quinta-feira, setembro 16

As vírgulas de mascarilha (e a fome que calam)

Salto do Verão para a pedraria e tropeço em vírgulas de mascarilha que zurzem coloridos espadachins como se estivessem numa festa de drag-queens fora do prazo. Olhamestamerda! Então afinal a picareta serve para prospecções escatológicas ao esfíncter de cada um, sem que no entanto se descubra qualquer vantagem para a ciência da língua ou para o pasto dos animais - amendoins para os macacos, alfarrobas para os cavalos e prontuários para os demais, digo eu! Canetas mascaradas, de lençol às costas e bisnaga nos beiços, são meros objectos de folclore. Mas tudo o resto é patológico e está infestado de fungos, desde as insinuações às acusações, passando pela estrita verborreia masturbatória (que acaba por ser a grande parte). Há aqui adubo suficiente para pasteurizar a Beira Interior em merda de uma ponta à outra. Por isso, calem-se os montes e as serras porque as vozes que aí habitam renderam-se ao vazio, ao esquecimento, à incúria, à demissão, à traulitada pueril e, acima de tudo, viraram costas ao Fundão, à Beira e uns aos outros. O que dói mesmo é que depois de bem espremidinha, à força de muita fé na espécie e alguma expectactiva depositada nos amendoins criativos (ou deverei dizer neurónios?), a safra literária é confrangedoramente pobre, sem qualquer sentido de condição, seja ela territorial ou social, sem nenhum acrescento à linha de exigência que urge sublinhar na Beira e sem ponta de interesse lúdico. Já nem sequer sorrio, simplesmente pasmo! Que tipo de fruto dão as mascarilhas? Talvez daqueles que depois de ingeridos fazem arrotar obsessivamente. A questão já não é tanto moral, é sim temporal: até quando nos vamos contentar em bicar do chão o milho atirado ao vento? É só olhar em redor para perceber o que verdadeiramente falta para calar as cavernas de onde ruge a fome. Todos os tipos de fome se instalaram na Beira tricotando mascarilhas. E não é que há tantos que as usam! Pois a minha fome, desmascarada, é a fome de um território que ninguém sabe que se chama Portugal. Esse é o meu interesse no Granito. Tudo o resto…pffff. Demasiado utópico? Demasiado romântico? Prefiro os utópicos de falinhas românticas a bafejadores de ventosidades mal-cheirosas expelidas pela derradeira vértebra da nossa evolução! Por muito bem escritas que sejam…pfff, provocam sempre uma verde náusea.
Até já, Granito.
Bruno Ramos

Comments:
Este texto faz-me lembrar alguns comentários do Pascal...
 
Bruno:

Somos todos extremamente frágeis e temos tantas coisas ocultas que nem conseguimos ser sinceros com nós próprios. Ó bruno, não te armes em santinho nem em romântico utópico( se o és escusas de o dizer). Com este texto só te aproximas da troca de mimos entre o Pascal e o Pelejão, descendo ou subindo ao seu nível. Estás metido nisto até às orelhas.

João
 
Bruno alguem me tirou a picareta!! Dá-me lá uma nova!
 
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