terça-feira, junho 28

A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica.

A discussão já chateia mas não faz mal.

Autenticidade: entenda-se como a caracaterística da obra que a supõe como única. Na era da reprodutibilidade técnica o produto em série é vezes sem conta a matéria prima do objecto artístico.
Segundo, Benjamin, o objecto de culto perde na sua representação, o aqui e o agora que lhe conferem a aura necessária à sua categorização (menos na pintura que não se define como representação mas como o invólucro). Para ele qualquer cópia não transporta o valor de culto que a obra de arte possuiu desde o início. Suportada em valores fortemente antropocentristas, a tese de Walter Benjamin, supõe que não existindo uma presença humana, não há Arte. Eu vou mais longe e afirmo mesmo que não existindo quem disfrute do aqui e do agora e não havendo quem saiba que o verbo haver e o existir são palavras humanas, não existe nada.

Se o estatuto da obra de arte se encontra assegurado nesta premissa, eu vou ali e já volto.
Não é só a obra de arte que necessita de uma presença humana que lhe assegure algum tipo de valor. Também o pinhal do meu avô se encontra na mesma situação.
Assim, para Benjamin, a aura dos ramos das giestas que florescem na zona do Orvalho (Cambas/Castelo Branco), quando interpretada por um talentoso escultor torna-se arte, mas quando fotografada e distribuída perde a possibilidade de ser adorada. Perde o valor de culto e ganha um expositivo. Esse sentido mais democrático impede que a adoração de que uma pintura possa ser alvo, não aconteça num objecto reprodutível pela máquina. A não ser que a imagem seja a de um rosto. O filósofo encontra na representação face humana a última trincheira onde o culto se pode realizar. Numa série de parágrafos articula ideias como saudade, iconoclastia, crime e Paris e legendagem, numa tentativa de explicar que os modos de representação menos nobres questionavam os modelos de acção da arte na altura. Em 1955, ainda a arte estava a dar os primeiros passinhos no terreno do design. Como menina bem comportada cresceu a mais de 25 frames por segundo e hoje não se vislumbram as suas extremidades.
O que escapou a Benjamin foram as "estratégias Obey the Giant" (que reproduzem inúmeras vezes a mesma imagem até estar tão divulgada e exposta que adquire um valor de culto, ±). Também lhe escapou o panorâma actual do circuito de consumo e produção. O excesso, faz-nos regressar aos tempos em que o acesso aos bens era restrito porque os meios de comunicação e produção para massas não estavam suficientemente desenvolvidos.
Agora não estamos limitados pela falta de possibilidades de fixação dos momentos, mas estamos congestionados num exagero de gravações. Apenas temos tempo para meia dúzia de cultos e uma música ouve-se uma vez na vida no Táxi a caminho do hospital, enquanto o primeiro filho nasce.
A minha avó Isaura não tem uma pintura do seu primeiro beijo, mas tem uma do Luís Filipe Figo na sala. Para ela sou eu que lá estou representado.
Em suma:
De um recorte do Record pode ser pintada uma tela a óleo e, daí, sempre aparece outra imagem na cabeça de alguém.

Só é arte o que é original.
Tudo o que é original é novo e singular,
Tudo é novo e singular (nada se repete no mesmo local e ao mesmo tempo)
Logo tudo é Arte.

Saudosismos musicais...

Até me tinha esquecido que existia um gajo chamado Mike Patton! Até me tinha esquecido dos Faith no More!
Fui ver um concerto grátis dos Fantomas e...adorei!
A maior surpresa (atrasada) musical sobre todos os aspectos! Muuuuuuuito bons e excepcionalmente criativos! Buzz Osborne (Melvins) na guitarra mais estridente desta década! Trevor Dunn (Mr. Bungle, Trevor Dunn’s Trio Convulsant) na guitarra baixo! Dave Lombardo "on drums" (Slayer)... Nem tenho palavras para descrever um baterista-percursionista que me fez calafrios com sonoridades tão boas como inesperadas! Todos estes "meninos" com maturidade suficiente para se aventurarem neste projecto orquestrado magistrosamente pelo maestro Mike Patton! Um espectáculo que mais parece um exorcismo "necessário" para um "regresso" às origens e imperativo para evitar tanta mùsica invasora da treta!
Fantomas - Não faltar - Num Festival perto de si!!!

segunda-feira, junho 27

Digital Music and Commerce (first edition)

A video documentary by João Marrucho.

You can get the video (CDr 20 min., 400x300, Motion-jpeg 2, 44,100 khz, stereo), by sending an e-mail, to joaodaconcorrencia at gmail dot com. Idetify yourself, correctly: (name, adress...). Feel free to copy, quote, translate and spread the information contained on this documentary.
Legendado em português, a partir de Janeiro de 2006, espero.



The most recent events in music industry and all other cultural content production, editing, and distribution have tended to use legal means trying to control the way information and ideas spread. In 1998 the Digital Millennium Copyright Act (DMCA) was written in the United States of America in order to up-date the existing regulation for this mechanisms.
The spread of personal computers has allowed to the common user to intervene directly on this processes. The effort to maintain an equilibrated market (that ruled over the last century) has turned illegal what was before a civil right. Now, instead of the fair registration obligation created during the industrial revolution users are also forbidden from changing the product as if they were the cemetery for the information. What's happening?


The Big Idea or The Big Deal?

Toshiba_2510

In the 1970's decade, photocopiers spread, and alerted the book industry to a problem they didn't have to face before. People could possess the information contained on their books, magazines and newspapers writing, editing, design and distribution. This new sense that the idea duplication was now in other hands, that not the ones from the publisher, originated a conservative copyrights movement that didn't stopped until now.
Sony Betamax case, in 1984, was an important judicial moment that made video reproduction a common practice. In that situation, Universal City Studios sued Sony for creating a recording object that had more illegal uses than legal purposes. Sony's lawyers, supported their argumentation turning the responsibilities to the Sony user. Although Universal City Studios had documents proofing the opposite, the court ruled in favor of Sony.
Like guns are sold, so can video recorders and blank video tapes be.

betamax


The DMCA

The Digital Millennium Copyright Act is a USA treaty that turns into criminal act "to distribute, import for distribution, broadcast or communicate to the public, without authority, works or copies of works knowing that electronic rights management information has been removed or altered without authority". It also holds responsible for such, the Internet Service Providers and software providers that can access the user information. And now, they all can. USA Congress has given copyright holders expanded powers similar to those granted to government officials under the USA PATRIOT Act. This means that whether or not you use peer-to-peer file-sharing programs, the recording industry (or anyone who claims to be a rights-holder) can easily gain access to your personal information, without a judge's oversight.

Despite this intents, DMCA castrates a giant amount of scientific researches on mathematics, software, and many other multi-media areas. By banning all acts of circumvention, and all technologies and tools that can be used for circumvention, section 1201 grants to copyright owners the power to unilaterally eliminate the public’s fair use rights. Already, the music industry has begun to deploy "copy-protected CDs" that promise to reduce consumers’ ability to make legitimate, personal copies of music they have purchased.


This kind of protective measures are taking place at the same rate that the worldwide web users work in the opposite way. Open source software, freeware, peer2peer, weblogs, and many other private sites are working hard, and maybe faster, to keep creativity out of this chains.
Opsound, for example, is an experimental record label and open sound pool organized through the opsound.org website. Opsound explores the possibilities of developing a gift economy among musicians, borrowing from the model of the open source software community. Most younger musicians would think that there is no way for making a living out this. The big music companies are, in fact, living a selling crisis. But there is a way to outcome all the small difficulties that made them so conservative. Take Universal City Studios, that stood against Sony blank video tapes, as an example. Universal City Studios increased its business volume from 5 million dollars to approximately 18 million dollars by selling the same technology they sued 20 years before. We can make an analogue analysis for the recent developments. Electronic Frontier Foundation has provided a list of ways to make business without neglecting the fair use of copyrighted material:
I'll pass it along:

Voluntary Collective Licensing
It sounds obvious: major labels could get together and offer fair, non-discriminatory license terms for their music. This is called "voluntary collective licensing," and it has been keeping radio legal and getting songwriters paid for 70 years. It protects stations from lawsuits while collecting payment for the songs they play. (...)
Individual Compulsory Licenses
If artists, songwriters, and copyright holders were required to permit online copying in return for government-specified fees, companies could compete to painlessly collect these fees, do the accounting, and remit them to the artists. The payment to each artist need not directly reflect what each consumer pays, as long as the total across all artists and all consumers balances. (...)
Ad Revenue Sharing
Sites like the Internet Underground Music Archive, EMusic.com, Soundclick, and Artistdirect.com provide an online space for fans to listen to music streams, download files, and interact with artists. In the meantime, these fans are viewing advertisements on the site, and the revenues are split between the site and the copyright holders.
P2P Subscriptions
P2P software vendors could start charging for their service. Music lovers could pay a flat fee for the software or pay per downloaded song. The funds could be directed to artists and copyright holders through licensing agreements with studios and labels or through a compulsory license. In 2001, Napster was considering such a subscription service. Recent attempts at a subscription service (such as Apple's iTunes Music Store) show that consumers are willing to pay for downloaded music.
Digital Patronage and Online Tipping
Direct contribution from music lovers is a very old form of artist compensation. As content has moved to digital form, so has the form of payment. With an online tip jar such as the Amazon Honor System, artists can ask for donations directly from their websites, in amounts as small as one dollar or one euro.
Patronage sites such as MusicLink have also emerged, which allow consumers to seek out the musicians and songwriters they'd like to support. Either way, consumers are given an easy, secure method to give directly to the artists they admire.
Microrefunds
Brad Templeton introduced the interesting idea of making "opt-out" the default for paying for copyrighted works. The system, called "microrefunds," would collect small fees for each copyrighted work accessed and total them into a monthly bill.
Charges that seemed too high or were for songs the consumer did not enjoy could be revoked.
Bandwidth Levies
Several people have nominated ISPs as collection points for P2P. Every Internet user gets web access from an ISP, and most have a regular financial relationship with one as well. In exchange for protection from lawsuits, ISPs could sell "licensed" accounts (at an extra charge) to P2P users. Alternatively they could charge everyone a smaller fee and give their costumers blanket protection.
Media Tariffs
Another place to generate revenue is on the media that people use to store music, also known as a "media tariff." Canada and Germany tax all recordable CDs and then distribute the funds to artists. In the U.S., they have royalty-paid recordable CDs and data CDs. It's difficult to pay artists accurately with this system alone, but other data (statistics from P2P nets, for instance) could be used to make the disbursement of funds more fair.
Concerts
Tried and true, concerts are a huge source of revenue for musicians. Some, like the Grateful Dead and Phish, have built careers around touring while encouraging fans to tape and trade their music. P2P dovetails into this model nicely, providing a distribution and promotion system for bands who choose to make money on the road.

Previous experiences have shown that there is the possibility for taking cultural products into the market without depending from a bigger system capable of supporting the musicians, video artists, software makers and by that helping not to invalidate free speech. For instance, Blender is an open-source software for modelling and rendering three-dimensional graphics and animations. Originally, the program was developed as an in-house application by the Dutch animation studio NeoGeo. The program was initially distributed as proprietary software available at no cost (freeware) until NaN went bankrupt in 2002. On July 18, 2002, a Blender funding campaign was started by Ton Roosendaal (creator of this program) in order to collect donations and on September 7, 2002 it was announced that enough funds had been collected and that the Blender source code would be released in October. Blender is now an actively developed open source program by the Blender Foundation.

As you can see there are many options available in the digital world to make sure that artists receive fair compensation for their creativity."

Copyright legislation was created to protect and insure cultural evolution and yet, it is turning against its original purposes. Some, as the anti-copyright movement, refuse to debate more than the nature of ideas. The classic argument for intellectual property is that protection of author and creator's rights encourages further creative work by giving the creator a source of income.

Those against copyrights suggest that intellectual property does not behave like material property.
If someone gives you a physical object he may no longer have use or control of that thing, and may ask some payment in return. But when you give you an idea, you lose nothing. You need nothing in return.

In fact, the copyright law can be perverted to a ridiculous point. Some strange things happened due to this legal obligations:
"The Eiffel Tower's likeness had long since been part of the public domain, when in 2003, it was abruptly repossessed by the city of Paris. SNTE, the company charged with maintaining the tower, adorned it with a distinctive lighting display, copyrighted the design, and in one feel swoop, reclaimed the nighttime image and likeness of the most popular monument on earth. In short: they changed the actual likeness of the tower, and then copyrighted it." Even more frightening, on July 6, 2001 Ph.D. student after giving a presentation called "eBook's Security — Theory and Practice", was arrested by the FBI as he was about to return to Moscow and charged with distributing a product designed to circumvent copyright protection measures, under the terms of the Digital Millennium Copyright Act.

Another curious case is the one from Negativland:

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Negativland is an experimental music and sound collage band which originated in the San Francisco Bay Area in the late 1970s.
In 1991, Negativland released a single with the title "U2" displayed in very large type on the front of the packaging.
The songs within were parodies of the group U2's well-known song, "I Still Haven't Found What I'm Looking For", and included extensive sampling of the original song. The song "The Letter U and the Numeral 2" features a musical backing to an extended profane rant from the well-known disc jockey Casey Kasem:

U2's label Island Records sued Negativland claiming that the "U2" violated trademark protection, and the song itself violated copyright protection. Island Records also contended that the single was an attempt to deliberately confuse U2 fans, then awaiting Achtung Baby.

Funds exhausted, Negativland settled out of court. Most copies of the single were recalled and destroyed. By the mid-1990s, rap had made authorized sampling more common in mainstream music, but the single "U2", for which Negativland did not obtain clearance to use U2 samples, is still illegal to sell in the United States, but is available for free download from Negativland's official web site.

U2 band members were not concerned with this subject and when contacted by Negativland, they even assumed not to know anything about the suing in process.

Public opinion counts, and what's happening in America will probably not happen in the rest of the world.
Japan is a one in a million case. Knowing from its huge consume fever and market possibilities, big electronic enterprises like Apple or Microsoft are now selling MP3 at $4 per song. In USA and Europe the selling price is rarely above $1 or €1. This does not constitute a big surprise when we know that one in each three japanese consumers buys an average of 10.000 original CDs every year. Japanese young people even admit that downloading isn't a common practice. Most of them doesn't get from the web more than mobile ring tones.

Digital Music is now in the center off all this subjects and we may even consider its producers and distributors as the principal responsible entities for the new commercial forms for this business. Nowadays, editing contents has a new democratic meaning. Music in digital formats is in some cases being treated like on-line real-time updated information. Generative works are getting more and more common and lots of web-based platforms, like Opsound and Discogs, are following the Wikipedia models. Copy-editing is the new job that competes the new cultural contents providers to perform. DeeJaying, bootlegging and remixing are now the words for copy-editing in the music scene, and it's mission is as important, and maybe more pertinent, than the actual excess of original producers.

Public domain

domingo, junho 26

Um vermelho da Bandeira.

sunset

"Como já aqui se escreveu, a música não é uma ilha e a AnAnAnA também não. Foi, pois, com incómodo que tivemos conhecimento da manifestação contra a criminalidade organizada pela Frente Nacional. Como é sobejamente conhecido, os skinheads agrupados em torno deste grupo neonazi têm um longo currículo de actos de violência e casos já houve de assassinato que envolveram "cabeças rapadas", o que tentaram fazer esquecer na sua condenação do ataque perpretado por jovens negros na praia de Carcavelos. Como é: agora temos criminosos a condenar outros criminosos? Foi com desconforto, também, que ouvimos o Presidente da República apelar ao patriotismo dos portugueses, sabendo que a afirmação, traduzida por miúdos, não pretendia mais do que a nossa passiva aceitação dos sacrifícios impostos pela absurda política dita de "recuperação económica" do presente Governo. Ser patriota, ficámos a saber, é ser carneiro. Assim como ser criminoso é, por inerência, ser preto, segundo a mentalidade retrógrada de alguns. Eduardo Lourenço e José Gil teriam aqui mais matéria-prima para as suas respectivas análises da portugalidade, mas talvez aquilo que se anda a passar neste país e dentro das cabeças dos seus cidadãos tenha mais a ver com a psiquiatria do que com a filosofia. Depois do orgulho vivido durante a Expo 98, depois da exuberância do Euro 2004, passamos agora por um período de profunda depressão colectiva em que cada notícia, cada acção de rua, cada afirmação dos nossos eleitos na máquina do Estado só nos enterram cada vez mais. Até os círculos vermelhos que faziam as vezes de narizes de palhaço nos cartazes políticos e de publicidade deixaram de aparecer. O humor foi o último a morrer? Felizmente, parece que a música floresce mais em tempos de crise, e assim como a era Bush nos Estados Unidos conduziu a um "boom" de actividade musical, cá pela periferia do império as coisas vão mexendo, discretamente, muitas vezes ignoradas pelos media, mas resistentes. O pior é que a própria crise está em crise e com isso não sabemos como lidar... A coisa já não vai com baladas."

E-mail enviado pela Ananana.

Os versos de intervenção no início do século XXI em Portugal continuam. O outro no Público, diz que Portugal pode já não ser um país viável. O Rui Pelejão quer regressar ao Brasil. Venha a constituição europeia que eu já estou por tudo.

quinta-feira, junho 23

MÚSICA DE MARTELINHOS!

Quinta, o S. João faz-se na rua e evita-se onde há música de dança sul-africana, pela noite dentro...
Sexta, a ressaca da música de dança sul-africana passa-se em casa e cura-se onde há música de dança portuguesa.

PORTABLE E TRA$H CONVERTERS
Quinta-feira (S. João), 23 de Junho de 2005
portable
"Alan Abrahams, the man behind Portable, emerged out of the ruins of a post apartheid South Africa. Growing up in an impoverished Cape Town township, tagged “Beverly Hills” by the locals, Abrahams was always immersed in his sisters ritual of getting ready for a night out to a soundtrack of 80’s soul, hi life and hip hop. Inspired by the first batch of Chicago house records, the foundations were laid for his future in music."

Passos Manuel.
Entrada livre, sem consumo obrigatório.

VEC, MÚSICA DIGITAL E COMÉRICO E +1
Sexta-feira, 24 de Junho de 2005
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VEC é a sigla que denomina o grupo musical constituído por Albino José Tavares e João Marco Marrucho que se tem dedicado à produção de trechos dançáveis. "Hi! Love to dance." é um deles, e dá título ao EP que inicia as suas apresentações públicas.
Ambos, Albino e João, dirigem, juntamente com Duarte Amorim, o projecto editorial Ástato, que se responsabiliza por mapear os "objectos" sonoros que merecem a sua maior atenção.

Passos Manuel.
Entrada livre, sem consumo obrigatório.

quarta-feira, junho 22

VEC | Hi! Love 2 Dance.

2005 anos, 6 meses e 24 dias depois do nascimento de Jesus Cristo ou seja, quatro meses depois do primeiro lançamento da Ástato, eis que chega o esperado (At)2.
(AT)2-CAPA4WEB
VEC é a abreviatura que denomina os Volante Euro Continental. É um grupo constituído por Albino José Tavares e João Marco Marrucho. Estes dois jovens têm investido tempo e emoção na produção de temas especialmente concebidos para a pista de dança e vão lançar agora um dos que mais sucesso tem tido nas suas intervenções públicas. O (At)2 é o segundo Ep da editora de formato caseiro que surgiu para oferecer alternativas mais ou menos viáveis ao consumo compulsivo de música de dança estrangeira. Não é um acto xenófobo, é uma acção em Portugal. Nesta publicação além do original de VEC (Hi! Love 2 Dance.) o ouvinte poderá encontrar uma remistura de +1 e outra de Ana. São também disponibilizadas ao utilizador as amostras de som que permitiram a concretização do tema original. Qualquer remistura é benvinda e será atenciosamente recebida em astatocdr@gmail.com
Assim, sexta-feira, 24 de Junho de 2005, pelas 11 horas e 30 minutos, no Passos Manuel celebra-se o lançamento do (At)2, com a apresentação do documentário (Digital Music and Commerce) e um DJ Set de +1, dupla constituída por Albino José Tavares e Duarte Amorim.

CD à venda:
Dia de lançamento no Passos Manuel por €4
Depois, na Flur (Lisboa) e na Matéria Prima (Porto) por €5

Edição limitada a 100 exemplares, com martelada da autoria de Francisco Roldão no verso da capa.

sábado, junho 18

O crime não tem cor, a estupidez também não

Com todo o respeito que me merece a opinião da Anana, que o Joãozinho fez o favor de publicar, não posso deixar de discordar com algumas teses batidas do politicamente correcto, que ecoaram igualmente na Assembleia da República, pela voz do insuportável Bloco de Esquerda, e da sua pequena luminária Ana Drago, a que se juntou em coro ululante o PCP.
A propósito disso aconselho vivamente o texto de Fernando Madrinha hoje no Expresso, pela lucidez e clareza desprovida de preconceitos ideológicos sobre o tema quente do arrastão, criminalidade e afro-portuguese gangs.

Não estão em causa as raízes sociais do problema deste tipo de criminalidade, que fermentam em bairros degradados e em autênticos guetos na periferia de Lisboa. Agora essa guetização e a falta de uma política de integração social e de uma efectiva luta contra o racismo não justifica a contextualização da violência e do crime cobarde. É isso que a esquerda faz, é isso que o politicamente correcto faz, e lamento dizer é isso que a Anana faz, sobretudo com a delirante alusão ao colonialismo, como se fosse uma cruz que tivessemos carregar com a nossa culpa, legitimando assim, aquilo que ela considera ser a resposta histórica e natural: o assalto em grupo, cobardemente e solidamente sustentado na larga superioridade numérica, na navalha, na ameaça, no terror que só conhece quem já viu essas pequenas e, coitadas, desintegradas aves da rapina em acção. O problema aqui, ao contrário do que pensam não é racial, é simplesmente criminal, e deve ser tratado como tal, com repressão e punição. Políticas sociais de integração e de prevenção do crime devem ser articuladas ao mesmo tempo que se combate o crime policialmente, com reforço da segurança pública e redução do excesso de garantismo jurídico que torna alguns destes pequenos criminosos, virtualmente inimputáveis.

Aliás, a contextualização social que a esquerda faz dos bairros e dos guetos africanos, serve igualmente para justificar as dislexias sociais e os subúrbios pobres da Margem Sul onde se geram esses pequenos monstros chamados skinheads, outro género de criminosos, que já não merecem a comiseração comodista desta esquerda politicamente correcta. Dá que pensar, não dá. Para mim os criminosos e os cobardes não têm cor de pele, a estupidez também não.
Se calhar também me vão chamar xenófobo e racista, que é aliás é a forma mais fácil de iludir a discussão com gritaria foclórica tão ao gosto do Bloquismo militante.

sexta-feira, junho 17

Um Verde da Bandeira.

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""O seu olhar era oblíquo à passagem das raparigas / mas era um para o outro que sorriam." Estes versos foram escritos por Eugénio de Andrade, poeta que nos deixou mais pobres esta semana. Pobres porque ficamos privados do seu convívio (o homem foi a enterrar, os poemas, esses, ficam) e pobres também porque, num momento em que nos surgem notícias de casos graves de homofobia em Viseu, ele foi dos poucos poetas assumidamente homossexuais que na sua escrita enobreceram uma "orientação dos afectos", para usar as palavras de Mário Cláudio, que muitos no nosso país ainda pretendem apresentar como coisa sórdida. Fê-lo com a elegância que acima se constata e com uma grande lucidez. Poeta do corpo (e do espírito, acrescenta Agustina Bessa Luís, sua amiga) e do amor, nunca ele se referiu a este como um amor diferenciado, vergonhoso ou escondido. Podemos amar de maneiras diversas, mas o sentimento é o mesmo. É isso que não compreendem os preconceituosos e os que se orgulham da sua estupidez. Saibamos curvar-nos perante a memória de Eugénio e este ensinamento.
A propósito de preconceito, foi esta semana igualmente que ocorreu o arrastão na praia de Carcavelos de que tanto se tem falado. O infeliz acontecimento gerou uma onda de xenofobia pelo País que contraria a ideia que pudéssemos ter de que os últimos 30 anos tinham diluído o racismo entre nós. Mantinha-se, afinal, e foi-lhe dada ocasião para se exprimir - por alguma razão, aliás, os imigrantes africanos e seus filhos, já nascidos em Portugal, foram marginalizados e guetizados pela sociedade portuguesa e pelo próprio Estado. Podemos ser cada vez mais cosmopolitas, mas o preconceito relativamente à cor da pele mantém-se. Nenhum acto criminoso tem desculpa, é óbvio, e o que motivou os 500 jovens envolvidos a fazerem o que fizeram foi também o racismo. É preciso, no entanto, termos consciência de que os roubos e as agressões foram feitos por aqueles a quem ignoramos, recusamos trabalho ou empregamos apenas naquilo que não queremos fazer, colocamos em bairros degradados e obrigamos, na prática, a uma vida fora da lei e abaixo da dignidade humana. Os media fizeram o resto, com os exemplos dos gangs americanos e dos ataques nas areias de Copacabana. Como ouvimos alguém comentar, fomos nós os primeiros a invadir as praias natais deles. Acorrentámo-los e enfiámo-los em navios negreiros como escravos, submetêmo-los aos nossos desígnios colonialistas de expansão territorial e lançámos napalm sobre as suas aldeias. Esta foi a resposta."

E-mail enviado pela Anana, 17 de Junho de 2005

Bem haja sempre a quem distinga o trigo do joio.

: )

quinta-feira, junho 16

Desratização

De novo o Verão quente, nem com uma defenestração isto lá vai. Sempre a mesma gaita de sevandijas escondidos a mordilhar o seu veneno. Que corja, que praga. Desamparem a loja pá. Se não gostam se repudiam se acham que o granito é uma merda, porque é que teimam em ser moscas. Nunca vos convidamos a entrar mosquedo, há para aí tanta coisa boa para ler, para fazer, para viver, para que é que perdem tempo? Porque é que não tentam arranjar uma vidinha ou uma coisa útil para fazer, as palavras cruzadas ou um jogo de flippers pá!
Andor canzoada, andor.
Fica aqui o trato de polé ao pires e aos pires do mundo.
Andor ratazanas!




Olha o pires de tremoço mijão


Quer o pires ser famoso
Que seja!

pires, dum caneco
Do alguidar para o mundo
O pires é imortal
De tremoço mijão
A poeta da nação


Desta poierenta grei
Nasceu pajem
Morreu rei
Rei dos trolhas
Princípe dos imbecis
Sodomita das rolhas
Que embutiu em crostas
À custa de curto pavio
pires tesudo
de tesão de mijo

Vivó pires Pá!
Vivó pires Pá!
Rátapi ratapá

Esta é a história do pires
Que nasceu tremoço mijão
E morreu de extrema unção
Convenientemente enrabado
Pelo bispo, cavalo e torre


O pires era calado
Apagado
Amamentado
Ensimesmado
Enconado
Atrapalhado
Envergonhado
E diziam as más-línguas
Um tudo nada amaricado


Vivia em cochicho
Meditabundo
Gemeabundo
Nauseabundo,
Andava na sombrinha
À fresquinha
A roçar o pandeiro
No veludo
Da conspiração
Da perfídia
Da inveja

Na capoeira de galos capões
Era o pires pintinho
pintainho venenoso
Maldoso
Soturno e feio
Foi festim de capoeira
Para a padraria de diabo feito,
o pobre do pinto pires
Caiu nas graças do Senhor
E assim viu pintelhinho o caminho da salvação
Enquanto se agachava
Para apanhar o crucifixo do chão

Meteram-lhe o diabo pelo rabo
E como se adivinhava
Em sortilégio infernal
O pobre gostou de se ver assim
Prostrado
Cravado
Enrabado
Perfurado
Pelos membros tesudos de Jezebel

E o pires gostou
E de vergonha corou,
De tanto se envergonhar
Passou a gostar
E de tanto ruminar
Azedou
…e para sempre assim ficou

pires de tremoço azedo
Com sabor a mijo na bocarra
Que se abria em ámens
Nas felpudas braguilhas
De bico em bico
Fez o pires obra de bico
Ou bicos de obra
De mamadas em mamada
Se fez o pires brochista
Que é como o conhecemos
Aqui nas terras dos demos

O pires tem pudor de ser rabeta
E vai de em bute, lá se põe
A tocar corneta
treta
e punheta

Vivó Pires Pá!
Vivó Pires Pá!
Rátapi ratapá

O pires cresceu e se fez homem
E de tanto ajoelhar
Lá teve de rezar
O missal pobretanas
De quem leu a Satírica Portuguesa de pantanas
o pires tremoço machão
Era afinal uma cárie efabulação
E não passa mesmo de cadela da ejaculação

Tenho pena do pobre pires,
que não gosta de morder iscos
Prefere mil vezes trilhar piços
E para redimir a sua consciência de padreca
Andar para aqui a inquietar a malta neca
Que trata de varapau a súcia esconsa na toca
De rabo alçado à espera de pau

Anda cá ó pires, anda cá ao Fundão
Que te arranjamos bode de tesão
Ou então bengalada nesse lombo viscoso
de réptil que se esconde no chafurdão

Anda cá Pires, se fores homem, percevejo, ou bicha solitária
Anda cá Pires, ver o Georges e este País de marinheiros
De que tanto gostas, Pires Patriota e
Pires idiota
Que da estética faz peripatética
E da língua massajadora
Feroz fellatiadora

Ó então, pires rançoso
tremoço manhoso
Mete o rabinho entre as pernas
E foge a ganir baixinho
Antes que te metam as pernas entre o rabinho
Como fazem os teus compinchas
Que lá fumam a sua altivez pacóvia
De provincianos desterrados na cidade
A espasmarem-se uns aos outros
Com a vossa sabedoria de sarjeta
na vossa universidade de meninos riquinhos
grilinhos tagarelas
sem fundilhos nas calças


Se chupares calhamaços
E pastares bom português
Pode ser que um dia
Tenhas a altura necessária
Para me cortar as unhas dos pés

Até lá vai ganindo
Baixinho
Rasteirinho
E mansinho
Vai ganir para outra freguesia
Pires de curto pavio
Que metes dó

Mi

Sol
È que pires pintinho
Continuas a confundir
A salada de mamão
Com a mamada no salão
E nem para isso é desculpa
Ser pires Joana
E já teres idade
Para limpar o buço
à saia

Se isto se serve de consolação
pires cabisbaixo
sempre tens mister
em andaime baixo
betoneira
ou trincha
pelo menos a julgar
pela elegância de linguajar
Com a quarta classe completa
Sobra-te ser pires
Pequenino
Tão pequenino
Pobre pires
Que até metes


Até lá pires percevejo
cá vou bebendo cerveja
E cuspindo tremoço mijão
Que raramente incomoda a minha digestão.


Vivó Pires Pá!
Vivó Pires Pá!
Rátapi ratapá

A maravilhosa actividade da comunicação.

A palavra design durante o seu período de entranhamento no vocabulário popular, passou a ser utilizada para adjectivar positivamente um produto que se submeta aos cuidados da disciplina. O seu desenvolvimento paralelo e complementar ao das artes do século XX nem permitiu aos profissionais especializados na área encararem o seu trabalho com a seriedade dos estudos científicos, nem encontrar o conforto proporcionado pelas legtimações elitistas. Não faltaram tentativas para teorizar de modo sério a actividade, mas muitas delas atingiram conclusões ridículas. A teoria da cor de Kandinsky, por exemplo, apoiou-se sempre em opiniões pessoais, e os manifestos colectivos e individuais foram perdendo validade e pertinência.

As grandes batalhas da arte dos anos 70 travaram-se na frente da desmaterialização da peça, enquanto o design e a engenharia inventiva já tinham dada como certa a importância da ideia, aquando da primeira legislação relativa aos direitos de autor nos finais de séc XIX. Chegando ao séc. XXI, Design é um termo de uso massificado e o seu emprego funciona geralmente como garantia de produto de qualidade. Os teóricos do design deixaram de se preocupar com a imposição de restrições significativas à utilização da palavra, e talvez seja, esse, um dos avanços em relação à teoria da arte, que muitas vezes limitou a correcta aplicação do uso do signo a um número reduzido de practicantes. Invertendo o pensamento, Mário Moura ousa afirmar que "o design está para a arte assim como o pastor está para o rebanho", na medida em que a actividade previamente denomidada por arte comercial (a.k.a. design gráfico) encontra na arte (no convencional sentido do termo) um infidável número de recursos criativos. Não é uma questão de submissão nem de seguidismo. É antes um desporto como todos os outros onde quem tem mais jogadores pelo seu lado, marca mais golos.

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Nem todos os produtos são oriundos de um processo bem sucedido de trabalho de avaliação, detecção e resolução de um problema comunicacional mas o exercício de distinção entre a práctica correcta de uma disciplina e o mau uso da mesma actividade, nunca ficou totalmente resolvido. É nesse campo que a comunidade de designers incide recorrentemente com a mesma obcessão que os artistas plásticos modernistas tinham na primeira metade do século XX. A procura do novo e a ultrapassagem qualitativa ou quantitativa do modelo anterior, ainda hoje ajudam o espírito competitivo a criar novos códigos apoiados nos já existentes. Este estado só é possível porque na sua génese, o design, resolvia problemas de comunicação. A actividade que surgiu para remendar com criatividade os métodos de produção em série, foi relevante para enobrecer o meios de comunicação para massas. Com o passar dos anos, houve quem passasse a descrever o Design como um contentor apelativo mas vazio de significado, pro-consumista, sem quaiquer pretensões de democratização. Ou melhor, como uma actividade cujos propósitos seriam os de acentuar uma estratificação social em prol de detentores de maior poder económico e político, que financiam a própria actividade. Não sendo uma disciplina estanque, nem necessitando de ligitimação por parte de elites, o Design sempre conseguiu evitar a completa cedência aos interesses particulares. Ele ainda é importante como forma de comunicação colectiva e o seu alcance torna possível que a melhor e/ou a pior das mensagens circule livremente.

Uma nova bandeira...

New portugal flag

"Li ontem um artigo publicado na revista suplementar do jornal Público, Pública nº471, intitulado “Uma Nova Bandeira” que me levou a manifestar o meu desagrado perante os factos descritos.
O dito artigo começa assim: “ Somos porteiros e mulheres-a-dias em França, taxistas na Suiça, “bimbos” em Inglaterra, pedreiros no Brasil. Há quem pense ainda que em Portugal as mulheres vestem todas xaile negro e têm o rosto enfeitado com um escuro buço. A nossa fama no estrangeiro não muda desde a década de 60”, este parágrafo, a jeito de caricatura, resume todo o preconceito e complexo de inferioridade que em geral os portugueses parecem assumir. “Como mudar a imagem e posicionamento de Portugal?” Parece-me que uma óptima maneira de começar seria atacar o problema pela raiz e acabar de vez com as mentalidades mesquinhas que nos rotulam de atrasados e coitadinhos quando na realidade somos Filósofos e artistas conceituados em França, treinadores de futebol de topo na Inglaterra, arquitectos reconhecidos na Suiça, e hoteleiros de sucesso no Brasil.
“ A agência de publicidade portuguesa mais premiada em festivais de criatividade nacionais e internacionais, a BBDO, (…) Aproveitando a vontade politica para mudar a imagem do país no estrangeiro, lançou uma bomba atómica nos escritórios do Instituto Público: a sua proposta incluía a mudança do mais importante símbolo nacional – a centenária bandeira republicana verde e vermelha.” Pedro Badarra, vice-presidente da BBDO, defende que a fama de Portugal não é a melhor e que o seu posicionamento geográfico nos torna ainda “mais miseráveis”, daí a urgência da reformulação da imagem portuguesa que passa pelo apagar da história portuguesa e sobretudo das relações com os países do “sul” que com o seu “karma miserável” nos assombraram. Badarra sabe que a má fama portuguesa é uma caricatura “O problema é que a caricatura da Inglaterra ou de França não é nada disto”, contrapõe. Estará Badarra a esquecer-se da fama de hooligans bêbados que os ingleses carregam ou da snobes, arrogantes e xenófobos que caracteriza os franceses?
“Continuamos a pensar nesta ideia e decidimos ir mais longe, esticá-la até às últimas consequências, recorda o publicitário (…) lembramo-nos de fazer aquilo que as marcas fazem: mudar o logo. Ou seja, a bandeira.” Decidiram fazê-lo, não só porque Badarra não gosta da bnadeira mas porque a combinação de cores, cores do Partido Republicano, é incompetente, pouco contrastante e muito similar a algumas soluções cromáticas das bandeiras de nações Africanas, o que nos empurra ainda mais para o passado e o estigma de “miseráveis”. “A nossa bandeira devia ter mudado com o 25 de Abril”, neste ponto concordo totalmente com Badarra, devia ter mudado mas como não mudou não me parece legitimo e nada dignificante que se altere a bandeira portuguesa apenas por estratégias de marketing. A bandeira portuguesa é símbolo da nação e as suas cores, apesar de “incompetentes”, carregam simbolismos fortes e grandiosos, carregam a história e esperança de um povo.
“ Na proposta da BBDO, entregue ao ICEP, a nova bandeira mantém os principais elementos históricos - escudo e esfera armilitar -, mas acrescenta-lhe a cor azul, do mar que banha esta ocidental praia europeia”, ou melhor, do mar que rodeia esta ocidental ilha europeia. A proposta da BBDO, apesar de defendida sem modéstia por Pedro Badarra, parece-me irresponsável e presunçosa. O publicitário, assumindo o mito Sebastianista, subiu para o seu cavalo branco e, num dia de nevoeiro, tentou salvar a pátria!"

publicado no FBAUP por Ana Silva (texto) e João Marrucho (imagem)

quarta-feira, junho 15

Vou embora pra Passárgada




Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-dágua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

O país esperança e o país hospício

Uma coisa boa de ir de férias para o estrangeiro, é que se tira férias de Portugal. Assim sem mais nem menos, desliga-se a televisão, rega-se as plantas, cancela-se a leitura da Bola e do Público, abafa-se a TSF, faz-se greve de combóios e autocarros e um gajo pira-se sem deixar rasto, número de telemóvel ou ficha de identificação dentária.

Um gajo escapar-se dez dias de Portugal é como meter um adiamento na tropa; não se resolve o problema mas sempre se esquece dele, com caipirinhas, forrós e os olhos a dançar na linha de água e na linha de cintura das pernambucanas.

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Vou ali ao Brasil e já volto, disse à minha PlayStation 2, querida companheira de tantas horas amargas. Dei férias ao Cristiano Ronaldo ao Figo ao Petit e ao Simão, meti o Lobo Antunes e o Rubem Fonseca na bagagem e ala que se faz tarde.

Na terra de Pernambuco que podia ser grande terra se os holandeses lá tivessem ficado mais do que apenas 30 anos mandei codificar a SIC Internacional e de Portugal durante 10 dias, nicles, batatóides.
Era como se a terra do Camões e do Álvares Cabral se tivesse afundado como uma jangada de pedra. Passei a viver no Recife, ocupado com os problemas dos brasileiros, a sofrer com a derrota do escrete com a Argentina e a cagar-me de alto para a Estónia a Eslováquia e as eslovacas e mais a puta que os pariu a todos.

O leque das minhas preocupaçõe passou a medir-se entre a alternância de caipirinhas e caipiroskas e daiquiris, bebida mais paneleirota assumo, ou então a prisão do filho do Rei Pélé e os casos de corrupção do Governo de Lula (voltarei a estes dois temas noutro post).
O mais que estive em Portugal foi quando um dia no sertão vi um gajo a vender camisolas do Benfica a turistas e pensei - quem é que será o treinador do meu Benfica? - benzi-me rapidamente e afastei esse laço de portugalidade da mona.

De resto, estive muitas páginas em Portugal, mais precisamente no Hospital Miguel Bombarda, no meio dos maluquinhos a baterem punhetas no jardim e a voarem da enfermaria do oitavo andar, ou a levar seringadas de psiquiatras drunfomaníaco-depressivos e de enfermeiros seviciosos.
"Conhecimento do Inferno", o livro de Lobo Antunes foi o mais perto que estive de Portugal. Lá ao longe e através da escrita labirintica e quase visceral de Lobo Antunes vi ao longe um país hospício, velho e decrépito, a cair de podre, cheio de infiltrações e humidades, com os xonés andrajosos a descreverem eternos círculos no jardim ou então a cravar beatas e a dar ordens bracejantes num trânsito ilusório.

Ao longe, lá do lado irmão do Atlântico Portugal parece mesmo um País Miguel-Bombarda, guardado pelo vício e onde a esperança sucumbe a injecções arbitrárias e a calmantes em dose cavalar.

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Num país novo e bravio, carregado de energia e testosterona ainda há esperança de um mundo novo e melhor. Os brasileiros dizem que há 500 anos que vivem da esperança, mas que ela não chega para pagar as contas até ao fim do mês.
Mas é um desencanto diferente do nosso. O deles é com um sorriso e com um punho fechado e um braço forte, o nosso é um encolher de ombros, uma fatalidade, uma rendição de país velhadas, esclerosado e sem esperança.

Num país como o Brasil, apesar da corrupção, da pobreza, das oportunidades perdidas, do crime, dos contrastes, das melgas, do calor; apesar de tudo isso dá mesmo vontade de meter as mãos ao trabalho, de construir, de agir, de participar, de reclamar de manifestar. Dá vontade de estar com os amigos ao fim da tarde a beber choppes a falar de futebol e de sonhos.
Dá vontade de lutar e de viver.
Aqui, neste paraíso- artificial vallium e prozac só dá vontade nos metermos na jaula e pedirmos ao enfermeiro para passar o ferrolho para dormirmos em paz.

O Brasil é uma tesão, Portugal uma pila murcha, velha e engelhada.

O pior de ir ao Brasil é o bilhete ter escrito ida/volta, e depois de uma semana de liberação, regressar ao velho hospício e verificar que está tudo na mesma, nem uma fachada nova, nem uma nova flor no jardim, nada.
A lesma no marasmo da mesma.
Saber que no hospício:


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- O Governo já orientou emprego para mais de 1000 aparatchiks do partidinho e amigotes rançosos

- A Galp foi tomada de assalto por lastimáveis socialistas como Pina Moura e Fernando Gomes (que pouca vergonha), e saber que sempre que estivermos a meter gasóleo vamos extra a pagar um bocadinho do ordenado destes sefarditas

- Que o país destaou a arde ao mínimo fósforo e que ainda não há aviões prontinhos, porque a habitual negociata Estado/alocadores de meios aéreos só previa que chulice dos fogaréus começasse no final de Julho, e que o novo Governo, coitado, estava de mãos atadas, e os meses que já leva de estado de graça ainda não deram tempo para desatar as mãos para apagar fogos.

- Que o ministro das Finanças vem de talhe e foice, mas guarda na carteirinha amoral o seu ordenadozito mais uma pensão (um gajo que ainda nem fez 50 anos), extingundo de uma penada toda a moral pública de pedir sacrifícios aos outros. Assim sim, vale a pena ser funcionário público, porque raio havia o gajo de ir para o privado?


- Que o Marcelo Rebelo de Sousa acha que os políticos recebem pouco e têm privilégios para compensar - ele lá sabe!

- Que 70 mil novas camas piolhentas de turismo avançam para o litoral alentejano e ameaçam betonizar uma das poucas áreas do litoral que ainda passava relativamente incólume à voracidade de promotores canalhas e à ganância de autarcas-bandidos.

- Que o presidente do Benfica continua a fazer um choradinho por causa do cartão-agiota, eu cá por mim não compro e espero que assim cumpra a ameaça do adeus ó vai-te embora.

- Que o Peseiro correu com meia equipa de gente séria e foi ao Brasil às compras de supermercado a ver se encontra outro Liedson entre os pacotes de arroz e farofa.



- Que a Lili Caneças e aquele cabeleireiro asqueroso continuam a fazer capas de revista e a ser leitura obrigatória no combóio para a Cruz Quebrada.

- Que o Luís Delgado ainda escreve no DN, é comentador na SIC e sei lá mais o quê.

- Que o Guterres fazendo jus à sua condição de refugiado/fugitivo político é agora Alto Comissário para os Refugiados.
Povos de todo o mundo eis um excelente motivo para ficarem bem quietinhos nas vossas terras.

- Que o Durão Barroso acha que é melhor dar um tempo à Constituição. Como fazem os namorados desavindos a dizer, o melhor é para para pensar na nossa relação. Já toda a gente com namoricos tarimbados na agenda telefónica sabe o que este paleio quer dizer. - Ó referendo espera ai um bocadinho pá, que eu vou lá fora fumar um cigarro e pensar melhor nisto!

- Que há três portugueses que aderiram ao Tratado Constitucional e comungam dos princípios de Shengen ao fazerem parte de uma rede internacional de pedofilia na net, enquanto por cá os pedófilos-nacionais correm perigosamente para fora da rede.

- Que o Freitas é o tal homem em duplicado, como o do Saramago, ou como o papel-químico. Como ministro pensa uma coisa, mas pessoalmente pensa outra totalmente diferente. É um Mr. Hyde a dobrar finados.

- Que as marchas de Santo António continuam piores que as revistas foleiras do Parque Mayer, e que ainda há noivas de Santo António que se casam sem estarem prenhas!

- Que o Miguel Ângelo dos Delfins ainda canta
- Que o Manuel Maria Carrilho ainda é candidato.
- Que o António Vitorino ainda continua a dizer que NÂO é candidato a Presidente
- Que o Cavaco continua à espera de Godot.
- Que nos feriados a bicha para o Algarve atingiu 70 km de extensão e as arcas frigoríficas das morgues voltaram a estar lotadas.
- Que o café continua razoavelmente mau numa razoável maioria de estabelecimentos ditos de restauração.
- E que o preço dos copos continua em alta, e a alegria da noite, em baixa.
- Que o Bairro Alto está infestado de turistas: Alemães cavernosos, espanholas feias e tonitruantes, italianos rebarbados com a mania que são o Totti e japoneses que em vez de olhos têm lentes Nikon.
Sempre que viajo para longe, trago uma secreta esperança que alguma coisa tenha mudado. Mas nós por cá gostamos pouco de mudanças e na frente ocidental nada de novo, é a mesma valentíssima merda de sempre.




O Vasco Graça Moura escreve que a Europa está defunta, e eu pergunto-lhe se só agora notou o cheiro. Uma Europa velha que vai enterrando os seus mortos e a sua memória de um tempo em que sabia lutar, sabia acreditar, sabia ter esperança, sabia amar e sabia encontrar a beleza da poesia nas pequenas coisas.
É um pouco de luta, de esperança, de fé, de poesia e de amor que se enterrou com os corpos de Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade. O que vai sobrando é a nova trafulhice organizada num hospício de vícios antigos e hábitos andrajosos.

Isto ainda não é o Brasil, diz o sapiento e bafioso Moita Flores, comentado o arrastão de Carcavelos. Pois não, e é pena, comparado com Portugal, o Brasil é um país civilizadissimo!

Para a próxima meto baixa psicológica de Portugal, e compro um bilhete só de ida.
Vou-me embora para Pasárgada!

A notícia da minha morte é um bocado prematura

Foi assim que Borges respondeu em carta a um jornal argentino que dava a notícia da sua morte.

Ora as notícias que dão a morte do granito são claramente prematuras, pela simples razão de que continua a haver quem faça granito, nem que seja para dar notícias sobre a sua morte.




Isto não é um boletim municipal, com éditos e mangas de alpaca que façam actas diárias só para manter a populaça informada e animada. Pão e circo, não necessariamente por esta ordem. Falo por mim, venho todos os dias ao granito como quem lava os dentes e simplesmente não me apetece escrever, porque provavelmente não tenho nada que me apeteça dizer. Acho que isso não é uma traição ao granito, nem sequer um período de nojo. É um estado de espírito pá, e se calhar com os outros camaradas passa-se um bocado a mesma coisa.

Percebo que assim já não dê tanta pica nem seja tão glamorouso para quem vê o granito como uma montra de vaidades sobretudo do próprio umbigo, percebo também algum desncanto e fartote de quem continua a picaretar meio sózinho, mas a esses posso dizer que não estão sós, no granito há sempre olhares curiosos à espera de novas da pedreira e se não houver, what´s the problem.
Só quem não entende o espírito livre do granito, pode pensar que estamos aqui reféns das audiências, do sucesso, de sermos falados, de termos page views e por aí fora. Nunca foi assim, se bem que a cagança é admissível quando vemos bons momentos de pensar e escrever aqui neste cantinho.

Quem quer fama, proveito, glória e reconhecimento público, palmadinhas nas costas dos amigos, e cochichos de adolescentes embevecidas com a tirada neo-intelectual, o melhor é mesmo pregar noutra freguesia. Quem só quer um blogue cool, para mandar e ler umas larachas de vez em quando e manter contacto com uma série de pessoas, então aqui e discretamente é o lugar certo.

Quanto às hipóteses do amigo Xano foram uma série de tiros na água, especial aquela que se refere aos bosses, já que como tu bem sabes aqui não há bosses, ideólogos, profetas, directores de serviço ou patrões de costa.
Consultei agora a lista de membros autorizados e com poderes de dissolver o granito (o que é um perigo, nem sequer sei se basta um administrador querer para poder apagar o blogue, ou se é preciso unanimidade como na Constituição Europeia), e são nada mais que 20, sendo que pouco mais de metade deles tiveram ou têm participação activa no granito, alguns nem nunca sequer escreveram uma linha, mas sabem que no dia que quiserem podem fazê-lo.

Muitos camaradas graníticos afastaram-se precisamente por esta excessiva abertura, considerando que isto devia ser um condomínio relativamente fechado. Nunca o foi, ora isto foi para o bem ou para o mal - deu para uma rebaldaria que "abalou" a paz podre dos cemitérios fundanenses, mas permitiu ao mesmo tempo acolher várias sensibilidades, ideias e discursos, numa espécie de cacofonia desafinada que para mim sempre fez a riqueza granítica, o seu mais estimável património.
Quanto ao resto, é como dizia o outro, música de câmara.

Cá por mim vou continuar a vir ao granito todos os dias e a escrever quando e como muito bem me prouver. Se para fechar é preciso haver um último que apaga a luz, então podem ter a certeza de que a luz nunca se apaga, como nas telenovelas brasileiras, só mesmo por cima do meu cadáver.

Para mim este assunto necrológico morreu à nascença, e o granito, esse renasce todos os dias, mesmo os de silêncio.

Um abraço a todos

Rui Pelejão

Sem ti Eugénio

Mais do que elegias fúnebres e funestas de obituário burocrático, o melhor é ficar com as palavras de Eugénio de Andrade para sempre gravadas no granito inamovível da nossa memória:


Sem Ti

E de súbito desaba o silêncio
è um silêncio sem ti,
sem álamos,
sem luas.

Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas

Eugénio de Andrade in "Chuva sobre o rosto"

...e a mais não é obrigado

O Granito: umas vezes são uns a carregar com ele, noutras terão de ser outros. Não quero aqui entrar em zangas de comadres idênticas às que já por aqui aconteceram, para gáudio de ‘penetras’ e anónimos comentadores de bancada. Mas vejam as coisas da seguinte maneira: com os posts que foram aqui publicados a desancar em quem não escreve, o blog foi-se fazendo. A minha sugestão é que mantenham a frequência na publicação mas mudem de tema.
Quanto a ser administrador do blog, por mim todos o podem ser, é só colocar uma setinha à frente dos nomes e temos um pequeno passo no avanço da democracia participativa – tanto se me dá. Este blog “é o que é”, e a mais nenhuma verdade de La Palisse é obrigado.
Mas digo já, em minha defesa, que gozo plenamente os meus períodos sabáticos da escrita, mas não deixo de ser leitor assíduo deste blog, vá-se lá saber porquê... para mim o Granito não está morto, anda é pelas ruas da amargura, o que, diga-se, é bem mais nobre e poético. E também um pouco decadente, claro. Um dia destes devíamos apanhar todos uma valente bebedeira para discutirmos isto com mais clareza...

segunda-feira, junho 13

de luto

morreu eugénio de andrade

domingo, junho 12

E.................. foi-se...

Este calhau afinal amoleceu e com o calor começou a cheirar mal...
Sinto-me obrigado a criticar aqueles que se retiraram de mansinho.
Adivinham-se as razões:
  1. O blog granito já não é suficientemente (neo) intelectual para certas personagens que, por motivos pouco claros, saem sem deixar sequer uma satisfação.
  2. Um boato ao melhor estilo Fundanense que declarou este blog "out".
  3. O calor e prontos...
  4. O blog terá interferido com alguem ou alguma questão polìtica (inter)-regional...
  5. Terá sido a questão da biblioteca Fundanense?
  6. A "fina-flor" mudou-se para outro blog tentando evitar as ervas daninhas?

Esperam-se pelo menos 2 ou 3 respostas ...

Fica a ameaça (copio o "patronized"João) : Se eu não vir ainda este mês 1 ou 2 posts começo a "publicar" fotos porno do pior gosto possìvel até que algum dos "bosses" se decida a acabar de uma vez por todas com esta miséria...


terça-feira, junho 7

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segunda-feira, junho 6

Member Only

O que é que está a acontecer ao granito?
Porque é que se estão a ir "todos" embora?
Passou de moda? é foleiro?
Pelo menos alguns são mais frontais declararando-se retirados tipo "a lo hecho - pecho!".
Afinal o que é que se passa?
Eu, sinceramente, gosto do "granito"! Realmente isto tá um pouco "flat" mas com 3 ou 4 a enviar posts o que é que esperavam?
Ah, se calhar o granito é conotado com alguma politiquice corriqueira Fundanense... Eu falo por mera ingnorância; Não sei nem quero saber e isto é para que se saiba!
A todos os que se retiraram sem despedidas e agradecimentos e ainda dão uma vista d'olhos por aqui aconselho vivamente um filme recente de produção Italiana: "Uncut, member only" , é "pretenciosamente" artìstico e serve que nem uma luva a muitos que se retiram sem explicações!
Para situações dell cazzo um filme do caralho! Divirtam-se!!

(At)2

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Sexta-feira, dia 24 de Junho de 2005, no Passos Manuel.

23.00H: Estreia do documentário: Digital Music and Commerce
23.30H: +1 DJ Set

domingo, junho 5

Franchise Granito

Só vim aqui despedir-me.
Cedo-vos os direitos sobre os meus posts.
Um abraço e felicidades.

A cultura de estado e/ou o estado dessas coisas.

Quando se passa uma vista de olhos pelo Orçamento de Estado para 2005 constata-se que a cultura lá continua a receber uns trocos. Devem partir de um princípio de livre acesso à mesma, ou não fossem as importâncias dadas à sociedade da informação duas vezes suporiores às dos bancos dos nossos artistas subsídio-dependentes. Há no entanto algumas tautologias e um sentido pragmático que me obriga a achar isto tudo uma grande trapalhada. Criaram-se institutos estatais (o Português do Património Arquitectónico, o Português de Museus, o de Cinema Audiovisual Multimédia, a Cinemateca Portuguesa/Museu do Cinema que depois distribuem como bem entendem as dádivas do governo pelos projectos que mais lhes agradam. No Mapa OP-01 Ministério da Cultura, não se deslumbram apoios às artes de palco, nem às artes de rua... O Insitituto das Artes também me deve ter escapado, ou então a eles. Caso tenha sido um corte propositado, têm todo o meu apoio. Mas falta coerência.
A cultura existe por si, e quando necessita de 150 milhões de euros para sobreviver a coisa já está preta. Faltam medidas para evitar contradições deste género. Podem argumentar que não se pode parar de doar às instituições a-úteis (eufemizando) porque se o fizessem não havia ópera em Portugal, nem teatro, nem música, nem pintura, nem escultura, nem outras "artes em particular" (risos), acredito... Portugal nunca conseguiu criar gente, sumo teórico e empresas rentáveis que evitassem a extinção destas espécies artísticas. O Teatro de Revista, as editoras de Fado e música Pimba são duras excepções.
Porque não apostar no desenvolvimento destes exemplos de sucesso sem deixar de garantir a permanência dos antigos formatos espectaculares que agora estão moribundos. Para não gerar demasiada polémica, o estado podia transformar todos os edifícios que albergam associações culturais, em casas equipadas com redes Wi-Fi de livre acesso que faziam o que bem entendessem. Em vez de programadores culturais integrados em lobbies sofisticados, estariamos a empregar engenheiros de informática e técnicos especializados em artes do espectáculo. A web e a tal sociedade da informação tratariam de editar os conteúdos de forma orgânica. Este modelo podia ser aplicado às actuais Associações Culturais de aldeias e vilas que gastam o dinheiro em novos jogos de damas, mesas de snooker e bons baralhos de cartas e podia mesmo transformar por completo os teatros, casas da música e centros culturais. De momento são as bibliotecas que mais se aproximam deste modo de organização. A diferença é que elas são financiadas pelas autarquias, e o que se pretende é garantir o máximo autonomia aos Cyber-centros do Povo.

Como evitar o desaparecimento das artes mais nobres?
Em vez de se financiarem 30 companhais de Teatro, 100 museus, e 1000 outras casas de espectáculo porque não fazer uma selecção nacional de artistas, actores, comissários, encenadores e todos os outros empregados que giram à volta deste mundo (eleita em referendo, votada no parlamento, ou decidida via SMS...) para ocupar três ou quatro museus dedicados às velhas artes. Como os planetários, e os jardins zoológicos... não há um em cada cidade, pois não?

Como criar a independência económica dos cyber-centros?
Primeiro passo: assegurar imunidade aos processos judicias relacionados com os direitos de autor, de modo a não castrar a informação pela raíz.
Segundo passo: comprar todos os ISPs e torná-los parte integrante da sociedade da informação ou no pior dos casos, estabelecer protocolos de troca de informação (de livre acesso) com os mesmos.
Terceiro passo: empregar programadores para conceberem softwares open-source de modo a desenvolverem novos formatos de criação, edição e apresentação colectiva de conteúdos. Estes técnicos trabalhariam em parceria com uma espécie de selecção de esperanças (sub30) dos artistas que tinham ficado fora da Selecção Oficial por poucos votos.
Quarto passo: criar eventos temáticos pontuais, à semelhança do que fazem as cinematecas, pagos com bilhete.

Na pior das hipóteses, estes novos espaços não conseguiriam pagar as despesas por si. Nessas situações não se estenderia o chapéu ao ministério da cultura.
Programa Medici:
O Programa Medici seria uma conjunto de acções desenvolvidas a partir dos novos centros culturais de modo a angariar fundos a partir de publicidade nos próprios espaços físicos e virtuais. Uma espécie de mecenato privado que poderia ajudar o presidente da associação, ou outro bem intencionado, a comprar leitores/gravadores de DVD novos. Aproxima-se a largos passos a Casa da Música com instalações interactivas e lasers Smirnoff Ice, ou o Rivoli com Sony E-papers. Eles já não estão assim tão longe desse tipo de apresentação pública do espaço. Estão é pouco explorados nesse sentido e, pior, dependentes do contribuinte.
É imperativo acabar com o lazer financiado pelo contribuinte, que nem 30 dias tem de férias para aproveitar os 200 dias de actividades lúdicas proporcionados pelo estado.

Como subsistiriam os artistas emergentes que nem sequer estariam na Selecção B?
Consultoria, MacDonalds, galerias privadas, arrumar carros, pilotar aviões, engenharias electrónicas, matemáticas, dentistas, empresários, design... tudo menos apoios estatais. A parte fixe, é que a maior parte desses artistas, nem sequer chegaria ao mercado da arte, pois este processo necessitaria paralelamente de um corte de vagas no ensino artístico estatal na ordem dos 40, 50 ou mesmo 60%. Convinhamos, que a produção excessiva de artistas não ajuda à retoma económica.
"Ah! issé por causa da função pública que num faz um nada e estou 3 horas nas filas da loja do cidadãopa ter umamérda duma certidão de nascimento para provar ao banco que nasci!" Quem não faz nada de útil é preterido naturalmente pelas "regras do capitalismo" e não nos precisamos de preocupar com isso. Muito menos com os que ficam de fora.

Podemos sempre achar isto tudo uma trapalhada ainda maior e pensar que se calhar o melhor é mesmo continuar tudo igual.
Ou se calhar, melhor (terceiro plano), porque não demolir todos os edifícios que prestam serviços culturais finaciados, e com os destroços, construir uma (...) muralha nas zonas fronteiriças, aproveitando os pianos de cauda da casa da música, os monitores dos palcos, as cadeiras das bancadas dos estádios, as esculturas do Chafes, as mais pesadas do Cabrita, e os aviões da Defesa, para conquistarmos a independência de Espanha, "bombardeando" o Reiña Sofia com objectos não explosivos.
Quem é que está numa? A revolução será televisionada, difundida e criada em tempo real pela web!

Publicado no fbaup.blogspot.com.

sábado, junho 4

O Granito é de quem o escreve!

A gente precisa é de gajos que gostei de dizer mal de tudo e de toda a gente! Vem ai a época festivaleira do Fundão, com os seus 3000 festivais temáticos: A Cale, A Cereja, O Vento, O Xisto, A Gaita, A Santa Paciência, O tédio, A Náusa, A Mediocridade, sei lá que mais...

Faço um ultimato à Autarquia: Ou tiram da cidade a montanha de Outdoors a publicitar as grandes obras que estão a ser realizadas, ou serão sujeitos a uma campanha tão violenta e baixa que até o João Cesar Monteiro ficava corado!

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