quarta-feira, fevereiro 25

Prémio Se o bom-senso morasse em S. Bento...

"Não sou homem de assobiar quando está uma ventania"
Manuel Claro, habitante de Aigra Nova, aldeia do concelho de Góis

segunda-feira, fevereiro 23

Prémio Pedra nos Rins

"Não nos chegava todos os problemas que temos de enfrentar, esta encruzilhada decisiva a que Portugal chegou e que não pode mais ser contornada, para agora nos termos de haver com o mais inesperado, o mais urgente e o mais frustrante dos problemas: como evitar que Santana Lopes se torne Presidente e o país entre definitivamente no total descrédito e descrença. " Miguel Sousa Tavares in Público, Sexta-Feira, 20-02-04.

E eu peço emprestadas as palavras ao Tavares (talvez pouco actualizado, mas o jornal só me chega aqui às segundas): esta crónica, talvez por ecoar aquilo que sinto desde há uns meses para cá, é imperdível. O nosso MST pode ter a caneta pesada, mas ainda é responsável por contundentes crónicas na praça portuguesa.

Bom arremesso, Miguel!

P.S - Desculpa, Pélé, mas o Xô Lopes passou a ser um caso preocupante. Talvez te possamos encomendar uma peça satírica em 3 actos. Sugiro como títulos: "Um energúmeno em Belém", "Quem vê testas não vê candidatos", ou simplesmente "A Besta".

sexta-feira, fevereiro 20

Palavras emprestadas I

Há momentos em que cada um grita: - Eu não vivi! Eu não vivi! - Há momentos em que deparamos com outra figura maior que nos mete medo. A vida é só isto? Por mais que queira não posso desfazer-me de pequenas acções, de pequenos ridículos, não posso desfazer-me de imbecilidades nem deste ser esfarrapado que vai de pólo a pólo. Tenho de aturar ao mesmo tempo esta ideia e este gesto ridículo. Tenho de ser grotesco ao lado da vida e da morte. Mesmo quando estou só, o meu riso é idiota. E estou só e é noite. Por trás daquela parede fica o céu infinito. Para não morrer de espanto, para poder com isto, para não ficar só e doido, é que inventei a insignificância, as palavras, a honra e o dever, a consciência e o inferno.
E ainda o que nos vale são as palavras, para termos a que nos agarrar.

in Húmus, Raul Brandão

Na falta de tempo e discernimento para criar palavras minhas, peço-as emprestada a Raúl Brandão. Desde que o li, aquele excerto nunca mais me saiu da cabeça. É como se nos impelisse: Às palavras!, peguemos em palavras como quem pega em armas contra toda a insignificância da vida! E se vierem recheadas de ironia, tanto melhor. Porque, como já dizia Herberto Helder, "a ironia não salva, mas ressalva".

segunda-feira, fevereiro 16

Brit-Calm

Take 2

Agora aumentaram os transportes e tudo o que ja’ era caro neste país passou a ser estupidamente caro!
Quando estava a comprar o meu bilhete semanal de £9.00, que no mês passado seria £7.50, notei mais uma vez o marasmo britânico aquando este tipo de resoluções governamentais... Como estava numa bicha (fila de gente;-) tipicamente britânica aproveitei para ver as reações que passo a descrever...
A primeira da fila: Uma sra de lenço ao pescoço que pagou e saíu numa constante conversa ao telefone... Demasiado “busy” para se preocupar com preços de bilhetes.
O segundo da fila que parecia o mais contestatário, pelo jornal que trazia(The Sun;-) e pelo artigo que provavelmente estava a ler na terceira página, tambem não disse nada, mas quando recebeu o troco ainda abanou a cabeça.
Por último, o “chaval” com indumentária “hip-hop-bling-bling”, que estava á minha frente pagou e prontos. Nem um “fucking hell!!” nem nada!
Eu cheguei-me ao balcão e quando a sra me pediu £9.00 disse “...dasssss” baixinho e fui-me embora!
Talvez a medida governamental menos populista seja a subida de preço do chá!?!
Será que começamos a ser demasiado civilizados?!
Tenho saudade de ter razões ou desculpas para refilar e, talvez desta forma, aliviar toda a inquietude causada pela indiferença e mesmo apatia contagiante das pessoas deste país (que cada vez mais se compara orgulhosamente á sua ex-colónia transatlantica).

P.S.: -Desculpem o atraso desta pedrada... Pedreiros: não se deixem arrastar pela apatia atirem pedras em todas as direcções!

sexta-feira, fevereiro 13

Adeus Costa!

Chorai fundanenses: o Costa vai deixar de ser o Costa. O homem conseguiu finalmente que lhe comprassem o trespasse do Impacto Bar e, já a partir do mês de Abril, o reduto de muitas noites e algumas tardes soalheiras de Verão, vai ter nova gerência. Não sei quanto a vocês, mas a mim cheira-me ao fim de uma (gloriosa?) era!!

sexta-feira, fevereiro 6

Para que serve o granito?

O granito não serve para nada.
Não é importante, nem bonito, não é engraçadinho, nem moderninho. Não se ocupa dos grandes problemas da humanidade, nem dos pequenos problemas da humanidade.
Não vai a Marte, nem fica em casa a fazer diários da vida doméstica.
O granito não é domesticável porque não é feroz. Não morde, mas também não ladra.
Não fala, mas também não está calado.
O granito não tem credos e por isso nunca se assusta. O granito não quer mudar o mundo, quer ir mudando o seu próprio mundo.
O granito é sólido, mas não é inamovível. O granito desconfia por natureza, mas também é capaz de acreditar. O granito pode estar parado, mas está lá.
O granito é uma pedra, por isso é duro e por isso está para durar.
Para o granito o tempo não é importante, nem tão pouco a falta de tempo.
Para o granito só há uma coisa verdadeiramente sagrada - A Liberdade Incondicional .
O granito pode esperar, o granito sabe esperar.
O granito gosta da preguiça, o granito protege os preguiçosos, abriga os foragidos e está pronto a ser esculpido pela mão firme do pedreiro ou do escultor.
Para esculpir a palavra Liberdade no granito só é preciso uma mão, para esculpir a palavra Vontade, são precisas muitas mais.

Comunidade ou condomínio de interesses

Camarada Bruno, a questão que levantas sobre as Comunidades urbanas, merece uma análise atenta, que não se compadece com espaventosas ejaculações opináceas que este teu amigo é pródigo em fazer. Não queria, no entanto, deixar de dizer que mais do que a querelice politiqueira em que os nossos estimados autarcas gostam de se envolver, parece-me que é a própria criação de Comunidades Urbanas como novo modelo de organização territorial (que é como quem diz, modelo organizacional de captar subsídios) que me parece pouco sustentável.
Em primeiro lugar, a designação Comunidades Urbanas, faz pressupor uma continuidade geográfica, ou pelo menos proximidade, entre cidades médias, que é realidade inexistente no interior do País.
Este é portanto um modelo desfazado da realidade do nosso País; desfazado no espaço e sobretudo no tempo.
No tempo, porque esta “reorganização” territorial está quinze anos atrasada e a sua única justificação reside numa tentativa desesperada de Portugal conseguir aproveitar racionalmente as últimas gotas de investimento comunitário.
A grande teta comunitária vai secar muito brevemente, e aí seremos finalmente confrontados com um retrato deprimente de um País subsídio-dependente que perdeu uma oportunidade histórica para se desenvolver correctamente.
Mais do que as querelas dos nossos autarcas, que na sua mesquinhice habitual estão ocupados a tentar dividir os tostões finais do saque à boa vontade comunitária, o que é deprimente é perceber que sucessivos governos e uma inteira geração desperdiçou uma oportunidade histórica de fazer um País novo.
O que temos é um País velho, com alguns adereços novos. O que temos é o País do Alqueva, da Expo 98 e do Euro 2004, o que temos é um país culto no desperdício e erudito na arte da golpada. Temos laçarote e meia rota.
Aliás, gostaria apenas de recordar, que ao contrário da reputação que goza, eu acredito que o principal responsável do atraso endémico de Portugal e da autêntica vergonha nacional que foi uma década de açambarcamento de subsídios estéreis e irreprodutivos,
eu acredito que o principal responsável político tem um nome. Chama-se Prof. Aníbal Cavaco Silva, e graças à memória curta e grossa do povo português, é ele o principal candidato a ser o próximo Presidente da República Portuguesa. É o regresso à cultura aparente do sucesso fácil e da prosperidade enganadora que nunca gozámos, é nesse saudosismo parolo e míope que se baseia a crescente popularidade do Prof. Cavaco.
É bom não esquecer que foi durante o seu “próspero” e “progressista” consulado que Portugal recebeu o maior volume de investimento comunitário, e foi durante o seu consulado que os subsídios à agricultura, à formação e ao desenvolvimento regional, acabaram na maior parte das vezes para engrossar umas contas bancárias, para comprar jipes de alta clindrada, ou foram desviados para outros fins mais obscuros.
É por causa do Governo do Prof. Cavaco Silva e do Engº António Guterres, que foram complacentes com a tripa forra aos subsídios comunitários, que hoje nos encontramos no último lugar do pelotão europeu.
Mas a culpa não é só deles, é de todos nós, que fomos sendo anestesiados com créditos, telemóveis, automóveis potentes, viagens ao Brasil, Expo`s 98, grandes auto-routes, e life style.
Se aos políticos a história não vai certamente perdoar, a todos nós é a consciência que nos vai pesar no dia em que descobrirmos que continuamos a viver num país pobre em que o fosso entre ricos e pobres vai ser cada vez mais cavado, num País dependente, com um interior moribundo e que definha à sombra da inércia, num país onde a esperança é palavra vã...
Com ou sem Comunidades Urbanas, com ou sem regionalização, com ou sem políticos de meia branca, nada de fundamental vai mudar em Portugal, até ao dia em que começemos todos a mudar.
Há uma música dos “The The”, que pode ser um bom princípio. “If you can`t change the world, change youself”. Acho que vale a pena tentar...

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