sexta-feira, setembro 10

O mexilhão das SCUTS

Quem te SCUT teu amigo é, já dizia o cherne que fartinho das águas turvas da charca nacional, lá deu à barbatana até ao oceanário de águas tépidas de Bruxelas. Foi-se o cherne e as suas promessas bíblicas de discriminação positiva para o interior, e que as SCUTS eram para continuar assim sem custarem um tusto ao utilizador-interior, que coitado já tem preocupações de sobra para encher o depósito de gasoil para ir à cata da cereja e dos míscaros.
Foi-se o Cherne e as suas promessas de "borlas" aqui pró brejo poder acelerar à brava na A23, foi-se o Durão "mole" e eis que chega o Mexilhão, essa espécie de bivalve que já encheu os cofres da Galp à conta da liberalização dos preços do combustível, e se prepara agora para arranjar empregos na Beira Interior a mais de uma centena de portageiros.
Esta é a verdadeira revolução administrativa - a descentralização das portagens.
Este ministrinho de fatinho às riscas, que ganhava sempre ao Monopólio e ao Risco quando era rapazote, está agora cheio de pica para por os beirões a pagar uns euricos para ir do Fundão à festa do Anjo da Guarda em Alpedrinha, com direito a viagem panorâmica pelas entranhas da Gardunha. Afinal, alguém tem de pagar as contas de electricidade do túnel, e esse alguém não há-de ser essa espécie de bivalve liberalote, que a malta cá do brejo para "beneficiar de uma via rodoviária de qualidade superior" tem de pagar.
Afinal, champagne e caviar não são de borla.
O frenético mexilhão prometeu estudar as soluções para fazer uma descriminação positiva a nível local, beneficiando os comerciantes e as indústrias, com descontos e bónus, ao melhor estilo do Cartão-Galp, mas diz que o plano de fechar a A23 com cabines de portagens é mesmo para avançar já em 2005.
Diz o mexilhão-artista que é preciso pagar a manutenção das vias, bem como assegurar a conservação dos outros 15 mil quilómetros de estrada em boas condições. Cá para mim, e a julgar pelo estado lastimável das outras estradas da Beira Interior, literalmente entregues ao abandono (ou seja, aos retoques das autarquias mais abonadas, ou mais bem relacionadas no Ministério), cá para mim, o dinheirinho vai mas é directamente para os cofres do Estado, para pagar o "déficite" de gestão e de bom senso.
Pagar auto-estradas sim senhor, desde que haja uma via rodoviária alternativa, de qualidade e segurança aceitável. Na Beira Interior esse não é bem o caso, a não ser que se conduza um TT (o ministro tem um para os fins-de-semana), ou uma carroça puxada a burros.
Mas o mexilhão até tem razão, para quê uma auto-estrada para o deserto, se o deserto é para continuar deserto?
Felizmente este bivalve está só de passagem, para a outra margem. Ainda ssim já fez questão de deixar marca da refinada inteligência que desde sempre foi apanágio da sua espécie -, a bivalve.

Comments:
“Copulação sem população”
Bill gaitas
Senhor Pelejão:

Ainda não tinha visto o piscar de olho do seu comentário e o texto endereçado ao rui era mesmo para ele e não para si. Só respondo a quem me interpela. Por minha iniciativa, zero. Nem para sujar nem para dignificar este espaço. Replico apenas com a merda que vocês tanto gostam de cheirar.

Sou o único genuíno servo da gleba a ruminar nesta pastagem, uma vez que o senhor até pode afixar textos, para além dos seus doutos comentários. Em termos de poder, o senhor situa-se no topo da pirâmide hierárquica dos idiotas que por aqui pasciam.
Apesar disso, o título de servo só agrava ainda mais a merda que escrevo ao tentar imitar a merda que vocês escrevem. Parte-se o vidro da loja dos “penhores” e descobrimos que estamos todos na mesma arena, pensando todos que somos fora de série e julgando passear em pastos inacessíveis a um leigo. A diferença está apenas na consciência que se tem disso, revelada por mim sem qualquer espécie de ressentimentos. Não sou de natureza agressiva, mas ser insultado por uma manhoso alcoviteiro, fresco que nem uma alface (não vejo a incompatibilidade), “granitonovista” de raiz, é algo que me cega a vista esquerda. Tudo só para manter intacto o meu ser e a consciência límpida dos meus tropeções e defeitos.
Compreendo que para um senhor que leia a moda dos ecos baudolinianos e que vacile nos pêndulos de Foucault, à procura do sexo dos anjos, ache qualquer caganita com dois vocábulos arcaicos, um exemplar de erudição (ridícula ou não). Mas isso é só problema seu e da sua crassa idiotice, pois eu não tenho qualquer pretensão de erudição (só tenho mesmo a do ridículo). Cita Baudolino, dizendo que o “vácuo só entretém quem faz do vazio seu pasto”, depois de escrever que tudo o que vem daqui é “comovedormente vazio”. Ou seja, o meu vácuo (perfeitamente assumido) ainda vai entretendo o senhor, senão nem sequer teria posto a sua foice em seara alheia, uma máxima que se deve antecipar àquela que reza que “a águia não se ocupa de mosquedo”. Cada gajo com a sua genial gaja. Ou será que o senhor também quer usar as minhas caganitas como pretexto exibicionista, para criar um espectáculo grotesco da sua escrita enquanto imagem? Não lhe bastam as suas politiquices bem-humoradas que lhe rendem tantos aplausos? Preocupe-se com o governo(o Santana esteve 15 dias de férias), com as taxas moderadoras, com o princípio do utilizador-pagador, com as portagens e mande umas graçolas (desde Viriato até José Cardoso Pires) para o pessoal se divertir e o aprovar como a um puto de 15 anos. É nisso que o senhor é realmente bom. Não venha com os apetites ideológicos da circunstância; pode julgar que está a mudar o mundo, mas está enganadinho, pois o senhor não passa de um bajulador a lamber o cú da História. O senhor é que vive funambulando entre a linha ténue que separa a erudição de pacote e os “comics” americanos. Sem querer cair em delírios persecutórios, o senhor não passa de um charlatão, de um mercador folião abordando as questões como quem trata de comércio da pastilha elástica. E porque não pára? Porque basta cuspir uma migalha da sua escrita, mesmo que valha um “peido de rã”, para ficar logo tudo a salivar, algo que o senhor adora. Até o entendo, o senhor troca a exigência por qualquer forma de demagogia que dê a estúpida ilusão de servir, por abusiva procuração, interesses que não são os seus.
Só para assistir à sua rábula intriguista e arlequinada já valeu a pena adiar a partida. Até estou a ser simpático consigo, o senhor até escapa ao bafo da estupidez exalado pelo Floriânus Peixoto e outros. Referiu-se à minha elevada auto-estima, o que me faz, perante este cenário, recordar e pedir as palavras de Kirk Douglas no final de um filme: “constato que perco habitualmente de cada vez que aposto nos outros e que as únicas hipóteses de ganhar só surgem quando me dedico a apostar violentamente em mim”. Quanto à minha combustão intelectual, acho que foi provocada pela poluição atmosférico-cibernética que encontrei aqui, com um grande número de gases tóxicos; também não é alheia a este facto a minha passagem por uma medíocre clínica cubana.
Desculpe se as minhas mal- polidas figuras de estilo hipotecam a destreza e fluidez deste comentário, mas britar pedra aqui foi também um exercício de auto-ironia. Por vezes, as nossas intenções humanas frustram a natureza nas suas intenções.
As suas lúbricas sugestões de alguma beleza murcha podem consolá-lo, mas não me venha com um novo expoente da moral e sanador de males, que é, no melhor dos casos, uma árvore exótica que quando teve raízes no seu oriente nativo, vicejou e floresceu e foi abundante em bálsamos, mas transportada para um clima mais temperado, as suas raízes perderam o vigor enquanto a matéria que dela vem é estagnante, ácida e inoperante. Os seus textos relutantes e decorativos aduzem a isto.

P.S. Nas minhas aclamadas idiossincrasias, tenho por portentoso hábito injectar a pilinha na incauta donzela sem aviso prévio, como reforça o contexto, o que contraria a difamação do senhor Pelejão. Foi assim que penetrei no granito e será assim que daqui sairei.

Respeitosamente,

Ass: Pascal, liptomaníaco compulsivo.
 
Hi,hi, que pândego este Pascal, que catita, olari, mas apesar do invólucro este continua a ser o autor que escreveu - os olhos das pessoas vibraram.
E quanto a isto batatas, porque pela obra se conhece o artesão, e não basta um dicionário de sinónimos e um chorrilho de referência avulso, para esconder a meia rota. Mas que é uma paródia, lá isso é.

Exibicionisticamente seu

Rui Pelejão
 
Só agora percebi, após uma leitura mais atenta da sua míssil-missiva, que o meu amigo sofre de um caso raro de deslexia da leitura, ou seja lê coisas e imagina coisas que eu disse de si, que não estão nem expressas, nem latentes no texto. Por exemplo, quando falo de servo (estava a referir-me a nós e não a si), e de pilinhas, só falo da minha, que felizmente é a única que conheço pessoalmente. Mas, o meu estimável amigo, que apresenta sinais evidentes de esquizofrenia egocêntrica, leva logo tudo para o seu peitilho tauromáquico, e vai de lide, de bandarilha e e vai de pega.
Suspeito que isso revela uma inclinação para a pega de empurrão, não querendo aqui adensar-me nos mistérios da sua vida sexual, que deve ser pelo menos tão empolgante como a sua escrita.

Apesar de tudo, tiro-lhe o meu chapéu, porque nestas estéreis polémicas virtuais, sempre me apraz saber que a língua (ainda que deliciosamente viperina) ainda é, como deve ser, uma arma pontiaguda e incómoda. Só lamento que a canalize unicamente para o seu programa escatológico, que é a única idelogia que lhe abre o apetite. Eu cá por mim prefiro um cabritinho no forno.

Isso de julgar que eu me pavoneio com a escrita é inteiramente verdade. Sou um pavão encartado, e ando há anos a aperfeiçoar a pena, a ver se me dá dividendos junto das gajas. Até hoje, nada, zero, népias. Nem um convite, nem uma lisonja, nem uma cambalhota. Zero, por isso não pense que esta merda de andar a lamber o cú à história dá gajedo ou aclamação, desengane-se, não se meta nisso, que eu já cá ando a alguns anos e até agora não ganhei nem um tusto com isso, nem sequer um tórrido encontro sexual com uma desconhecida.

Para terminar este nosso "pas de deux" gostaria apenas de lhe dizer duas coisinhas:

1º Só me meti nesta "caldeirada" porque me chamou alcoviteiro. Não é que eu considere isso um insulto, apenas uma pueril falta de cultura etimiológica - Um alcoviteiro é alguém que providencia lençois e donzela a outrém, e eu já tenho grande dificuldade em providenciar isso a mim mesmo quanto mais. Por isso, ou o senhor desconhece o significado da palavra alcoviteiro ou me desconhece a mim (a segunda hipótese é mais provável, e mais tranquilizadora).

2º Quanto à vil acusação de eu querer mudar o mundo (essa sim doeu), o meu amigo está completamente enganado, mais uma vez já me dá trabalho como ó caralho a tentar mudar-me a mim, sem sinais de êxito aparente, já estou como a música dos The The "If you can´t change the world, change yourself". Para todos os efeito, a sua citação do Kirk Douglas, confirma tudo aquilo que eu suspeitava de si, um desumano snobismo que o faz desprezar de forma insolente os outros e as suas opiniões. É pena, um total desperdício de talento com o próprio umbigo. Aposte em si, mas de vez em quando vá também a jogo.

De qualquer modo, foi um prazer esta troca de correspondência.
 
Senhor Pelejão, em jeito de conclusão:

1) Tenho a preocupação de tentar responder às vossas interpelações no mesmo tom e estilo, pois só quero copiar a merda que escrevem. Ainda bem que o senhor não só tem um bom repertório de sinónimos, como também se revela assaz conhecedor da etimologia das palavras, aliás só assim se poderia conhecer tão bem. Se a minha expressão escrita melhorou só o devo a si: as suas referências avulsas e escrita de sinónimos (eu chamo-lhe folião e o senhor chama-me pândego) contagiaram-me e repliquei no mesmo espírito truculento, numa postura tão servil como elegante, apesar de reconhecer que tenho um vocabulário mais rudimentar (deixo-me levar pelo som das palavras) e uma cultura-esmola de subsistência, da qual já falei. Mesmo assim, consegui ir de Umberto Eco (por imposição sua) a Kirk Douglas. Posso-lhe garantir que cada imbecil que me dá ouvidos tem o invólucro que merece. A posição social que ocupo obriga-me a fazer distinções por cortesia (pseudo) literária.

2) O antídoto para o meu veneno tem o seu nome, apesar de não ser fácil domesticar-me, pois sofro, como diz o senhor, de uma “esquizofrenia egocêntrica”(o senhor é extraordinário ao ponto de ainda conseguir inventar e dar sentido a novos conceitos- é um verdadeiro Umberto Eco!) e, acrescentaria, que sofro também de uma versatilidade tão interessante como absurda. Mas mais uma vez, meu senhor, limitei-me a seguir-lhe as pisadas: veja como o senhor borrou mais de metade do seu comentário a falar de si, das suas gajas, das suas frustrações, dos seus êxitos, da sua escrita. O senhor conhece-me bem porque se conhece ainda melhor. Espero que tenha um bom médico para a sua “esquizofrenia egocêntrica” e que tenha a humildade de mo aconselhar.

3) Já lhe disse que não tenho nenhuma pretensão escatológica, erudita, exibicionista ou outra qualquer que o senhor agora assume ter. Não vislumbro nenhum “desumano snobismo” naquilo que lhe “disse”, acho até mais acessível e sensato citar um bêbado de um filme do que um livro do Umberto Eco. Acho que também não consegui atingir o seu patamar de snobismo.

4) Obrigado pela sua aclaração quanto ao genuíno e puro significado de Alcoviteiro. Estamos sempre a aprender, isto afinal até consegue ser pedagógico.

5) Não desprezei os outros nem a sua opinião. Apenas insultei a escrita de alguns marmanjos dentro dos limites da minha própria opinião, nada de grave (o senhor fez o mesmo). Mais, até fiz questão de responder no mesmo registo às várias interpelações. Quer maior prova de que não desprezei ninguém?

6) Fala-me de dislexia de leitura. Mas vai dizer-me que não citou Baudolino e uma máxima, que inventei tudo? (foram as únicas referências directas ao seu comentário que apresentei). Os outros restos são disparates que não nasceram necessariamente do seu comentário.

7) Optei agora por um discurso pleonástico e secante para o obrigar a perder mais tempo e paciência (acho que estamos os dois na mesma onda).

8) Cada pilinha a quem a trabalha, nisso concordo consigo. Nada de difamações pilionásticas e muito menos de insinuações de cariz sexual. Sou um daqueles puritanos que ainda tenta separar o sexo da escrita.

9) Não partilho de nenhum prazer especial nesta pequena correspondência consigo. É o mesmo que tive com os outros, mas até foi divertido nalguns momentos. Por mim e, pelo que li acima, também por si, esta troca de palavras está terminada. Vou finalmente poder ir embora desta bodega.

Ass: Pascal
 
Apologia de Pascal

Rui Pelejão:

Desta vez parece que a sua douta ignorância e sua cultura infinda não lhe deram para compreender Pascal que, utilizando a literatura num sentido amplo e total, conseguiu destruir a própria literatura, pelo menos como alguns a entendem, ou seja, como vaca sagrada. Naturalmente que ele provocou uma crise no que diz respeito aos direitos de autor (mas recorde-se como foi o senhor o primeiro a dizer que aqui não havia direitos de autor, e até isso ele soube parodiar), tal como Borges o fez em nome da Criação. Pascal é um só, Pascal é vários. São vários autores que deambulam nas suas linhas, e só a ignorância de alguns pode ver nele uma fraude ou um génio original. Para lhe mostrar que o senhor não é nenhum juiz da idiotice dos outros, mas sim a prova viva da sua própria idiotice, vou-lhe mostrar aquilo a que o senhor chama de fraude em Pascal:

“ Tempos houve em que a poesia calava os homens e dava lugar aos elementos. Por vezes, a chuva parava para o vento declamar, outras era o Sol que raiava…” Shelley

“ a palidez de cera do seu rosto era quase espiritual e os olhos vibravam-lhe encastoados em brilhantes pestanas…” Eça de Queiroz

“ tudo se dissolveu, tudo silenciou, excepto as crianças que sorriam/
rimando com a atmosfera paradisíaca” Milton

“a poesia é a voz multidimensional de uma cultura” Sastre

Se quiser saber as obras e as páginas onde se encontram tais referências, é só dizer. O ónus desta diligência literária armou-me bem. Ainda bem que o Floriano Peixoto está a anos-luz, e o meu amigo também, do que Shelley, Eça, Milton, Sastre e outros conseguiram. Felizmente, apareceu um Pascal a rir-se na vossa cara daquilo a que os senhores convencionalmente chamam de “boa literatura”. O que o Pascal fez foi destruir essas formas (fórmulas), essas receitas literárias de compadrio. E fê-lo muito bem. Até foi preciso acabar com os comentários, tal era o incómodo.

Pois é, senhor pelejão, para a próxima tenha mais cuidado e leia mais. Da minha parte, sirva-se da sua ignorância à vontade, devemos seguir o conselho de Michel, e não ter medo de manifestarmos a nossa ignorância.

Respeitosamente, peter
 
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