terça-feira, outubro 19
Bilal Digital 3
L’immortel, é o título da mais recente incursão do brilhante “desenhador de universos” no cinema.
Depois da estreia em França em Março deste ano e sem estreia anunciada no circuito nacional, L’Immortel chegou a Portugal integrado no abundante cartaz da 5ª festa do cinema francês a decorrer durante o mês de Outubro, nos cinemas S. Jorge e um pouco por todo o país.
Para quem conhece o cineasta desenhador e a sua fabulosa capacidade de criar mundos perpendiculares, será bastante dizer que a adaptação ao cinema da trilogia “Nikopol” é a mais fiel e ambiciosa das três já realizadas por Bilal, envolvendo mais de 200 infográficos conceituados, que durante três anos animaram as 1600 vinhetas do story-board desenhado pelo realizador.
Ao fabuloso universo da animação digital vêem juntar-se a belíssima Linda Hardy, (foto em baixo), no papel de Jill, a “Mulher Armadilha” de “carne e osso”, e Thomas Kretschmann, como Nikopol, entre outros.
Para quem não conhece o trabalho do realizador natural de Belgrado será talvez importante referir que a acção se desenrola em Nova Iorque, no ano de 2095, e que, na maravilhosa e rica encenação perpendicular da cidade, coexistem as oblíquas personagens humanas, humanóides, mutantes e extraterrestres, mas a entrada em cena de uma entidade divina, um dos criadores do mundo, vem destabilizar o débil equilíbrio de poderes entre os governantes da cidade e uma empresa de tráfico legal de órgãos.
Jill, uma mutante em transformação, é apanhada numa das rusgas organizadas pela prospecção de órgãos e é o único ser com poder para ajudar Horus, a divindade imortal habitante da pirâmide que se abateu sobre a cidade, mas o ponto de ligação entre os dois terá que ser Nikopol, um activista revolucionário encerrado numa prisão criogénica de alta segurança.
A utilização de personagens totalmente criadas e animadas em formato digital permite aqui ao realizador uma muito maior aproximação ao universo livre do desenho, ganhando assim a acção, uma riqueza e diversidade só ofuscadas pelo facto de, neste campo, ainda não ter sido atingida a perfeição. Assim, os movimentos das personagens fictícias aparecem muitas vezes presos ao milésimo de segundo de atraso digital, o que diminui, por um lado, a realidade do quadro, mas que reforça, por outro, a componente ficcional desenhada e assumida pela equipa de realização.
De qualquer forma, o sinal está dado, Bilal entrou de vez na era digital, com tudo o que isso poderá implicar em realizações futuras e que se começou a desenhar aqui, em L’Immortel.
Mas a festa do cinema francês não se ficou por aqui. Para além do último Bilal e de um vasto cartaz de ante-estreias nacionais nos cinemas S. Jorge e em cidades como Faro ou Santarém, que incluiu títulos como o 2046, de Wong-Kar-Wai, ou Notre Musiche, de Godard, que, curiosamente, inclui na sua banda sonora nomes como Meredith Monk ou Arvo Part, entre outros, teve ramificações para a televisão e para outras salas da cidade, acolhendo, a Cinemateca, o ciclo “A música no cinema francês” e a sede do Institut Franco-Portugais, o ciclo Bilal, que nos presenteou com os filmes anteriores do realizador jugoslavo.
Para quem não conhecia a carreira cinematográfica do desenhador-realizador, a apresentação dos seus dois primeiros longa duração, (Bunker Palace Hotel, 1989 e Thyko Moon, 1992), foram garantidas em língua original, sem legendas, na sede do instituto, na Av. Luís Bívar, dias 18 e 25 de Outubro, respectivamente.
Bunker Palace Hotel, rodado inteiramente na sua cidade natal, Belgrado, será talvez o mais estranho e inquietante dos seus registos para cinema, o primeiro, em que a evidente falta de meios e técnicas de efeitos especiais o conduz à criação de um universo claustrofóbico povoado de ruídos constantes e sombras, numa aproximação clara aos clássicos de ficção-científica russos, como Tarkovski ou mesmo Sokurov.
A sua atracção pelas soturnas personagens dictatoriais leva-o, aqui, a encenar um hotel-bunker subterrâneo, onde se encontram as principais figuras de um regime decadente para escapar à perseguição rebelde da superfície, com os autómatos humanóides serviçais da unidade e a presença inesperada de uma rebelde no último reduto do inimigo.
A acção desenrola-se, quase na totalidade, em ambiente fechado, criado em estúdio, mas denotam-se já, muitas das linhas orientadoras das suas experiências futuras, tanto a nível de capacidade de cenários, como de exploração de personagens, e, obviamente, de todo um ambiente de grande intensidade psicológica centrado nessas mesmas personagens e numa visão algo pessimista do futuro da humanidade.
Em Tykho Moon, a aventura dos cenários é assumida, e Bilal apresenta, aqui, alguns dos cenários mais bem conseguidos da história do cinema, quase, arrisco-me a dizer, na linha de Metropolis, de Lang, numa imagem de colónia lunar agonizante e resgatada à Terra por um ditador absoluto, cuja existência, depende de um personagem errante, amnésico há mais de vinte anos, Tykho Moon.
Para amantes de realidades oblíquas desenhadas, a não perder, dia 25 de Outubro, às 21 horas no Institut Franco-Portugais.
Entrada Livre.
Depois da estreia em França em Março deste ano e sem estreia anunciada no circuito nacional, L’Immortel chegou a Portugal integrado no abundante cartaz da 5ª festa do cinema francês a decorrer durante o mês de Outubro, nos cinemas S. Jorge e um pouco por todo o país.
Para quem conhece o cineasta desenhador e a sua fabulosa capacidade de criar mundos perpendiculares, será bastante dizer que a adaptação ao cinema da trilogia “Nikopol” é a mais fiel e ambiciosa das três já realizadas por Bilal, envolvendo mais de 200 infográficos conceituados, que durante três anos animaram as 1600 vinhetas do story-board desenhado pelo realizador.
Ao fabuloso universo da animação digital vêem juntar-se a belíssima Linda Hardy, (foto em baixo), no papel de Jill, a “Mulher Armadilha” de “carne e osso”, e Thomas Kretschmann, como Nikopol, entre outros.
Para quem não conhece o trabalho do realizador natural de Belgrado será talvez importante referir que a acção se desenrola em Nova Iorque, no ano de 2095, e que, na maravilhosa e rica encenação perpendicular da cidade, coexistem as oblíquas personagens humanas, humanóides, mutantes e extraterrestres, mas a entrada em cena de uma entidade divina, um dos criadores do mundo, vem destabilizar o débil equilíbrio de poderes entre os governantes da cidade e uma empresa de tráfico legal de órgãos.
Jill, uma mutante em transformação, é apanhada numa das rusgas organizadas pela prospecção de órgãos e é o único ser com poder para ajudar Horus, a divindade imortal habitante da pirâmide que se abateu sobre a cidade, mas o ponto de ligação entre os dois terá que ser Nikopol, um activista revolucionário encerrado numa prisão criogénica de alta segurança.
A utilização de personagens totalmente criadas e animadas em formato digital permite aqui ao realizador uma muito maior aproximação ao universo livre do desenho, ganhando assim a acção, uma riqueza e diversidade só ofuscadas pelo facto de, neste campo, ainda não ter sido atingida a perfeição. Assim, os movimentos das personagens fictícias aparecem muitas vezes presos ao milésimo de segundo de atraso digital, o que diminui, por um lado, a realidade do quadro, mas que reforça, por outro, a componente ficcional desenhada e assumida pela equipa de realização.
De qualquer forma, o sinal está dado, Bilal entrou de vez na era digital, com tudo o que isso poderá implicar em realizações futuras e que se começou a desenhar aqui, em L’Immortel.
Mas a festa do cinema francês não se ficou por aqui. Para além do último Bilal e de um vasto cartaz de ante-estreias nacionais nos cinemas S. Jorge e em cidades como Faro ou Santarém, que incluiu títulos como o 2046, de Wong-Kar-Wai, ou Notre Musiche, de Godard, que, curiosamente, inclui na sua banda sonora nomes como Meredith Monk ou Arvo Part, entre outros, teve ramificações para a televisão e para outras salas da cidade, acolhendo, a Cinemateca, o ciclo “A música no cinema francês” e a sede do Institut Franco-Portugais, o ciclo Bilal, que nos presenteou com os filmes anteriores do realizador jugoslavo.
Para quem não conhecia a carreira cinematográfica do desenhador-realizador, a apresentação dos seus dois primeiros longa duração, (Bunker Palace Hotel, 1989 e Thyko Moon, 1992), foram garantidas em língua original, sem legendas, na sede do instituto, na Av. Luís Bívar, dias 18 e 25 de Outubro, respectivamente.
Bunker Palace Hotel, rodado inteiramente na sua cidade natal, Belgrado, será talvez o mais estranho e inquietante dos seus registos para cinema, o primeiro, em que a evidente falta de meios e técnicas de efeitos especiais o conduz à criação de um universo claustrofóbico povoado de ruídos constantes e sombras, numa aproximação clara aos clássicos de ficção-científica russos, como Tarkovski ou mesmo Sokurov.
A sua atracção pelas soturnas personagens dictatoriais leva-o, aqui, a encenar um hotel-bunker subterrâneo, onde se encontram as principais figuras de um regime decadente para escapar à perseguição rebelde da superfície, com os autómatos humanóides serviçais da unidade e a presença inesperada de uma rebelde no último reduto do inimigo.
A acção desenrola-se, quase na totalidade, em ambiente fechado, criado em estúdio, mas denotam-se já, muitas das linhas orientadoras das suas experiências futuras, tanto a nível de capacidade de cenários, como de exploração de personagens, e, obviamente, de todo um ambiente de grande intensidade psicológica centrado nessas mesmas personagens e numa visão algo pessimista do futuro da humanidade.
Em Tykho Moon, a aventura dos cenários é assumida, e Bilal apresenta, aqui, alguns dos cenários mais bem conseguidos da história do cinema, quase, arrisco-me a dizer, na linha de Metropolis, de Lang, numa imagem de colónia lunar agonizante e resgatada à Terra por um ditador absoluto, cuja existência, depende de um personagem errante, amnésico há mais de vinte anos, Tykho Moon.
Para amantes de realidades oblíquas desenhadas, a não perder, dia 25 de Outubro, às 21 horas no Institut Franco-Portugais.
Entrada Livre.