terça-feira, outubro 26

Há uma palavra melhor que frete

Há uma palavra melhor que frete para definir a forma com o "Diário de Notícias" se tem prestado ao favor e à genuflexão aos vários poderes instalados.

Há anos que aquele jornal se transformou num meio pastelão, cinzento e serventuário dos poderes vigentes na administração da Lusomundo, desde que esta faz parte do universo PT, e por consequência a administração máxima daquele jornal é nomeada por critérios de confiança política.
Desde o consulado de Mário Bettencourt Resendes, com aquele seu estilo de senador bonacheirão e apascentador, que se tem assistido a uma sucessiva colonização e deformação vertebral da informação daquele jornal, que navega ao sabor do vento que sopra.
Para quem não se recorda, relembro que no tempo do Engº Guterres, o DN era o orgão de informação oficial do Governo, e foi defendendo até aos limites do decoro o estertor do regabofe socialista. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e agora que o vento sopra de outras bandas, o "DN" volta a prestar-se ao servicinho de fretismo.


A nomeação de Luís Delgado, o moço de recados mais bem pago deste país, para a presidente executivo da PT Multimedia (controla o DN, JN, TSF; 24 Horas)é um sinal claro da forma descarada e desavergonhada com que a actual maioria encara o controlo e a instrumentalização das empresas de comunicação social sobre as quais detém ascendente político e tutorial.
Antigamente estas coisas faziam-se de mansinho, pela calada, em sussuros de almocinho e conveniências de pacotilha. Agora é às clarinhas, sem pudor algum.
Louve-se pelo menos a transparência.

Para os mais cépticos com esta visão "cabalista" e conspirativa, aconselho vivamente que leiam o tema de abertura da edição de ontem do DN.
Duas páginas assinadas pela jornalista Leonor Figueiredo (shame on you baby), que explicam as razões de estado que levam à criação da famosa "Central de Comunicação" do Governo PSD/PP.
O artigo, entitula-se "Uma central de dois bicos", e o texto é uma espécie de justificação laudatória à criação de um serviço de informação da política governamental. Para mostrar a bondade e a modernidade desta medida, o DN recorre aos seus correspondentes em Madrid, Paris e Londres, que explicam que esta coisa de haver uma Central de Propaganda é "tramóia" velha nestes civilizados e democráticos países.

Já para falar da infeliz escolha do caso espanhol, onde o Governo central exerce um poderoso controlo sobre a máquina informativa sob a sua alçada, estas duas páginas
são confrangedoras, porque à "bondade" da medida governamental não contrapõem as perversidades que uma tal central de comunicação é passível de gerar, sobretudo quando não é enquadrada com um sistema de "checks and balances" que lhe refreiem a natural tentação propagandistica e de vigilância da liberdade de imprensa, exercida por meia dúzia de mastins pagos a peso de ouro.
Neste artigo do DN há uma total ausência do contraditório, regra elementar do bom jornalismo, tão grata ao Ministro Rui Gomes da Silva.

Mais fosse preciso, com este jeitinho ao Governo, o "DN" revela com descaramento que se tornou o orgão oficial do Dr. Lopes e do Dr. Portas, sob os auspícios de sua eminência parva Luís Delgado, com a conveniênica amedrontada e sabuja do Dr. Fernando Lima, sob a condescedência "cool" do Dr. Bettencourt Resendes e com a rafeira e solícita prestação de serviços de alguns jornalistas de bolso.

O PSD já tinha um semanário - "O Povo Livre", agora também tem um diário, só falta mesmo decapitar os cavaquistas da direcção do jornal - o Dr. Lima - e lá colocar a amiguinha dilecta do Dr, Lopes, a Dra. Clara Ferreira Alves para a pornografia envergonhar o big brother holandês.
Há uma palavra melhor para definir o frete que o DN fez ao Governo.
Essa palavra é um bico.



PS: O pior disto tudo, é que com o afastamento de Henrique Granadeiro da administração da Lusomundo PT, o patrão máximo do nosso "Jornal do Fundão" é o senhor Luís Delgado, e não sei durante quanto tempo é que a "central de comunicação" do Governo vai continuar a ignorar um dos poucos jornais portugueses que permanecem verdadeiramente livres; durante quanto tempo vão resistir à tentação de açaimar, domesticar e fazer obedecer à voz do dono.
Contamos consigo Fernando para defender o seu e nosso jornal, e pode certamente contar connosco para cerrarmos fileiras em defesa da liberdade que é o património genético do jornal fundado em tempo de ditadura, e que a ele resistiu e sobreviveu, e que se prepara agora para enfrentar as tácticas movediças de uma ditadura democrática.
Esses bardamerdas nem imaginam o trinta e um da armada em que se metem se vierem aqui meter o bedelho, podem crer que o caso Marcelo vai parecer apenas uma ligeira enxaqueca, comparada com aquilo que estamos dispostos a fazer.

Por cá, gostamos pouco de brochistas.

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