domingo, outubro 24

Para os amantes do Documentário


De 24 a 31 de Outubro 2004

Festival Internacional de Documentário de Lisboa - Culturgest


"O doclisboa vai apresentar 8 dias de projecções em regime intensivo que nos vão ajudar a perceber, por um lado o estado do mundo (a ressurgência do cinema político, o passado enquanto conhecimento da História e das suas personagens mais singulares) e por outro, a situação do documentário contemporâneo – cuja fronteira com a ficção é cada vez mais ténue.
O cinema documental é aqui apresentado enquanto viagem iniciática ou road movie mas também como expressão íntima, de carácter (auto)biográfico. Apostámos na variedade dos temas e das escritas cinematográficas.

O doclisboa 2004 vai exibir cerca de 60 filmes, em 5 secções:

Competição Internacional Documentários de curta e longa-metragem. Selecção de filmes de maior destaque internacional, produzidos em 2003 e 2004.

Para onde vai o documentário português? [ver +]
Uma mostra de 10 filmes entre os 70 enviados ao Festival.

Foco sobre Espanha [ver +]Secção comissariada por Casimiro Torreiro (crítico do diário El Pais e ensaísta).
A ressureição do documentário espanhol, que teve lugar a partir dos anos 90, é aqui apresentada através de uma selecção de filmes estreados em salas de cinema.

Como entender o Médio Oriente? [ver +]
Secção comissariada por Marie-Pierre Duhamel-Müller (directora do festival Cinéma du Réel). Filmes que permitem um conhecimento mais profundo do conflito israelo-árabe, com obras de grandes realizadores, como Amos Gitai, Elia Suleiman e Avi Mograbi.

Sessões especiais + Master class [ver +]
Filmes extra-competição de realizadores consagrados e uma master class com o realizador de Être et Avoir - Nicolas Philibert.

Os filmes são legendados em português.
Os filmes portugueses e muitos dos estrangeiros serão apresentados pelos seus realizadores. Grande parte das projecções será seguida de um debate com os realizadores, produtores e críticos de cinema.
Competição Internacional
A secção competitiva do festival é composta por 17 longas-metragens e 12 curtas-metragens documentais de todo o mundo, na sua maioria inéditas em Portugal e premiadas em festivais.

A selecção reúne os filmes de maior relevo produzidos entre 2003 e 2004.

Destaca-se um grupo de filmes polémicos, que serviram para questionar questões políticas e de justiça nos seus países de origem: 10ème Chambre; O Prisioneiro da Grade de Ferro; Justiça; Les Escadrons de la Mort; Le Génie Helvétique; Checkpoint; Le Mur, etc. Em complemento, pode-se falar de um grupo de filmes que interrogam a história, muitas vezes para compreender melhor o presente: Santa Liberdade; The House of Saoud; Grandad’s Waking Dream; No Jardim do Mundo…

A vida do dia a dia e tudo o que é mais central no documentário estará presente numa constelação de obras muito variadas: Landscape; A Scuola; La Peau Trouée; In the Dark; The Weel; Untertage; Olhar por dentro; Fruitful Summer; The City Beautiful…

Finalmente, a arte tem um lugar privilegiado enquanto espelho do mundo: Bright Leaves; Cinévardaphoto; Sylvia Kristel – Paris; El pequeño pianista...

Da Europa à Ásia passando pela América, uma diversidade de géneros e de culturas serão visitados pelos filmes documentais a concurso no doclisboa 2004.

Origem dos filmes em Competição:
Alemanha, Bélgica, Bielorússia, Brasil, Cambodja, China, Cuba, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Holanda, Índia, Israel, Itália, Portugal, Rússia e Suíça.

Para onde vai o documentário português?
Esta secção tem como objectivo reflectir e debater o rumo da produção do documentário português durante os últimos anos. Neste sentido, o doclisboa 2004 apresenta uma mostra de dez filmes de curta e longa-metragem, seleccionados de entre 70 enviados ao Festival.

A selecção das obras privilegia uma grande diversidade de estilos e géneros: do documentário estritamente observacional ao retrato íntimo; da montagem cuidada de entrevistas à narrativa na primeira pessoa.

É interessante notar a presença de produções independentes de qualidade. Apesar da precariedade generalizada com que são feitos os documentários em Portugal, comprova-se uma vontade de filmar contra a corrente (sem os apoios tradicionais) e a capacidade de o fazer com brio.

Também é interessante referir um esboroamento das fronteiras da produção nacional. Contam-se nesta secção várias co-produções internacionais e parcerias de outro tipo: um filme de uma realizadora portuguesa (Maria de Medeiros) produzido por produtores franceses; o de uma realizadora alemã (Christine Reeh) ou o de uma realizadora inglesa residente em Moçambique (Karen Botswall) produzidos por produtores portugueses; um filme sobre a Aldeia da Luz com uma parceria luso-suiça…

Os debates que se realizam no final de cada sessão permitirão reunir elementos para um futuro encontro de produtores e realizadores portugueses de documentário.

O Prémio doclisboa / Tóbis de “melhor documentário português” será atribuído pelo júri a um dos 10 filmes presentes na secção Para Onde Vai o Documentário Português? ou a um dos dois filmes portugueses presentes na secção internacional.
Foco sobre Espanha
O ensaísta, professor universitário e crítico do diário El País, Casimiro Torreiro, vai apresentar na Culturgest alguns de entre muitos documentários estreados em sala nos últimos anos em Espanha. Eis alguns excertos do texto - A propósito de uma ressureição - que escreveu para o catálogo do doclisboa…

"Setembro de 2003. Por ocasião do festival de cinema de San Sebastián, o mais importante dos eventos cinematográficos espanhóis, a ministra da Educação e Cultura do governo do Partido Popular, Pilar del Castillo, manifestava-se perante os meios de comunicação social contra uma modesta produção quase artesanal, ainda que de importante impacto, La Pelota Vasca, primeiro documentário de um consagrado realizador de ficção, Julio Medem, concebido como uma contribuição pessoal para a análise da complexa situação sociopolítica do País Basco. Pouco antes, o mesmo governo conservador tinha recusado ao filme um apoio para a sua promoção internacional e exibição no festival de Londres.
A reacção da ministra que, na lógica de tantos censores que a precederam, reconhecia não ter ainda visto o filme (de facto, a sua estreia pública foi uns dias depois, no mesmo festival de San Sebástian), marcou simbolicamente uma espécie de emergência geral do documentário espanhol à escala pública (como na actualidade existe, a outro nível Fahrenheit 9:11 de Michael Moore). Uma coisa era que um filme documental chegasse de quando em quando aos circuitos comerciais, ou até alcançasse um êxito pontual entre minorias (os 145.000 espectadores de En Construcción, 2000, de José Luis Guerín, por exemplo), mas outra bem diferente sucedeu com a mobilização generalizada da opinião pública e dos políticos a partir de um documentário, como foi o caso de La Pelota Vasca (375.000 espectadores).
Os caminhos que se abrem ao documentário espanhol não são fáceis, mas sim promissores."

Casimiro Torreiro
Como entender o Médio Oriente?
Ao reunir um conjunto de 13 obras maiores realizadas sobre o conflito israelo-árabe nos últimos 15 anos, Marie-Pierre Duhamel- Müller, comissária desta secção, pretendeu dar uma ideia da superior capacidade do documentário e do cinema em entender uma região onde se decide o futuro do mundo, que os Media não param de referir e que no entanto continuamos a não conseguir ver claramente.

"Como dar uma ideia, ainda que parcial ou fugaz, daquilo que o documentário pode contar, hoje em dia, a respeito de uma região do mundo desde há muito assimilada a um tabuleiro de xadrez?
E os cineastas? Em que medida são diferentes? Eles não falam apenas do conflito. Seguem pelas estradas mais longas, mais tortuosas, que correm independentes, sem repetir os caminhos já traçados dos discursos políticos, das convicções calcificadas, das falsas evidências que resistem até à cegueira.
O que consegue fazer ver o cinema a não ser aquilo que os poderes escondem? A não ser a complexidade dos seres e das situações? Uma complexidade que pode gerar empatia ou crítica, mas que coloca constantemente os seres filmados ao nosso lado, transformando-os em seres iguais a nós, surpreendentes, impensáveis, desconhecidos e às vezes até repugnantes ou terrivelmente semelhantes."

Marie-Pierre Duhamel-Müller

Sessões Especiais [ver lista de filmes]
Master Class com Nicolas Philibert
A Master Class de Nicolas Philibert no Grande Auditório da Culturgest terá uma duração de duas horas. O realizador do polémico Être et Avoir (documentário sobre uma escola de aldeia, visto por mais de 5 milhões de espectadores e estreado em Portugal este ano) vai fazer uma apresentação do seu trabalho e do seu modo de filmar, com projecção de excertos de alguns dos seus filmes.

Nicolas Philibert também apresentará e debaterá com o público um dos seus filmes mais polémicos La Voix de son Maître - inédito em Portugal, realizado em parceria com Gérard Mordillat.

Nicolas Philibert nasceu em 1951 na cidade de Nancy. Após concluir a licenciatura de Filosofia na Universidade de Grenoble, estreia-se como assistente de realização de autores como René Allio, Allain Tanner e Claude Goretta. Em 1978 realiza, em parceira com Gérard Mordillat, La Voix de son Maître, filme com entrevistas a quinze dirigentes de grandes grupos industriais franceses que, por razoes políticas, foi proibido em França durante vários anos. Desde 1989, Nicolas Philibert realizou seis documentários estreados em salas de cinema. A sua obra mais recente Être et Avoir foi distinguida com o Prémio Louis Delluc."

Filmografia
1978 - La Voix de son Maître (co-realização com Gérard Mordillat)
1986 - Christophe
1987 - Trilogie pour un homme seul
1988 - Le Come-back de Baquet
1990 - La Ville Louvre
1992 - Le Pays des sourds
1994 - Un animal, des animaux
1996 - La Moindre des choses
1998 - Qui sait?
2002 - Être et avoir




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