro era melhor. Onde é que eu já ouvi isto? Quero acreditar, por pior que seja a razão, de que o verdadeiro autor do texto da prática não é o do mesmo tempo da outra vez. Senão lá vou ter que dizer: hipocrisia... outra vez.
Finalmente: será que te vou ver de novo a fazer teatro? Mas sou sincero: quero ver-te no teu teatro não naquele.Só assim poderás ser encarado como um actor honesto que defende causas, que mais não sejam, suas. E já não é pouco!"
Enviado por email por J. Santos em 22/10/2004
quinta-feira, outubro 21
Marta Amaro - Orlando Manuel Cardoso
Vem isto a propósito do caso Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
Nasci e tenho vivido num pequeno concelho (Pombal) do Litoral-Centro (Distrito de Leiria). Não milito em nenhum grupo partidário. Sou um simples cidadão nascido seis anos antes do 25 de Abril de 1974. E como cidadão, ingénuo a pensar que haveria liberdade de expressão e de opinião, criei em Julho passado um "blog" na Internet que pretendia ser um espaço de reflexão e de debate de ideias, com críticas construtivas, sobre que está a acontecer na minha Terra. Nomeadamente sobre a actividade da respectiva Câmara Municipal e outras instituições. Esse "blog" num espaço de dois meses registou mais de 6.700 visitas, tendo sido comentado em grande >número por outros cidadãos/munícipes.
A respectiva autarquia, presidida pelo social-democrata Eng. Narciso Mota, nunca usou o princípio do contraditório. Apesar de reconhecer que alguns dos temas abordados tinham a sua veracidade, alterou alguns procedimentos, dando razão ao que por lá se escrevia.
Reconhecendo que o "blog" era incómodo para o Poder (leia-se, Câmara Municipal), o senhor presidente entendeu que a melhor forma de usar o >"contraditório" era acabar com o mesmo. Vai daí, entrou em contacto com a >direcção/administração da empresa onde eu trabalhava e denunciou a sua >existência, fazendo ver que o "blog" era "gerido" em horas de expediente.
A direcção da empresa de imediato, e justificando que aquela situação lesava a relação institucional com a Câmara Municipal, até porque necessitava desta para legalizar algumas situações pendentes, despediu-me.
Isto, não argumentando com falta de profissionalismo ou de produtividade. Mas sim, porque o senhor presidente da Câmara assim os contactou para o efeito. Esclareci a situação e comprometi-me a eliminar de imediato o "blog", o que foi feito e aceite. Precisamente um mês depois, e pelo meio >alguns encontros realizados entre o presidente da Câmara e a >direcção/administração da empresa, fui novamente confrontado com o despedimento. E perante duas opções: instauração de processo disciplinar ou demissão voluntária, optei pela segunda.
Ou seja, a intervenção do senhor presidente da Câmara Municipal de Pombal neste processo é um facto. Tanto o é que um dos seus vereadores afirmou perante algumas pessoas "já acabámos com o blog".
Esta situação é notoriamente idêntica à que aconteceu com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua proporção, obviamente. Mas, com um senão... o meu futuro. Estou desempregado, com duas crianças de 20 meses para criar, casa e carro para pagar. E esposa também desempregada. E tanto mais que, ainda há dias, ouvi da boca de um eventual empregador: "reconheço que és a pessoa indicada para o meu projecto, mas quando o senhor presidente da Câmara soubesse, caía o Carmo e a Trindade. E eu não quero ter problemas com esse senhor".
É triste que 30 anos depois de uma revolução, ainda haja quem de uma forma nojenta e vergonhosa, censure as vozes discordantes para que estas não expressem livremente as suas opiniões.
Com os melhores cumprimentos
Atentamente
Orlando Manuel S. Cardoso "
Enviado por email por Marta Amaro em 21/10/2004
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Caríssimos camaradas:
Uma vez que a possibilidade de publicar imagens na página é hoje uma feliz realidade, gostaria de deixar o repto, também para os comentadores da realidade através da imagem, para irem deixando aqui as suas opiniões.
Sublinho que o programa necessário para tal é o HELLO e está disponível em www.hello.com
Abraços
Tiago Bartolomeu Costa - O Melhor Anjo
Vê no Melhor Anjo.
Um abraço, tiago "
Enviado por email por Tiago Costa em 20/10/2004
terça-feira, outubro 19
Os PSD estão completamente loucos OU será que ninguém disse a esta malta que Portugal é uma democracia OU Sampaio abre os olhos, esta malta é fascista
Primeiro veio o Pedro, o Vazio...esse deu um novo significado à insignia P.M., Primeiro-Mentecapto. Nada a que já não estivessemos habituados...era tudo uma questão de tempo e ele havia de se demitir...não se demitiu...
O Avião
E que bom é andar na rua,
Sabendo que o avião que passa ruidosamente,
Não vai bombardear-nos de propaganda!
Granito@oninet.pt
Bilal Digital 3
Depois da estreia em França em Março deste ano e sem estreia anunciada no circuito nacional, L’Immortel chegou a Portugal integrado no abundante cartaz da 5ª festa do cinema francês a decorrer durante o mês de Outubro, nos cinemas S. Jorge e um pouco por todo o país.
Para quem conhece o cineasta desenhador e a sua fabulosa capacidade de criar mundos perpendiculares, será bastante dizer que a adaptação ao cinema da trilogia “Nikopol” é a mais fiel e ambiciosa das três já realizadas por Bilal, envolvendo mais de 200 infográficos conceituados, que durante três anos animaram as 1600 vinhetas do story-board desenhado pelo realizador.
Ao fabuloso universo da animação digital vêem juntar-se a belíssima Linda Hardy, (foto em baixo), no papel de Jill, a “Mulher Armadilha” de “carne e osso”, e Thomas Kretschmann, como Nikopol, entre outros.
Para quem não conhece o trabalho do realizador natural de Belgrado será talvez importante referir que a acção se desenrola em Nova Iorque, no ano de 2095, e que, na maravilhosa e rica encenação perpendicular da cidade, coexistem as oblíquas personagens humanas, humanóides, mutantes e extraterrestres, mas a entrada em cena de uma entidade divina, um dos criadores do mundo, vem destabilizar o débil equilíbrio de poderes entre os governantes da cidade e uma empresa de tráfico legal de órgãos.
Jill, uma mutante em transformação, é apanhada numa das rusgas organizadas pela prospecção de órgãos e é o único ser com poder para ajudar Horus, a divindade imortal habitante da pirâmide que se abateu sobre a cidade, mas o ponto de ligação entre os dois terá que ser Nikopol, um activista revolucionário encerrado numa prisão criogénica de alta segurança.
A utilização de personagens totalmente criadas e animadas em formato digital permite aqui ao realizador uma muito maior aproximação ao universo livre do desenho, ganhando assim a acção, uma riqueza e diversidade só ofuscadas pelo facto de, neste campo, ainda não ter sido atingida a perfeição. Assim, os movimentos das personagens fictícias aparecem muitas vezes presos ao milésimo de segundo de atraso digital, o que diminui, por um lado, a realidade do quadro, mas que reforça, por outro, a componente ficcional desenhada e assumida pela equipa de realização.
De qualquer forma, o sinal está dado, Bilal entrou de vez na era digital, com tudo o que isso poderá implicar em realizações futuras e que se começou a desenhar aqui, em L’Immortel.
Mas a festa do cinema francês não se ficou por aqui. Para além do último Bilal e de um vasto cartaz de ante-estreias nacionais nos cinemas S. Jorge e em cidades como Faro ou Santarém, que incluiu títulos como o 2046, de Wong-Kar-Wai, ou Notre Musiche, de Godard, que, curiosamente, inclui na sua banda sonora nomes como Meredith Monk ou Arvo Part, entre outros, teve ramificações para a televisão e para outras salas da cidade, acolhendo, a Cinemateca, o ciclo “A música no cinema francês” e a sede do Institut Franco-Portugais, o ciclo Bilal, que nos presenteou com os filmes anteriores do realizador jugoslavo.
Para quem não conhecia a carreira cinematográfica do desenhador-realizador, a apresentação dos seus dois primeiros longa duração, (Bunker Palace Hotel, 1989 e Thyko Moon, 1992), foram garantidas em língua original, sem legendas, na sede do instituto, na Av. Luís Bívar, dias 18 e 25 de Outubro, respectivamente.
Bunker Palace Hotel, rodado inteiramente na sua cidade natal, Belgrado, será talvez o mais estranho e inquietante dos seus registos para cinema, o primeiro, em que a evidente falta de meios e técnicas de efeitos especiais o conduz à criação de um universo claustrofóbico povoado de ruídos constantes e sombras, numa aproximação clara aos clássicos de ficção-científica russos, como Tarkovski ou mesmo Sokurov.
A sua atracção pelas soturnas personagens dictatoriais leva-o, aqui, a encenar um hotel-bunker subterrâneo, onde se encontram as principais figuras de um regime decadente para escapar à perseguição rebelde da superfície, com os autómatos humanóides serviçais da unidade e a presença inesperada de uma rebelde no último reduto do inimigo.
A acção desenrola-se, quase na totalidade, em ambiente fechado, criado em estúdio, mas denotam-se já, muitas das linhas orientadoras das suas experiências futuras, tanto a nível de capacidade de cenários, como de exploração de personagens, e, obviamente, de todo um ambiente de grande intensidade psicológica centrado nessas mesmas personagens e numa visão algo pessimista do futuro da humanidade.
Em Tykho Moon, a aventura dos cenários é assumida, e Bilal apresenta, aqui, alguns dos cenários mais bem conseguidos da história do cinema, quase, arrisco-me a dizer, na linha de Metropolis, de Lang, numa imagem de colónia lunar agonizante e resgatada à Terra por um ditador absoluto, cuja existência, depende de um personagem errante, amnésico há mais de vinte anos, Tykho Moon.
Para amantes de realidades oblíquas desenhadas, a não perder, dia 25 de Outubro, às 21 horas no Institut Franco-Portugais.
Entrada Livre.
Pedro Siesta Lopes
Alguém acredita nisto?!?
Não há memória, na história da democracia portuguesa, de um chefe de governo ter, publicamente, desmentido uma sesta! Não sei o que será pior: se o precedente aberto, se o irritante (porque revelador de uma confrangedora insegurança) tique de, por tudo e por nada, Santana e sus muchachos deixarem-se arrastar para a peixeirada verbal na praça pública? Sugestão: Santana, para a próxima faz como os mexicanos e usa um grande sombrero para que ninguém te tope.
segunda-feira, outubro 18
Propriedades
Tempo de antena II.
Mudando de assunto: Malvado se souberes alguma coisa sobre direitos de autor podes afixar um "post" acerca da propriedade intelectual? Será que é legítimo capitalizar uma coisa que nem sequer é quantificável, passo a citar: "Se os vossos actos, os vossos sentimentos, mesmo as vossas ideias, não são mais que simples deslocamentos moleculares, um trabalho químico e mecânico comparável ao da digestão, em nome de quem, em nome de quê, quereis que eu vos respeite?" citado por Bruno.
Acerca da caixinha que mudou o mundo granítico- a caixa comments
Camaradas pedreiros:
Depois de acesa mas educada discussão com alguns camaradas pedreiros "renovadores abolicionistas" decidi alterar o meu sentido de voto, acabando por concordar com os argumentos apresentados.
Como tal estou de perfeito acordo na abolição da dita caixinha. Acabou o direito de antena dos parasitas. Que venha agora quem vier por bem.
Proponho assim, e deixo à discussão, o convite para o camarada Dirigente da Oposição.
Abraços sinceros para todos.
E fez-se Luz...
Do Tempo de Antena
Camaradas Graniticos:
Olhe, desculpe, a Net tem dono?
Uma das possíveis tendências de desenvolvimento dos veículos de informação poderá passar pelo apelo ao consumidor comum (que agora tem um P.C. e um Minidisc) que abdique do seus discos de fixação de informação. Prevê-se que com o avanço tecnológico das ligações "wireless", a velocidade de transmissão de dados suba de tal modo que será possível descarregar um filme em "tempo real" do filme de um servidor/antena que cuja função seria divulgar conteúdos. Assim, eu poderia, com uma contribuição simbólica, ouvir um albúm no dia em que ele saía para o mercado não podendo no entanto gravá-lo porque tinha ficado tão entusiasmado com as notícias, que já não tinha gasto 300€ num disco externo. Ora para o consumidor comum isto são óptimas notícias. Para os criadores de produtos culturais a coisa já não é bem assim.
Se se tiver em consideração a noção de propriedade intelectual, adivinho para esta hipotética situação um mais fácil controlo da informação que circula. Posso pensar que se os génios que estão por trás da legislação dos direitos de autor entrassem em conversações com os maiores produtores de "software" e "hardware" para, por exemplo, criarem uns neologismos do tipo: espécie de servidor autorizado ou secretaria da fiscalização de conteúdos, a liberdade de informação a que assisto hoje poderia entrar em declínio.
Este é um cenário um pouco catastrófico e mais não digo em relação a supostas conspirações até porque confio nos hackers e crackers europeus e japoneses.
Propriedade Intelectual?
Tenho ideia de que a primeira oficialização da noção de direitos de autor surgiu aquando da realização de uma exposição universal de engenhos, engenharias e engenhocas. Os organizadores desse evento prometeram aos participantes que as suas inovações não seriam plagiadas ou reproduzidas. Curiosamente foi por volta desta altura que surgiu o conceito de design. É pacífica a aceitação da ideia de que a primeira tendência de design moderno foi um acto de socialmente consciente, facto este que permitiu que as suas atitudes originassem novas reflexões de década para década, de local para local. O Arts and Crafts assentou nos modos de produção manuais para construir peças únicas, lutando deste modo contra uma produção industrial que começava a "escravizar operários" que passavam o dia a repetir a mesma flexão de membros superiores. Era então um movimento de design de esquerda.
Na minha 1ª aula de Grafismos Especializados falou-se de um mapa da pirataria onde Portugal estava pintado de vermelho assim como a China e mais alguns países de terceiro mundo. Os Estados Unidos estavam azúis e os países do norte da Europeu também tinham cor de céu. Sabendo que a principal fonte de capital dos E.U.A. é a venda de direitos de autor, ficou na minha cabeça um dilema: será que lhes devemos seguir o exemplo e temos de aumentar a fiscalização às cinematecas, discotecas, empresas farmacêuticas e outras empresas, associações ou até mesmo privados? ou será que nos devemos insurgir contra propriadade intelectual, abdicando de alguns direitos que temos agora em nome da liberdade de todos?
Para o meu caso já resolvi o problema: vou ripar, copiar, plagiar... Apropriar-me-ei da informação que me interessa e da que não me interessa enquanto posso. A Guerra do Conhecimento já não está na TV nem nos meios impressos. A grande batalha está a chegar e só vai lutar quem souber que ela existe.
Um amigo disse-me que alguém disse: "Tudo pertence a quem o melhore."
P.S.: Acabaram com os comentários? Parece-me que quem não quisesse receber "feedback" podia fazê-lo sempre que achasse bem. Não havia uma opção qualquer que se chamava, "Do not allow comments on this post."? Que fique claro e oficializado: não concordo com esta medida.
Abraços.
domingo, outubro 17
Ramos Rosa: O viajante intelectual
Fotografia publicada no jornal Público de 17-10-2004
“Não posso adiar o amor para outro século (...)
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação.”
António Ramos Rosa
António Ramos Rosa, poeta do presente absoluto e da «liberdade livre» é uma das vozes incontornáveis da literatura portuguesa. A simplicidade, a naturalidade ou simplesmente a depuração não se confundem numa poesia que deriva sobretudo do encontro com o mundo e com os outros. A originalidade e riqueza de imagens tácteis e visuais testemunham essa busca de uma unidade universal em que o poeta participa, consciente da questão do dizível e do indizível. Afirmação de vida, assim podemos caracterizar a poesia de quem, para além de crítico, ensaísta ou tradutor, se considera, acima de tudo leitor: “A poesia, tal como a própria crítica, é uma leitura, uma criação de um espaço. Uma leitura que requer muita atenção, mas que é também uma invenção”.
Tendo traduzido poetas, como Éluard ou Roberto Juarroz, coube-lhe um largo espectro, desde o teatro à psicanálise, da ficção ao ensaio: Marguerite Yourcenar, Nicola Abbagnano, Foucault, Gide, Brecht, Camus, Simeon Potter, entre muitos outros. Seja como crítico ou ensaísta, seja como poeta ou tradutor, António Ramos Rosa não hesita ao afirmar que sempre se deixou entusiasmar e influenciar apaixonadamente pelas palavras de consagrados ou de estreantes: “Todos os escritores que admirei e que li me marcaram. Não tenho receio ao dizê-lo porque não tenho medo das influências”.
O trabalho no comércio, ou as explicações, constituem talvez apenas uma série de acidentes de percurso numa vida onde a poesia, fruto de um feliz encontro, assume um papel determinante. “Eu não sei se procuro. O Picasso teve talvez melhor resposta: «Eu não procuro. Encontro».”
Foi esse encontro que o fez renunciar a tudo o mais em nome da poesia e nele a biografia foi-se escrevendo sob a forma de bibliografia:
Sou um funcionário apagado
Um funcionário triste
A minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
Tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado de um dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
(O Grito Claro)
casa de escritas- escritório de Ramos Rosa em Lisboa
O olho lírico de Ramos Rosa levou-o a criar um campo semântico onde se privilegiam palavras tão elementares como pedra, árvore, mão, insecto, água porque “na poesia o essencial não será talvez exprimir qualquer coisa conhecida mas tornar evidente, actual e presente algo que é insondável”. Essa desmaterialização das coisas é também fruto de uma íntima consonância com o universo, tornando-se também o poeta corpo do mundo: “Cada poema foi feito num determinado momento e é uma reflexão desses instantes, da minha relação com o mundo que guardo na memória e que tento fixar com palavras”. Este enraizamento na Terra, tão elementar e autêntico, presente já no primeiro livro O Grito Claro (1958), fá-lo reconhecer com alguma emoção: “Um das coisas que mais me marcou foi, em 1957, ainda eu não tinha publicado o meu primeiro livro, Adolfo Casais Monteiro me ter dedicado as seguintes palavras no Jornal do Brasil: «António Ramos Rosa impõe-se à primeira vista, acho eu, como um poeta de profunda autenticidade; nos seus versos não há uma imagem que não venha dum lugar ‘habitado’ – quero eu dizer: que não tenha sido alimentada por qualquer coisa muito viva dentro dele, seja na ideia, seja no coração, seja no instinto. São ‘verdadeiros’, e falam da vida sem deixar de falar de experiências íntimas. São sinais duma luta pela expressão, e não exercícios, nem habilidades de circo. São poesias»”.
O universo poético de António Ramos Rosa consiste numa exploração ontológica, numa apropriação de espaços através da palavra poética, mesmo porque “um poema não é um tema mas, muito mais do que isso, é a maneira como se aborda um determinado tema. Talvez seja por isso que Rimbaud chamou à poesia «liberdade livre»”. Tendo utilizado essa expressão como título de um dos seus livros, Ramos Rosa conta com algum humor um dos episódios que mais o marcou: “Estava eu em Faro e tinha por costume ir todos os dias à Livraria Silva, onde estava exposto este meu livro. Convém também acrescentar que eu já tinha um cadastro político desde muito novo. Um dia, um agente da PIDE deparou-se com o livro na montra da livraria e apreendeu-o. No entanto, qual não foi a minha decepção quando o livro foi devolvido por não ter nenhuma matéria subversiva!”
Preocupado em ser ‘corpo do real’, mediado pelo corpo da terra, pelo corpo da mulher ou pelo corpo da palavra, o poeta reflecte sobre a questão do olhar, a par de uma aguda consciência da fugacidade do tempo: “Quando nos habituamos a ver as coisas inseridas no seu respectivo contexto acabamos por não as conseguir ver na sua originalidade”. Talvez por isso reconheça a sua simpatia por filosofias como o Budismo Zen que lhe serve de referência não só para o seu ofício de poeta, mas também para os desenhos que faz e que lhe dão um novo fôlego: “A cultura oriental, neste caso o Budismo, tem um ensinamento muito interessante que se aplica bem a esta situação: imagine um arqueiro. Esse arqueiro tem uma flecha. A melhor maneira de o arqueiro acertar no seu alvo não é de forma alguma comprimir-se, mas sim lançar a flecha o mais espontâneo possível. É assim que eu faço os meus desenhos.”
Essa necessidade de respirar as palavras, tão natural quanto espontânea, justifica a sua reflexão sobre o olhar: “O que é ver, realmente, qualquer coisa? É ver não através de uma cortina mental, mas com espontaneidade e abertura”.
Tido como um dos grandes poetas contemporâneos, Ramos Rosa faz 80 anos no dia 17 de Outubro, aos quais se poderiam somar mais de 80 livros publicados. As palavras são a sua dádiva, o grito de liberdade que nos faz, enquanto homens, participar dessa felicidade exultante e viva: “O homem é um grito, e se o poeta não sabe dar esse grito primordial não se poderá considerar um poeta.”
Nota Biográfica
Nascido a 17 de Outubro de 1924, António Victor Ramos Rosa é natural de Faro. Trabalhou como empregado de escritório, desenvolvendo simultaneamente o gosto por autores portugueses e estrangeiros, sentindo-se logo fascinado com a modernidade da poesia de José Régio e Fernando Pessoa. Em 1945 vai para Lisboa, regressando dois anos depois a Faro, tendo integrado as fileiras do M.U.D Juvenil. Outros poetas passaram a ser objecto da sua atenção, tais como: Carlos Drummond de Andrade, António Machado, Pedro Salinas, Éluard, Bonnefoy, Wallace Stevens, entre outros. Regressado a Lisboa, leccionou Português, Francês e Inglês, para além do emprego numa firma comercial, e iniciou a carreira de tradutor para a editora Europa-América. O crescente interesse pela literatura levou-o a colaborar com vários jornais e revistas, acabando por fundar, em 1951, a revista Árvore, uma das mais marcantes da época. Co-dirigiu ainda as revistas Cassiopeia e Cadernos do Meio-Dia, sinais de um crescente interesse pela actividade literária. Como poeta, estreou-se na colectânea O Grito Claro (1958) e, em meados dos anos sessenta, radicou-se em Lisboa, onde publicou Viagem Através Duma Nebulosa (1960). Ramos Rosa, também tradutor, publicou dezenas de volumes de poesia e alguns importantes volumes de ensaios. Tem recebido numerosos prémios de poesia nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa (1988) ou o Grande Prémio Internacional de Poesia, no âmbito dos Encontros Internacionais de Poesia de Liège (1990).
Ácido na fervura
Georges Bernanos
quinta-feira, outubro 14
José Vilhena, o provocador
Foi esta semana distinguido, com o único prémio ‘sério’ de O Inimigo Público, uma das vozes considerada mais incómoda da segunda metade do século XX. Franco atirador da literatura, humorista temido, pintor, José Vilhena semeou milhões de gargalhadas e fez da ironia uma arma de arremesso contra a hipocrisia. Apesar de já ter sido processado seis vezes depois do 25 de Abril, a voz de Vilhena manteve-se incisiva e crítica perante a realidade que nos cerca. Salazar, Caetano, Sá Carneiro, Eanes, Soares, Cavaco, Guterres, Santana Lopes, entre muitos outros, são a sua matéria de criação. Um dia, com o brilho nos olhos próprio de quem conhece o valor da palavra, disse-me que a política é uma porca que, de quatro em quatro anos, pare uma ninhada de deputados. Talvez porque, segundo Vilhena, um bom humorista está muito ligado a uma crítica política, a uma crítica de costumes e a uma crítica dos poderosos.
Onde é que o humorista vai buscar inspiração para os seus trabalhos?
Eu vivo muito à custa da televisão. A televisão é um motivo de inspiração. Hoje a televisão é o poder, nós já não somos governados por um governo ou pela Assembleia da República, nós somos governados pela televisão. Hoje a televisão é quem manda neste país.
E qual é o laboratório do humorista?
Muitas vezes é a própria vida, as relações que se estabelecem, outras vezes são as coisas que se lêem.
A ideia é um relâmpago ou é trabalhada?
Às vezes, a ideia surge por acaso, outras vezes é preciso trabalhar a ideia. As coisas não surgem por inspiração divina. O treino diário acaba por ser fundamental.
> Antes e depois do 25 de Abril José Vilhena sempre zurziu a tv. O Canal Zero, um livro que 0 autor assumiu como "Um Modesto contributo para o estudo da idiotia em Portugal".
Mas afinal quem é o José Vilhena?
Nasci em Figueira de Castelo Rodrigo. Vim para Lisboa muito novo onde fiz o terceiro ano do liceu, depois mudei-me para o Porto onde concluí a escola. Faço a Faculdade de Belas Artes no Porto, mudo-me outra vez para Lisboa, onde concluo o quarto ano de Arquitectura. É nesses anos que começo a trabalhar nos jornais e a fazer bonecos, até hoje.
As pessoas têm ideia do José Vilhena como o verdadeiro anarquista. Esta ideia corresponde à verdade?
Corresponde à realidade e eu sei que é essa a imagem que o público tem de mim.
Humorista, ilustrador, escritor, editor e pintor. De todas estas facetas, qual é que prevalece?
Se eu fosse muito rico só pintava. A minha grande paixão é a pintura.
Quantas vezes é que foi processado?
Já depois do 25 de Abril fui processado 5 ou 6 vezes, mas o processo maior foi o da Carolina do Mónaco, em que ela pedia 75 mil contos, no entanto, felizmente, venci em tribunal. Depois tive outros, como o da Margarida Marante, o da Caras Lindas, da Bárbara Guimarães e da Catarina Furtado.
Acha que o português lida mal com a ironia?
Eu acho que não. A maior parte dos portugueses tem muito fair play. Eu chateei muitos políticos, como o Soares e o Cavaco. Por exemplo, o Mário Soares chateei-o de todas as maneiras e feitios e até lhe dediquei um livro. Soares escreveu-me a agradecer.
O que é para si um bom humorista?
Um bom humorista está muito ligado à crítica, a uma crítica política, a uma crítica de costumes e a uma crítica dos poderosos. Os poderosos têm a mania das grandezas e tudo isso é destruído com o humor. Quando se ridiculariza uma pessoa toda aquela proa vai por água abaixo. Foi o que aconteceu com essas vedetas da SIC que estão convencidas que são supra-sumos da inteligência portuguesa. Quando são ridicularizadas, chateiam-se, é claro.
Uma das personagens-tipo que José Vilhena criou foi a do censor. A censura incomodava-o muito?
Incomodava toda a gente, se bem que a censura nas revistas humorísticas dava uma certa abertura que não dava nos jornais. Acontecia muitas vezes eu fazer um boneco para o Diário de Lisboa e ser cortado pela censura. E depois passar no Mundo Ri.
Vilhena de padre em filmagens no Jardim das Tílias no Fundão
Curiosamente o Mundo Ri que era composto e impresso nas oficinas do Jornal do Fundão...
Não só o Mundo Ri. Também os meus primeiros livros foram compostos e impressos nas oficinas do Jornal do Fundão. Eu ía lá muitas vezes por causa disso.
Nessa revista também chateava muito os padres...
Eu acho que a Igreja sempre foi responsável por uma quantidade de atrocidades através dos tempos. Nunca se há-de livrar das patifarias que fez ao longo de dois mil anos. A Igreja católica era um apoio do Estado Novo, era um apoio do fascismo.
José Vilhena rodou um filme no Fundão. Como é que se chamava o filme?
Chamava-se O Quinto Pecado.
Qual é que era o «quinto pecado»?
A história do filme andava à volta de uns tipos que só pensavam em comer, sem nunca o conseguirem. Era um filme burlesco que tentava misturar Charlot com Jacques Tati.
José Vilhena escreveu cerca de oitenta livros. Qual é que é o seu preferido?
- Gosto muito da trilogia da História da Pulhíce Humana. Mas tenho orgulho em todos os livros que escrevi.
Sendo o José Vilhena um homem de muitas palavras, qual é a palavra que melhor fala de si?
Trabalho. Só vejo a palavra trabalho.
(excerto de trabalho publicado no Jornal do Fundão de 14-12-2002)
Capas de revistas dirigidas por José Vilhena