quinta-feira, setembro 30

Governo da palheta

Este Governo tem um sinal de nascença muito particular, estilo mancha felpuda sob o mamilo esquerdo. Trata-se desta esquizofrénica mania de por dá cá aquela palha, vir um ministro falar ao país. O primeiro foi o Bagão a inaugurar o falatório, com um conversé de mestre-escola, umas falinhas mansas que até metiam dó.
A partir daí, não há compra de um caixa de clip`s para um Ministério que não mereça um ministro resoluto a dar saltada ao palanque estendido de uma televisão perto de si, para botar discurso, anunciar medidas, explicar reformas, e com um pouco de sorte, talvez, meter o clip no cú e dizer que a culpa é dos funcionários públicos.

O Governo está farto de falar ao país, mas o bom senso aconselha que o país deixe de falar com o Governo o mais rápido possível.
Para um Governo da palheta, nada como recuperar o infeliz defunto da gestualidade lusitana – o manguito!

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-Ora toma!


Assembleia da República das Bananas

O Presidente Sampaio decidiu emprestar uma duvidosa legitimidade a um golpe de estado palaciano no estado português, sob o vácuo pretexto de preservar e reforçar a componente parlamentar do regime. Dois meses depois de ter sido empossado, este governo pária e o seu primeiro-ministro de vaudeville foram apenas uma vez ao parlamento para uma lamentável exibição de impreparação e de manobras de diversão. A partir daí, e apesar das solicitações das diversas bancadas parlamentares, Santana Lopes foge da Assembleia da República como o Diabo da Cruz. Percebe-se-lhe os calafrios, percebe-se muito mal de que forma é que o regime parlamentar saí reforçado nesta fantochada. O Presidente Sampaio sobre isto nada tem a dizer ?
Pois é, o melhor é meter as mãos nos bolsos e assobiar para o ar lérias sobre a auto-estima nacional.

The party is about to begin

Arranca amanhã o IMAGO, festival de curtas que já conquistou por direito natural um lugar no coração e na agenda daqueles que gostam de cinema para lá da pipoca.
Nasceu e cresceu na Covilhã, com o cunho e o entusiasmo do cineclube local e do seu principal impulsionador, que com o seu trabalho, dinamismo e paixão, conseguiu colocar um festival de província na rota dos grandes eventos para as “hordas” cinéfilas. Sem condições para continuar na Covilhã, a CM do Fundão não desdenhou a oportunidade de receber de braços abertos esta iniciativa, que empresta à cidade do Fundão um pouco do seu brilho.
Apesar das inúmeras críticas que esta transferência mereceu, não me parece que a indiscutível qualidade do evento estivesse alguma vez em causa. É essa qualidade que o público do Fundão pode começar a fruir já apartir de amanhã. Conheço dezenas de pessoas que vão ao Fundão só para verem algumas curtas do Imago, e sei que certamente durante uma semana, o cinema, e os talentos vão ser tema de conversa e discussão. Espero que seja uma lufada de ar fresco que desanuvie os “climas” de ódios, invejas e bota-abaixos. Espero que durante uma semana o Fundão seja uma festa de cinema, e que muitos dos críticos percebam que o Imago também começou como uma iniciativa de amadores e entusiastas e que foi crescendo até merecer o estatuto que lhe é justamente reconhecido, e porque não dizê-lo – bem pago.
É que o sucesso e o talento não são obra e graça do divino espírito santo. Ou se luta por eles, ou se esvaiem nas mãos.
Tenho a certeza que o Pedro, coadjuvado pelo Zina e restante equipa não andaram a queimar pestanas nos últimos meses para nada, e que nos vão “servir” um “menu” variado e apetitoso. Vamos lá então a tirar o cú da cadeira do bar!


The Party is over
PS: Para começar, recomendo uma ida à Escola Secundária do Fundão amanhã (1 de Outubro). Às 21.30 h passa no anfiteatro a trilogia “The party is over”, da autoria do Tigana e su banda (desculpem mas não sei os nomes da malta). Eu vi os dois primeiros da série, e garanto uma delirante e intrigante experiência destes assumidos cultores de um senhor chamado João César Monteiro.

terça-feira, setembro 28

Poesia, Terra de minha mãe

A Rui Pelejão Marques

Há livros que nos marcam porque rimam com tudo aquilo que gostamos, o sol, a terra, a memória, a poesia. "Poesia, Terra de minha mãe" é uma festa das origens, é a peregrinação de Eugénio de Andrade pelos campos da Atalaia, por Castelo Novo, Alpedrinha, Fundão, fixada pelo fotógrafo Dario Gonçalves, detentor desse olhar solar sobre a realidade áspera do mundo.
A musicalidade da palavra de Eugénio, onde se pressente a memória de outros ritmos, dá forma a esse diálogo entre a terra e a vida.
Com uma luz intensa, basta um poema de Eugénio de Andrade para nos sentirmos num espaço que nos é familiar, em harmonia com o mundo e com as origens. Não será por acaso que Eugénio escolheu um nome que, à letra, significa "bem nascido".
No entanto, Eugénio não será nunca um poeta regional, mas sim universal. Os seus versos não são apenas para a Beira Baixa porque já são do mundo. Do mesmo modo, a imagem de Dario Gonçalves colhe o mesmo lirismo das coisas, com a mesma veemência. Quando abrimos "Poesia, Terra de minha mãe" sentimos a força das origens e esse odor inesquecível que é o da terra molhada depois da chuva.





segunda-feira, setembro 27

Floridagate

O ex-presidente do EUA, Jimmy Carter, veio a público dizer que o sistema eleitoral na Florida é capaz de dar os mesmos problemas que deu nas eleições presidenciais de há quatro anos atrás. Parece que existem dúvidas sérias quanto à transparência do processo de contagem dos votos naquele estado norte-americano, bem como quanto ao próprio acto de votação.
Ora, eu não sou grande entendido em política internacional mas pergunto: noutro país qualquer do terceiro mundo, estas questões não seriam razão mais do que suficiente para enviar observadores internacionais independentes para acompanhar o processo eleitoral? E porque não fazê-lo na Florida?

quarta-feira, setembro 22

Terra de manjares

Se a Beira Baixa é uma região com tantos locais bonitos, justificando passeios turísticos muito agradáveis, poucos conseguirão resistir aos encantos do famoso cabrito assado no forno ou ao aroma dos maranhos no Ti Bento nas Aradas. Relembrando Aquilino Ribeiro, “Aqui e além subsistem vagas amostras duma gastronomia cultivada por mãos pacientes e entendimentos claros. O beirão põe orgulho em ser bom garfo; jantar que dignifique anfitrião e convidados tem de acabar na dispepsia”.
O maranho é assim um dos enchidos mais ricos, pois leva a melhor carne do cabrito ou da cabra, o melhor do porco – presunto e chouriço magro – a que se junta o arroz, tudo temperado com alhos, cebolas, vinho, azeite, salsa e, para quem gosta, a hortelã, que lhe dá um aroma e gosto característicos. A designação de maranhos está relacionada com o facto de todos os ingredientes serem colocados dentro de um saco de pele, feito a partir do estômago das cabras, a que depois de bem lavado, se dá a forma mais ou menos semelhante à dos paios. Enchido antigamente servido em alturas festivas ou em casamentos, o maranho, assim como o cabrito, de tempero acertado, fazem parte da chamada ementa tradicional.
Pão e azeitonas abrem lugar para o presunto e o chouriço assado e ainda o queijo regional, todos a satisfazerem em pleno. Acompanham a festa os vinhos, principalmente os tintos. E a refeição é ainda enriquecida se for feita numa dessas serranias, com um ar próprio, quando as tardes lhes dão um tom roxo e as fazem erguer-se soberanamente porque “Quando se passa à vista dessas serranjas, perfiladas no horizonte, que têm o seu quê das monticulações de formigueiros, cheias de povos, de passaredo, de bicheza humana e montesinha, toma-nos, da projecção de nossa pequenez sobre a imensidade e o mistério da distância, um sentimento que tanto pode ser de exaltar como de deprimir” (A . Ribieiro).

A demolição da memória

"Durante o breve consulado de Santana Lopes, a Câmara Municipal de Lisboa comprou o imóvel errado para construir uma "casa museu Eça de Queiroz". Ontem (dia 21 de Setembro) o Público Local noticiava (link não disponível) que a mesma CML acabava de aprovar a demolição da casa onde morreu Almeida Garrett (1854), no bairro de Campo de Ourique. Em seu lugar será construída uma habitação nova, da autoria do arquitecto Manuel Tainha. Entrevistada pelo Público, a vereadora Eduarda Napoleão justificou a decisão com base na degradação que o imóvel apresentava e referiu que, em seu entender, não faz sentido manter no novo edifício uma placa evocando Garrett."

Casa onde morreu Almeida Garrett, na Rua Saraiva de Carvalho 68, Lisboa


Erro Informático

Pela primeira vez uma ministra esteve quase a ver a sua cabeça servida na bandeja devido a um Erro Informático. O bug do ano 2000 afinal só apareceu em Portugal em 2004 (somos memo uns atrasadinhos) e agora parece que vai ter de ser feito tudo à mãozinha por uma brigada de amanuenses do Ministério da Educação. Ou seja, num país de baldas e de furos, o Governo baldou-se às aulas. No meu tempo de escola isto dava direito a falta a vermelho, agora só dá mais trabalho aos burocratas. O que este país precisava era de fazer greve de Governo.


Let`s talk about football

Havia uma musiqueta larilas do Jorge Miguel e os uam que o refrão dizia "let´s talk about sex baby". O tema sexo é sempre de bom falatório, mas ainda melhor de treino. Já o futebol, o segundo tema universal que liga os machos numa confraria inacessível às luluzinhas, tem sobre o sexo a enormíssima vantagem de ser muito melhor falar dele do que praticá-lo, por isso queria apenas fazer uma síntese das idéias de bancada central da TSF partilhadas com os meus colegas de trabalho, adeptos do cigarrinho no gueito, no galance das secretárias e na leitura atenta das entrelinhas da "Bola" e da Super Max-Men:

1º O FCP da Invicta, dificilmente passa invicto este Verão, e já mostrou muitas dificuldades em lidar com a ressaca da era Mourinho. Para curar a ressaca, o Papa sacou de um maço de notas e comprou meia dúzia de estrelas, transformando um balneário coeso, num misto de sambódromo, camarins de prima donnas e potencial ringue de pugilato. O Porto tem jogadores, não tem equipa.

2º O Sporteing faz jus à cor da camisola, vive de esperanças e ilusões, a última chama-se Peseiro, que para os adeptos era uma espécie de reincarnação mais afável do Mourinho. Mas, como dizia o José Manuel Taxista, o tipo bem pode vestir Armani que continuará sempre a ter gola de merceiro. A derrota com o Marítimo mostrou que o único sistema com que o sporteing não consegue lidar é com o sitsema de contra-ataque das equipas adversárias, nem sequer com o sistema de expectativas que todos os anos cria. Depois, com ou sem Peseiro, não há milagres.
O sporteing não tem extremos, não tem playmaker e não tem ponta-de-lança digno de crédito e, só para ter uma ideia da pobreza franciscana do plantel, os eleitos dos adeptos dão pelo nome de Tinga, Liedson e Rogério - Está tudo dito, ou não?

3º Por fim, o meu Benfica tem nos defeitos dos outros a sua maior virtude. Pela primeira vez nos últimos anos (11 mais propriamente), pode seriamente aspirar ao título mais por demérito dos adversários do que mérito próprio. Tem uma equipa equilibrada, mas fraquinha e um Trapalhoni que é o mestre da retranca. Vamos jogar de ferrolho o ano todo, sempre a jogar feio, mas prático. Não temos playmaker (o Zahovic é um flop), não temos um ponta-de-lança de verdade, e nem sequer uma dupla de centrais livre de qualquer suspeita, mas temos de longe mais equipa do que o Porto e o Sporteing. Vamos ganhar muitos jogos por 1-0 e com a ajuda do árbitro. Mas vamos ganhar. Bibó Benfica, e que se foda a cultura táctica, queremos é o título.

segunda-feira, setembro 20

A distancia e a falta dela

A distancia é realmente uma coisa dificil.
O tempo que passei longe da "terra" foi, sem querer ser "portugues", de saudade lancinante, sò atenuada pelo desabrochar diàrio de milhares de Margaridas, adormecidas pelo vento miudinho dos Alpes nos cantos aconchegados dos pòrticos da cidade, ou nos "impluviums" dos prédios de rendimento do "oitocento". Aì, a melodia das "campanas" das pesadas catedrais, delineada com soberba pelo homem mais "bravo", mistura-se com a mais fina composiçao de Arvo Part, que se passeia pelo centro da cidade rodeado de borboletas.

sexta-feira, setembro 17

Esta Terra é nossa

Sexta-feira, Outubro 3
Urso Polar com vinho

O horário é o da Antártida, terra de ursos polares.
Aqui terra de ursos e de cabeços de pedra de urso, que baptizam vinhos, regemo-nos por calendários sem sol. O nosso relógio é das horas mortas. Passamos o tempo a dar tempo ao tempo. Na terra de um tempo só sensível pelo alastrar da sombra, é já tempo de pegar no granito e fazer dele pedra. Uma mão cheia de pedras e outra de coisa nenhuma. Uma mão cheia de pedras para atirar ao charco de águas paradas. O granito austero é a matéria sensível com que esculpiremos estátuas de ideias.
E sai um tinto jorrando pelos nossos copos. Ergamos o punho, iluminando a sombra com o brilho cálido do vinho. Ergamos as taças e brindemos. Um tinto, agora ou na hora da nossa morte. Amén !
posted by Rui Pelejão at 19:01



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"Quem atira a primeira pedra? "
Num tom um pouco bíblico arrancava assim o granito.
Faz precisamente no próximo dia 3 de Outubro um ano.
A partir daí foram atiradas 250 pedras.
Umas duras, outras moles, umas afiadas, outras desafiantes, umas a brincar, outras mais a sério.

Olhando para trás, parece que um ano foi há muito tempo.
Passei as últimas duas horas a revisitar o granito. A reler textos que me divertiram, que me empolgaram, que me indignaram, e mesmo alguns textos que me comoveram.

Textos de amigos meus e pessoas que me são queridas, sobretudo pelo seu espírito e por essa forma inquieta e apaixonada de ver o mundo, mesmo quando não o fazem por um telescópio igual ao meu, e não o olham da mesma nuvem que eu.





Aconselho a todos que agora tão prontamente crucuficam e apedrejam o granito, que façam este pequeno exercício retrospectivo.

Não é por vaidade, ou por soberba.
É o mínimo que se exige, um pouco de seriedade e sentido de justiça não imediata.
Parece que prevalece a injustiça sumária.
Todos sabemos que vivemos num tempo em que a realidade é aquela que é perceptível numa notícia de abertura de telejornal, e que no dia seguinte cai no esquecimento.
Sabemos que num blogue, o que conta é o que aparece no ecrã, e não o que está no arquivo, na memória.

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Vivemos num tempo em que a memória se arquiva com a pressa de quem precisa esquecer.




Eu não me esqueço

Eu não me esqueço da magnífica defesa da memória que o Ricardo foi fazendo, de forma subtil e empenhada, da paixão que o Ricardo nutre pela memória. Não por um saudosismo bafiento e esclerosado, mas sim pelo único exercício que cria laços e que perpetua afectos.
Bem haja Ricardo, por não te esqueceres. Por não viveres depressa demais para esquecer a memória.

Não me esqueço das pedradas do Vasco, da sua análise séria e empenhada sobre os males do mundo, das suas pedradas curtas mas incisivas. Mesmo discordando muitas vezes, não me esqueço da alegria que me dava chegar ao meu trabalho de merda, abrir o granito e ver um texto do Vasco Paulouro.

Não me esqueço do Malvado, da forma como entrou a “dominar” a bola, do tom elegante e humorístico com que refrescou o granito, que era por vezes sério e maçudo, ou como escrevia a rititi – as pilas estão zangadas.
Não me esqueço como definiu o Museu Gugenheim na CMF, ou de estar sempre na primeira linha de defesa do granito, usando a única arma que se pode ter para defender um espaço que é nosso, de uma liberdade que é nossa – ou seja, participando, escrevendo.

Não me esqueço da surpresa do Xano, que pegou na picareta lá na velha Albion, deixou arrefecer os scones e o chá, e mostrou-nos o mundo da janela dele. Contou-nos da Britcom, do The Office, recordou o cancioneiro de Alpedrinha e matou saudades.
E nós matamos saudades do Xano.

Não me esqueço do Bruno, borboleta apaixonada que aterrou com a Raquel na Beira Baixa, e que agora já sabe dizer correctamente Alcongosta.
Não me esqueço como abraçou o granito, da mesma forma romântica e dedicada como abraçou a beira baixa e as suas terras do xisto. Não me esqueço de como é ver neve a caír em Alcongosta através da janela do granito. De como é estar perto de um amigo, estando ao mesmo tempo tão longe. Para matar saudades. Não me esqueço de como luta todos os dias contra a risca ao meio do nosso país.

Não me esqueço do Krec, depois Percivale, depois Floriano Peixoto, mas sempre presente. Com os heterónimos a servir a sua escrita e a sua desdobragem entre o existencialismo amargo, e a vibrante alegria de quem gosta da sua terra, de quem rega as suas raízes.
Não me esqueço da sua coragem, porque é preciso coragem para expor a matéria negra e sensível, sendo presa fácil dos abutres medíocres.

Não me esqueço do Rui Martins, “exilado” na efervescente Barcelona, vivendo com entusiasmo todas as aventuras como se fossem a primeira. Sempre com seriedade e rigor, como o fez com o granito, a quem se ligou, como quem se liga a uma terra que já é sua. Esta terra é nossa e é tua Rui, porque não acaba nas fronteiras do concelho do Fundão. É a terra da liberdade, e essa não tem fronteiras. Não me esqueço como emprestou nova talha ao granito, como perdeu horas a redesenhar o layout. E não me esqueço que se preocupa, que participa.

Não me esqueço do Souto e da forma como me encheu a cabeça e de como rebolamos os dois numa deliciosa “polémica” literária.

Não me esqueço do Nuno e das participações benfiquistas (apenas duas), mas plenas de sentido e verdade ...

Não me esqueço da Raquel, e da flor que plantou no granito.

Não me esqueço deles todos, porque dos amigos não me esqueço.

Mas, também não me esqueço do Fiúza e do João da Concorrência, que mal conheço, mas que entraram no granito para participar num espaço de liberdade que nunca quis ser um condomínio fechado de amigos, entretidos em palmadinhas mútuas nas costas, ou em exibição para um auditório aclamativo.

O Fiúza e o João da Concorrência são os únicos “novograníticos”, e são-no de pleno direito, porque foram convidados para o ser.
Ambos participaram com energia e vontade, cada um ao seu estilo, um anárquico e truculento, o outro onírico e diletante.
Também não me esqueço da polémica que o Fiúza causou e da controvérsia que gerou, porque participou e se empenhou da forma que achava que devia, com que a consciência e a sua liberdade de opinião lhe ditavam.
Goste-se ou não, o Fiúza foi coerente e não enganou ninguém. Goste-se ou não, todo o ambiente desconfiado, conspirativo e provocador que se gerou em torno da sua participação é apenas consequência do seu inalianável direito de ter opinião, e pior, do clima atávico e provinciano que infelizmente se respira no Fundão.

Acho uma tremenda injustiça pensar que foi o Fiúza que matou o granito. Acho de uma injustiça ainda maior dizer que foi o João da Concorrência. Dificilmente alguém a quem os olhos brilham quando fala de participar no granito pode ser acusado de homicida. Tenho a certeza absoluta de que o Fiúza e o João abraçaram o granito de boa fé, isso para mim é documento suficiente.



A tentação para inventar bodes expiatórios é o rosto mais sombrio da intolerância.
A intolerância era a única coisa que o granito não podia tolerar, e pelos vistos tolerou.



Um ano e o meu centenário

Podem chamar-me filósofo, ou moralista, mas puxando pelos “galões”, fui eu que inventei o granito.
Fomos todos que o criámos.
Este é o meu centésimo post – num total de 250 posts, eu escrevi 100.
Eu também não me esqueço das horas que passei a escrever para o granito. Da alegria que me dá escrever para o granito, podem até achar que é por puro exibicionismo, mas não.
Para puro exibicionismo literário tenho o vodka 7, e esse não me dá tanto gozo como o granito.

Não preciso de um blogue para afirmação e insuflável de auto-estima. Não preciso de um blogue para pavonear a minha escrita e o estilo faustoso.
Preciso do granito para estar perto dessa terra que é minha, dessa terra que é nossa. Que não é o pequeno Fundão, que não é as tricas no Sopas, que não é Portugal do Santana Flopes, que não é mundo do Dabliú Bush.
Essa terra que é nossa chama-se terra da liberdade, e é uma terra onde os afectos e as cumplicidades não têm fronteiras.

O granito não foi feito para ter sucesso, para ter graça ou ser engraçadinho, para ser estimado, respeitado, falado, bajulado, insultado.
Não se fez para andar nos copos com os artistas, para ser capa das revistas.

Fez-se para matar saudades, para fazer uma cartografia de afinidades, para podermos vermo-nos todos os dias.

Por isso, é com disfarçada amargura que vou vendo os meus amigos partirem.
Que vou vendo a pedreira ficar deserta. Até posso compreender os motivos. Ninguém é obrigado a partilhar do meu entusiasmo, ou da minha “visão”.
Fala-se de espírito fundador com a leviandade de quem não tem memória.
Porque o granito não tem espírito fundador.
O granito funda-se todos os dias.

Foi sempre assim, sem programa, sem rumo, sem regras, sem espartilhos, sem edição, sem censura, sem bom gosto, e sobretudo sem gosto dominante.

Quem quer um blogue de bom gosto, faça um blogue solista, porque este é de orquestra, sem maestro, cacofónica, desafinada, mas de orquestra, e livre como deve ser.

Quem acredita que os limites da liberdade foram violados no granito é porque não acredita na liberdade.

A liberdade é incómoda, é virulenta, é insultuosa, é chata, não veste bem, não é de falinhas mansas, não ouve os mesmos discos que nós, nem os livros, nem os filmes, não pensa como nós, não tem o nosso bom gosto, nem se expressa da forma elevada como fazemos !
Pois não, e daí?

E depois a liberdade causa reacção e erupções cutâneas, erguem-se vozes, somos apedrejados, insultados por anónimos, somos escalpeados em praça pública.
Pois é, é esse o preço de ter liberdade de opinião e de a expor, publicando-a.
É fodido, por um post e ver um gajo a chamar-nos bajuladores, ou lambe cús.
Pois é. É fodido.

É fodido, mas é preferível do que termos um lençol de comentários a darem-nos palmadinhas nas costas, a darem um rebuçadinho, a ovacionarem-nos por aclamação. Conheço muitos blogues assim, os comentários mais parecem uma sessão de autógrafos.
Eu autógrafos não dou e insultos só respondo aos que me apetece.
Essa é a minha liberdade.

E se me apetecer andar à bengalada com o Pascal ou outros pistoleiros anónimos, qual é o problema.
Sim, qual é o problema. Tenho a maturidade suficiente para me envolver num “tiroteio” verbal sem querer fazer dele o vilão, e de mim o “good guy” só porque ele usa mascarilha e eu não.
A liberdade não é maniqueísta, não é feita de bons e maus.

Compreendo que algumas pessoas não apreciem comentários jocosos e insultos.
Há uma opção na colocação de posts que diz – não aceitar comentários.
É simples, é monólogo, mas é simples.

Não se pode é querer escrever um post e só ter comentários benfazejos, aclamativos, e bem educadinhos.
Quem escreve expõe-se e tem de estar disposto a assumir esse risco.
Ou então não, e amigos na mesma.
A partir do momento em que se abre a possibilidade de se fazerem comentários deve-se estar preparado para tudo. Isso é liberdade, é saber aceitar, é tolerar.

Podíamos até, em nome da netiqueta apagar alguns comentários mais selvagens
–e depois, com que critérios? do meu bom gosto, ou do teu, ou do dele?
Em nome de que valores, de que regras, de que autoridade.

Para muitos dos meus amigos e camaradas que se vão afastando desta pedreira-livre essa seria a forma de “salvar” o granito.
De evitar esta desertificação, este clima de trevas, desconfiança e rancor que se abateu sobre a pedreira.

Confesso que pensei nisso, e pensei em muito mais.
Fui eu que lançei a primeira pedra e seria eu que descerraria a lápide R.I.P. Granito.

Mas não o vou fazer, e não serei eu a eliminar comentários ou a “expulsar” membros de pleno direito em nome de um pseudo-espírito fundador.

Gostaria claro de os ter todos de volta, todos os dias;, dos fundadores aos “nouvelle vague”, gostaria de começar os meus dias cinzentos no jornal onde trabalho para ganhar a vida, abrindo com a claridade do granito, com o olhar límpido e duro do granito.

Gostava de abrir a janela do meu windows e ver a minha terra, a nossa terra.
De ver os meus amigos, de me pegar com o Vasco e andar de sabre em punho a esgrimir má poesia com o Souto, de falar do Benfica com o Tall, de discutir com o Rui Martins a companhia das Lezírias, de ver as entrevistas e as memórias do Ricardo, de me rebolar a rir com as crónicas do Malvado, de beber uma pinte com o Xano, de falar de poesia ou de cidades-luz com o Floriano Peixoto, de admirar o talento do João, de me adensar nas diatribes do Fiúza, de ver mais flores da Raquel e me indignar com os males do mundo com o Bruno.

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E também gostava de vez em quando de ver a janela aberta e estar lá o Paulo a cheirar jasmins, e o Tigana a escrever cinema, e mais a Sara, o Zé Pedro e a Sónia, a Mariana, o Espanhol e a Lena, e o Tripeiro e o Carneiro, e gostava de ver desenhos do Zina e do Pimenta e do Bentinho e fotografias do Diamantino, e do Danilo, e gostava de ver tantas coisas de pessoas que não conheço, mas que têm em comum com todas as outras, o único passaporte válido para o granito – o amor à liberdade e a Beira Baixa no coração.

É lamechas, eu sei.
É impossível, eu sei.

É impossível juntar tanta gente que se conhece, que se desconhece, que se encontra e se desencontra, que se gosta e que se despreza.
Pois é, parece que nesta terra de ódios, intolerâncias e invejas é impossível dizer “I have a dream”.

Mas por mais que fique aqui a pregar sózinho nesta pedreira-deserta, não serei eu a fechá-la.
Mesmo que os meus amigos partam, não serei eu a fechar a janela do granito.

Não serei eu a preferir o clube de amigos à liberdade.
Que morra o granito, mas que morra como nasceu.
Livre, plural e sem mordaças.

Eu não o calarei, eu não me calarei, porque o granito é aquilo que dele fizermos todos os dias, e não aquilo que cada um gostasse que ele fosse.

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Essa é a verdadeira liberdade, e só se exerce participando !


PS1: Para uma leitura mais digerível deste longo, mas sincero testamento, e melhor entendimento do que ele gostaria de dizer, recomendo que vejam um filme chamado “Esta Terra é nossa”, realizado por um senhor chamado Jean Renoir, fala da coragem que é preciso para amar a liberdade.
É um filme absolutamente indispensável.

PS2: Para uma memória viva, sugiro uma revisitação do arquivo do granito. Sugiro também que não nos levemos nós próprios tão a sério, que é uma óptima forma de não levarmos os outros tão a sério, especialmente aqueles que utilizaram os comentários do granito como forma de esvairem as suas frustrações. Se tiverem o mínimo de sentido de justiça e bom senso verão que ninguém usurpou o granito, nem sequer o tomou de assalto.
A não participação dos “fundadores” só a eles os vincula.

PS3: Obrigado Magritte por explicares tão bem aquilo que eu queria dizer...


Um abraço a “todos e mais alguns”


O Restabelecimento da Ordem


"Cuidadinho! A Velha Guarda está aqui para repôr a Ordem!"


"Nós somos o apoio"


"Se tudo o resto falhar...ALLEZ, ALLEZ!"


"Ultimo apeadeiro dos prevaricadores graníticos"

Começando no "Flyer".

Já chegou ao Porto essa peça de design gráfico. Se estivesse bem feita não me arriscaria a dar a minha opinião sobre ela. Mas não está. De facto, este último panfleto que publicita o evento, denuncia falhas que começam no seu desenho e se prolongam até ao formato de compressão utilizado na gráfica.

Algumas dessas falhas:
1. Os diferentes produtos do pacote publicitário que até ao momento me chegaram às mãos, revelam falta de unidade ao nível da linguagem utilizada. De uns para os outros apenas permanece o tipo de letra (parece-me uma Helvetica, ou um outro tipo relacionado com o estilo internacional suiço dos 50/60). Essa escola surgiu na ressaca do construtivismo e assentava sobre três pilares distintos. A saber: servia-se de um esquema modular que dotava o desenho de coerência e estrutura interna; empregava tipografias sem serifa organizando assimetricamente os distintos elementos visuais (nunca se alinhava em espinha); apenas utilizava fotografia a preto e branco em lugar das tradicionais ilustrações. Como se nota, criei sérias dúvidas em relação à formação teórica dos designers do Imago.
2. O primeiro cartaz e o primeiro "flyer" em formato de cartão de visita fazia adivinhar um registo de cores planas, com silhuetas mal vectorizadas em tons de amarelo e laranja. Um estilo jovem e radical (de hà 5 anos atrás) que por si só não denegria a imagem global do evento. Agora vi o anúncio do Sound and Vision Experience (a vertente do evento relacionada com o som) e para meu espanto o Imago remodelou a cara. De ilustrações assumidamente bidimensionais, passou para uma imagem altamente contrastada filtrada por três bandas horizontais cada uma de sua cor. O texto principal encontra-se justificado (a fugir para as duas margens) equanto os logotipos dos patrocinadores se alinham à direita. Se a parte da frente já não convence então atrás é o salve-se quem puder das manchas gráficas. Textos justificados, em bandeira à direita, à esquerda, centrados. A confusão é tanta que até o Casino Fundanense se transformou em símbolo de dólar e 2 passou a ser maior que 9 (02>09). Tiques. Já a página que vi numa revista a publicitar a Heineken -perdão, o Imago- apresenta um plano de pormenor a preto e branco que serve de fundo para o texto...
3. Para terminar não houve tempo ou paciência para definir os overprints e ainda por cima a impressão quadricromática foi mal lançada para as máquinas. Provavelmente tem a haver com o formato do documento. Atente-se nos pretos dos corpos de letra de menores dimensões que, em vez de terem sido directamente preenchidos com o preto, são resultado de uma acumulação despropositada das quatro cores.

Quem os conheça que lhes diga:
Caros designers do Imago, isto não é um ataque pessoal, é antes um comentário estrictamente relacionado com as responsabilidades das suas profissões. Espero que tudo o resto vos corra bem melhor.

Vamos pedir papel à Caixa do Tio Patinhas de avental!



Leg: Notável alpreadense da irmandade do avental ascende aos trilhões do Estado, para bem da Beira, quem o nomeou foi um discípulo de Escrivá

Boas notícias para os beirões que andam tesos, mas muito em especial para as autarquias que enfrentam o endividamente com a bravura com que um bêbado enfrenta um touro desenfreado numa garraiada. Agora se forem a um balcão da Caixa Geral de Depósitos, já podem dizer - sou amigo do Presidente. É que o Dr. Vitor Martins é o novo Presidente da Caixa Geral de Depósitos, depois da zanga de comadres que levou o ministro Bagão a varrer da CGD, o sr. Miga Amaral e o sr. Borges, o primeiro com uma reforma que faria corar de inveja o Manuel Cajuda e as suas chorudas cláusulas de rescisão. Para os mais desatentos, o dr. Vitor Martins é um dos notáveis cá da terra, e além de Presidente da Assembleia Municipal do Fundão, é também meu patrício de Castelo Novo. Em Newcastle as únicas pessoas famosas são o pintor Barata Moura, o dr. Vitor Martins, e eu próprio (hi, hi). Os dois primeiros por bons motivos, o terceiro nem por isso. Saúdo portanto a elevação de um ex-colega de primária da minha mãe ao mais alto cargo da agiotagem pública. Espero que o concelho saiba disto retirar os devidos dividendos, cá por mim é desta que peço um empréstimo à banca, na esperança de um "spread" consentãneo com a minha condição de conterrâneo.
Vou já mandar plastificar a caderneta da CGD e meter os papéis para a reforma.

quinta-feira, setembro 16

Zás-tráz!

Um estudante reprova no exame de matemática e envia ao pai o seguinte telegrama:
"Exame magnífico, professores entusiasmados, querem que repita?"

As vírgulas de mascarilha (e a fome que calam)

Salto do Verão para a pedraria e tropeço em vírgulas de mascarilha que zurzem coloridos espadachins como se estivessem numa festa de drag-queens fora do prazo. Olhamestamerda! Então afinal a picareta serve para prospecções escatológicas ao esfíncter de cada um, sem que no entanto se descubra qualquer vantagem para a ciência da língua ou para o pasto dos animais - amendoins para os macacos, alfarrobas para os cavalos e prontuários para os demais, digo eu! Canetas mascaradas, de lençol às costas e bisnaga nos beiços, são meros objectos de folclore. Mas tudo o resto é patológico e está infestado de fungos, desde as insinuações às acusações, passando pela estrita verborreia masturbatória (que acaba por ser a grande parte). Há aqui adubo suficiente para pasteurizar a Beira Interior em merda de uma ponta à outra. Por isso, calem-se os montes e as serras porque as vozes que aí habitam renderam-se ao vazio, ao esquecimento, à incúria, à demissão, à traulitada pueril e, acima de tudo, viraram costas ao Fundão, à Beira e uns aos outros. O que dói mesmo é que depois de bem espremidinha, à força de muita fé na espécie e alguma expectactiva depositada nos amendoins criativos (ou deverei dizer neurónios?), a safra literária é confrangedoramente pobre, sem qualquer sentido de condição, seja ela territorial ou social, sem nenhum acrescento à linha de exigência que urge sublinhar na Beira e sem ponta de interesse lúdico. Já nem sequer sorrio, simplesmente pasmo! Que tipo de fruto dão as mascarilhas? Talvez daqueles que depois de ingeridos fazem arrotar obsessivamente. A questão já não é tanto moral, é sim temporal: até quando nos vamos contentar em bicar do chão o milho atirado ao vento? É só olhar em redor para perceber o que verdadeiramente falta para calar as cavernas de onde ruge a fome. Todos os tipos de fome se instalaram na Beira tricotando mascarilhas. E não é que há tantos que as usam! Pois a minha fome, desmascarada, é a fome de um território que ninguém sabe que se chama Portugal. Esse é o meu interesse no Granito. Tudo o resto…pffff. Demasiado utópico? Demasiado romântico? Prefiro os utópicos de falinhas românticas a bafejadores de ventosidades mal-cheirosas expelidas pela derradeira vértebra da nossa evolução! Por muito bem escritas que sejam…pfff, provocam sempre uma verde náusea.
Até já, Granito.
Bruno Ramos

quarta-feira, setembro 15

A pergunta do costume: Professor, o que é que é arte?

Andava eu pelo o Fundão, no 12º ano do curso de carácter geral de artes, encantado com uma certa noção de superioridade sensitiva e intelectual quando de repente vi num manual de História da Arte umas peças de um senhor chamado Marcel Duchamp. -Quésta merda!?- exclamei para mim. Reflecti três minutos. Foi suficiente para chegar à conclusão de que se aquele senhor podia estar no programa da dita disciplina qualquer coisa poderia.
Sem entrar em citações de mestres nem em referências bibliográficas que me dariam confiança para chamar filho da puta ao Alexandre Melo, passo a explicar.
O raciocínio é relativamente simples. Até então, nenhum movimento passava de uma resposta sensata, dentro dos parâmetros da forma, à tendência anterior, pense-se no impressionismo como resposta ao naturalismo e realismo do século XIX, mas o Marcel e os seus amigos do já mítico conta gotas ignoraram (ou reinventaram) a forma, o material, a ideia da aura do objecto artístico (se não, bem que me enganaram) e despacharam para a sala de exposições rodas de bicicleta, vidros partidos, bancos, mictórios, entre outros ready-mades de beleza estonteante, tão estonteante que na altura me deu para vomitar numa aula de oficina d'artes. Fiquei fodido.
Entretanto passaram-se alguns anos e já tive tempo de ver peças bem mais arrojadas e pertinentes do que a dos rapazes dadaístas. Entre fodas fotografadas, tubarões às fatias, buracos na areia feitos por muitos africanos, cofres com 1000 contos, abutres em ateliers, tinas de leite onduladas e pavilhões, oferecidos pela nacional socialista, esburacados, aterrei numa confortável e inegável conclusão: "Arte" é "tudo". Nem sequer posso inverter os termos. "Tudo" não pode ser "arte". Isto porque a batalha não foi ganha pelo objecto mundano, pelo comum nem pela puta de S. Lázaro. O objecto artístico é que foi elevado ao estatuto de realidade omnipresente.
-E agora? -perguntam os comprometidos e aqueles que ainda aquela espécie de fé.
Epá, agora, ou se eleva a arte a ciência, ou, meus amigos, finjam que não é nada com voçês e visitem Serralves com o diabo empoleirado no vosso ombro e lancem sorrisos para quem estiver a mijar na casa de banho dos homens.

terça-feira, setembro 14

Back to Porto, back to disco...

Four hours in a train to be here in time to meet Marc didn't stopped me from going to a nightclub so crowded that someone had to have the courtesy of putting a cigarrete out between my mouth and my nose...
Before that (in Aniki) I had some time to exchange a few words with one of the owners of the newest experimental and electronic portuguese CD label called "meifumado". He told me about this new project, and from what I could understand they will edit three or four new albums before the end of this year. One of the owners has a project named Type and edited already for the Nylon label. If you're still interested check out www.meifumado.org

At the disco: Compact Discothéque by Nuno Coelho and António Alves.
There were ravers, fine arts teachers, V.J.s, lawyers, designers, fine arts students, music producers, drunk old men, straight guys and there were even the regular guys and girls... We tried to dance for about one hour but we got pushed and burned so many times that we had to quit and return home without listening to the recently bought Club Hits 2001 that contains Blaze's theme (To my beat). Not even my girlfriend arguments convinced Nuno to play it. Dispite all this unconveniences I had a nice time at that club and I can tell you that, at least for me, it was a good rehearsal for the real rentrée that will happen at HiTeCa or, if not there, at the Fine Art School First Party. (Get ready for Costello).

segunda-feira, setembro 13

Crónica da alienação do território (capítulo n. 389232345, tomo XIX)

A Companhia das Lezírias, para meu espanto e horror, está à venda. Por uma bagatela: 150 milhões de Euros, aproximadamente. Quem conhecer o território em causa, terá alguma vontade de rir perante tal possibilidade. Mas como em muitas coisas que têm acontecido ultimamente em Portugal, a "piada" não tem muita graça, porque afinal é a sério.

Para quem não tenha bem presente, relembro alguns factos: a Companhia das Lezírias é responsável por uma área de quase 20 000 hectares, 13 800 dos quais são cultivados ou explorados. Geograficamente, situa-se entre a zona a Norte do Parque Natural do Estuário do Tejo, e é bem visível na recta do cabo, que une Vila Franca de Xira ao Porto Alto, estendendo-se depois num enorme rectângulo de terra entre o Porto Alto, o Infantado, até quase Alcochete. Esta àrea, pelas suas características naturais e paisagísticas, é única no nosso país, e é também um dos últimos exemplos de renovação agro-pecuária. Para mim, que passo por ali muita vez, é um pedaço de território de uma beleza mágica, que simboliza um país ainda em contacto consigo próprio. A sua gestão estatal, historicamente desastrosa em termos financeiros (e invertida nos ultimos anos), tem-na salvo, contudo, das garras da especulação imobiliária, pelo que se tem mantido mais ou menos intacto.

O Passado

Esta àrea foi re-adquirida pelo Estado no tempo das escandalosas nacionalizações, em finais de 1975, e depressa começou a cavar um buraco financeiro, ano após ano, chegando a um passivo de 1,25 milhões de CONTOS em meados dos anos 80. A gerência de Hermínio Martinho (ex-líder do Partido Renovador Democrático), de 1990 a 1995, foi também financeiramente desastrosa, acumulando prejuízos de um milhão de Euros. Mas eis que, entre 1996 e 2000, rendeu 5 milhões de euros. O maior "culpado" por esta inversão será, provavelmente, o presidente actual, José Salter Cid, que parece ter operado uma revolução na Companhia.

O Presente

Reoganizou-se o pessoal, rescindindo nas àreas desnecessárias e contratando nas que mais se precisava (não havia um Engenheiro Agrónomo, nem um veterinário, nem um enólogo). Hoje a Companhia emprega 148 pessoas, 32 delas a contrato (longe dos 200 trabalhadores no início dos anos 90). Aumentou e optimizou-se a produtividade em muitas àreas: a produção de cortiça, que representa um terço das receitas da Companhia, chegou já quase aos 4 milhões de euros; o sector da caça, aumento os rendimentos de 12 para 32 mil contos; no sector madeireiro, foram regularizadas as contas, pois estava a ser desbaratado o seu património; o sector vinícola levou um investimento e agora com três marcas distintas, (uma delas com designação DOC), passando das 40 mil garrafas para as 400 mil. Os vinhos têm vindo a aumentar a sua qualidade também, levando vários prémios nacionais e internacionais. Desinvestiu-se onde dava prejuízo (cultivo do arroz), reorganizou-se a pecuária (investindo no bovino em detrimento do ovino), e manteve-se, não pelo lucro, mas pelo prestígio, o sector da coudelaria (vendendo cerca de meia centena por ano de poldros do cavalo lusitano), tendo-se construíndo até um belíssimo recinto para provas equestres (com um restaurante irrepreensível, que eu recomendo vivamente). A companhia arriscou até o investimento imobiliário, comprando terrenos em Salvaterra de Magos e Samora Correia, para assegurar a sua estabilidade financeira.

O Futuro

Há notícias que correm dizendo que um dos interessados será o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Uma espécie de "Angola é nossa!" ao contrário, ironias colonialistas à parte. Sinceramente, pouco interessa quem é o comprador, o que é um facto é o seguinte: quem é que está disposto, na realidade económica que vivemos, a investir 150 milhões de Euros numa sociedade agrícola que rende uns míseros 500 mil Euros anuais (de lucros consolidados)? Qual poderá ser o objectivo de tal investimento, perguntemo-nos? Como é querem que acreditemos que uma sociedade de capitais privados vai respeitar o valor de património ambiental e cultural, quando gastou 150 milhões de Euros e sente a pressão de obter um retorno? Ou pior: e se lhes derem "carta branca", ou fizerem concessões para dedicar fatias dessa àrea à construção imobiliária? Como é que podemos acreditar nisso, quando o estado central e local não respeita esse património, quando não dá sequer o exemplo??

Como é que é possível vir o nosso PPP (Pseudo-Primeiro-Ministro) vir à televisão falar de termos de ficar com os dedos depois de ter vendido os anéis? Ficar os dedos? Se vendemos zonas vitais do nosso território ao desbarato, às quantidades de 20 mil hectares de uma vez, ficamos com o quê, xò lopes, com o quê?????

Mas isto estará mesmo a acontecer???


* muitos dos dados apresentados aqui baseiam-se no trabalho do jornalista Pedro Almeida Vieira, "Lezíria à venda" para a Grande Reportagem do passado fim-de-semana, 11 de Setembro, que apesar do estilo jornalístico duvidoso, apresentou uma peça importante de leitura recomendada.


sexta-feira, setembro 10

O mexilhão das SCUTS

Quem te SCUT teu amigo é, já dizia o cherne que fartinho das águas turvas da charca nacional, lá deu à barbatana até ao oceanário de águas tépidas de Bruxelas. Foi-se o cherne e as suas promessas bíblicas de discriminação positiva para o interior, e que as SCUTS eram para continuar assim sem custarem um tusto ao utilizador-interior, que coitado já tem preocupações de sobra para encher o depósito de gasoil para ir à cata da cereja e dos míscaros.
Foi-se o Cherne e as suas promessas de "borlas" aqui pró brejo poder acelerar à brava na A23, foi-se o Durão "mole" e eis que chega o Mexilhão, essa espécie de bivalve que já encheu os cofres da Galp à conta da liberalização dos preços do combustível, e se prepara agora para arranjar empregos na Beira Interior a mais de uma centena de portageiros.
Esta é a verdadeira revolução administrativa - a descentralização das portagens.
Este ministrinho de fatinho às riscas, que ganhava sempre ao Monopólio e ao Risco quando era rapazote, está agora cheio de pica para por os beirões a pagar uns euricos para ir do Fundão à festa do Anjo da Guarda em Alpedrinha, com direito a viagem panorâmica pelas entranhas da Gardunha. Afinal, alguém tem de pagar as contas de electricidade do túnel, e esse alguém não há-de ser essa espécie de bivalve liberalote, que a malta cá do brejo para "beneficiar de uma via rodoviária de qualidade superior" tem de pagar.
Afinal, champagne e caviar não são de borla.
O frenético mexilhão prometeu estudar as soluções para fazer uma descriminação positiva a nível local, beneficiando os comerciantes e as indústrias, com descontos e bónus, ao melhor estilo do Cartão-Galp, mas diz que o plano de fechar a A23 com cabines de portagens é mesmo para avançar já em 2005.
Diz o mexilhão-artista que é preciso pagar a manutenção das vias, bem como assegurar a conservação dos outros 15 mil quilómetros de estrada em boas condições. Cá para mim, e a julgar pelo estado lastimável das outras estradas da Beira Interior, literalmente entregues ao abandono (ou seja, aos retoques das autarquias mais abonadas, ou mais bem relacionadas no Ministério), cá para mim, o dinheirinho vai mas é directamente para os cofres do Estado, para pagar o "déficite" de gestão e de bom senso.
Pagar auto-estradas sim senhor, desde que haja uma via rodoviária alternativa, de qualidade e segurança aceitável. Na Beira Interior esse não é bem o caso, a não ser que se conduza um TT (o ministro tem um para os fins-de-semana), ou uma carroça puxada a burros.
Mas o mexilhão até tem razão, para quê uma auto-estrada para o deserto, se o deserto é para continuar deserto?
Felizmente este bivalve está só de passagem, para a outra margem. Ainda ssim já fez questão de deixar marca da refinada inteligência que desde sempre foi apanágio da sua espécie -, a bivalve.

quinta-feira, setembro 9

O fim do mundo

A sombra da terra poisou sobre si pròpria
Os espiritos dos homens escondiam-se nela
Impulsivamente
Em aurora constante
Juntavam-se aos montes em barcos de pinho
Que lançavam ao mar
Impulsionados pela batida descontrolada
De dois disk jockeys espontaneos
Os remos serviam de encosto
Aos braços estendidos ao longo dos corpos rumados pela maré
Assim foi o principio do fim do mundo
E quem a ele assistiu
Nào mais se esquecerà

A todos os pseudònimos do mundo, o meu nome é Floriano Peixoto

Deitado ali, no chao daquela sala, deixava a respiraçao tomar conta do meu corpo, sò ela quebrava o -silencio- que se passeava sobre mim.
Deixei-me encolher ao sabor do ar que vai e vem, fui ficando mais pequeno, sentia-me afundar no pavimento, como nos filmes de drugados.
Agora fico longe, deitado no chào desta sala e sinto o -silencio- passear-se sobre mim, nào abro os olhos, fà-lo-ia se tivesse a certeza que olhava para mim, mas o -silencio- habituou-nos a nào ter rosto, e eu habituei-me a nào querer olhà-lo.
Por isso mantenho-me assim, as pàlpebras cerradas, a boca quase muda, deixando apenas a respiraçao provocar um leve ondulado na estagnaçao da sala.

segunda-feira, setembro 6

Quem será o Pascal?




sexta-feira, setembro 3

Suicide bombers, anarchy, Pentagon, airplanes, C.I.A., George Bush, chemical gases, biological weapons, Laden, strenght, love, Saudi and oil wells

I arrived home in time to watch the last 15 minutes of it.
The Republican National Congress was live on C.N.N.. George Bush'es speach ended with a threatening stamement: "...America, (...) the greatest nation on earth."
I know now they can't like the Muslim countries nor the United Nations, unless they can provide them oil or buy them technology.
The American president talked about the rebuilt of West Berlin as a freedom metaphor to enpower the faith on his follwers on the conquest of Iraque. But I couldn't avoid notesting that their campaigning atitude follows incredebly similar principals to the ones that made an entire nation follow Adolf. They are more sophisticated, they've grown. They can excite people with giant screens and huge stages but they can't underestimate the oppened eye of some elements in the world comunity.
Republicans or Democrats? Either way, I cannot understand a country that just has two sides of the story.

Miguel De Pedro: save yourself from the world dominators. Get out of the U.S.A. while you still can. Come to Portugal.

P.S.: O chorrilho de palavras que prefazem o gigantesco título do post serve para capturar as atenções das pesquisas de palavras que os motores de busca do F.B.I., da C.I.A. e do resto dos utilizadores da rede fazem constantemente.

One step more towards popularity.

Musicalmente

-Ma...Que stai faccendo?
-Escrevo.
-Nòs encontramo-nos aqui na noite porque de dia nao existimos. Experimenta vir aqui de dia e fazer qualquer ruido, tenta falar um pouco contigo mesmo aqui, às 3 da tarde.
Jà de noite, as palavras que te digo, percorrerao as ruas da cidade, em linhas diagonais, obliquas às paredes paralelas dos edificios neo-clàssicos.

(Mensagem Apoio Técnico)

Como os camaradas graniticos já se devem ter apercebido, já é possivel introduzir as nossas próprias fotos sem recurso a fotografias já existentes em sites de internet. É só fazer o download do Hello e seguir as instruções.

quinta-feira, setembro 2

2500 esta semana no diário digital da paróquia!

Autofagia.
Ou muito me engano ou a popularidade do blog tem subido exponencialmente. Dizem-me que esse não era um dos objectivos principais. Ou foi muito mal encaminhado, ou gostamos todos de visibilidade e reconhecimento das gloriosas, serenas, extrovertidas, superficiais, geniais, etéreas ou viscerais formas de expressão que adoptámos neste diário. Falo por mim, se não quisesse partilhar ideias escrevia os meus comentários, pensamentos e confissões na minha agenda da Bravo. Estamos no início da primeira semana de Setembro e o número de visitas e visualizações de páginas deste mês já supera o de todo o mês de Julho.

Para mais informações atentem no Site Meter.

quarta-feira, setembro 1

Ilustração


A mãe lua já partiu em viagem. As delícias das formas fractalizadas animam este amanhecer paradisíaco na cidade dos meus sonhos mais tripados. Os cães ladram. Acabei de ver um duende a passar. Ele exclamou com uma voz psicadélica que o dragão lhe estava a tirar fotografias fluorescentes.
A mais marada de todas as cenas foi uma menina linda (parecia uma fada vinda de um lago encantado) que chegou ao pé de mim e sorriu. Ficámos em silêncio durante 4 horas a olhar para as estrelas que se movimentavam em espirais. De repente passou um mocho branco que nos avisou que os Rastaliens iam começar a tocar. Não me lembro de mais nada a partir daí.

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