quarta-feira, junho 15

O país esperança e o país hospício

Uma coisa boa de ir de férias para o estrangeiro, é que se tira férias de Portugal. Assim sem mais nem menos, desliga-se a televisão, rega-se as plantas, cancela-se a leitura da Bola e do Público, abafa-se a TSF, faz-se greve de combóios e autocarros e um gajo pira-se sem deixar rasto, número de telemóvel ou ficha de identificação dentária.

Um gajo escapar-se dez dias de Portugal é como meter um adiamento na tropa; não se resolve o problema mas sempre se esquece dele, com caipirinhas, forrós e os olhos a dançar na linha de água e na linha de cintura das pernambucanas.

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Vou ali ao Brasil e já volto, disse à minha PlayStation 2, querida companheira de tantas horas amargas. Dei férias ao Cristiano Ronaldo ao Figo ao Petit e ao Simão, meti o Lobo Antunes e o Rubem Fonseca na bagagem e ala que se faz tarde.

Na terra de Pernambuco que podia ser grande terra se os holandeses lá tivessem ficado mais do que apenas 30 anos mandei codificar a SIC Internacional e de Portugal durante 10 dias, nicles, batatóides.
Era como se a terra do Camões e do Álvares Cabral se tivesse afundado como uma jangada de pedra. Passei a viver no Recife, ocupado com os problemas dos brasileiros, a sofrer com a derrota do escrete com a Argentina e a cagar-me de alto para a Estónia a Eslováquia e as eslovacas e mais a puta que os pariu a todos.

O leque das minhas preocupaçõe passou a medir-se entre a alternância de caipirinhas e caipiroskas e daiquiris, bebida mais paneleirota assumo, ou então a prisão do filho do Rei Pélé e os casos de corrupção do Governo de Lula (voltarei a estes dois temas noutro post).
O mais que estive em Portugal foi quando um dia no sertão vi um gajo a vender camisolas do Benfica a turistas e pensei - quem é que será o treinador do meu Benfica? - benzi-me rapidamente e afastei esse laço de portugalidade da mona.

De resto, estive muitas páginas em Portugal, mais precisamente no Hospital Miguel Bombarda, no meio dos maluquinhos a baterem punhetas no jardim e a voarem da enfermaria do oitavo andar, ou a levar seringadas de psiquiatras drunfomaníaco-depressivos e de enfermeiros seviciosos.
"Conhecimento do Inferno", o livro de Lobo Antunes foi o mais perto que estive de Portugal. Lá ao longe e através da escrita labirintica e quase visceral de Lobo Antunes vi ao longe um país hospício, velho e decrépito, a cair de podre, cheio de infiltrações e humidades, com os xonés andrajosos a descreverem eternos círculos no jardim ou então a cravar beatas e a dar ordens bracejantes num trânsito ilusório.

Ao longe, lá do lado irmão do Atlântico Portugal parece mesmo um País Miguel-Bombarda, guardado pelo vício e onde a esperança sucumbe a injecções arbitrárias e a calmantes em dose cavalar.

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Num país novo e bravio, carregado de energia e testosterona ainda há esperança de um mundo novo e melhor. Os brasileiros dizem que há 500 anos que vivem da esperança, mas que ela não chega para pagar as contas até ao fim do mês.
Mas é um desencanto diferente do nosso. O deles é com um sorriso e com um punho fechado e um braço forte, o nosso é um encolher de ombros, uma fatalidade, uma rendição de país velhadas, esclerosado e sem esperança.

Num país como o Brasil, apesar da corrupção, da pobreza, das oportunidades perdidas, do crime, dos contrastes, das melgas, do calor; apesar de tudo isso dá mesmo vontade de meter as mãos ao trabalho, de construir, de agir, de participar, de reclamar de manifestar. Dá vontade de estar com os amigos ao fim da tarde a beber choppes a falar de futebol e de sonhos.
Dá vontade de lutar e de viver.
Aqui, neste paraíso- artificial vallium e prozac só dá vontade nos metermos na jaula e pedirmos ao enfermeiro para passar o ferrolho para dormirmos em paz.

O Brasil é uma tesão, Portugal uma pila murcha, velha e engelhada.

O pior de ir ao Brasil é o bilhete ter escrito ida/volta, e depois de uma semana de liberação, regressar ao velho hospício e verificar que está tudo na mesma, nem uma fachada nova, nem uma nova flor no jardim, nada.
A lesma no marasmo da mesma.
Saber que no hospício:


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- O Governo já orientou emprego para mais de 1000 aparatchiks do partidinho e amigotes rançosos

- A Galp foi tomada de assalto por lastimáveis socialistas como Pina Moura e Fernando Gomes (que pouca vergonha), e saber que sempre que estivermos a meter gasóleo vamos extra a pagar um bocadinho do ordenado destes sefarditas

- Que o país destaou a arde ao mínimo fósforo e que ainda não há aviões prontinhos, porque a habitual negociata Estado/alocadores de meios aéreos só previa que chulice dos fogaréus começasse no final de Julho, e que o novo Governo, coitado, estava de mãos atadas, e os meses que já leva de estado de graça ainda não deram tempo para desatar as mãos para apagar fogos.

- Que o ministro das Finanças vem de talhe e foice, mas guarda na carteirinha amoral o seu ordenadozito mais uma pensão (um gajo que ainda nem fez 50 anos), extingundo de uma penada toda a moral pública de pedir sacrifícios aos outros. Assim sim, vale a pena ser funcionário público, porque raio havia o gajo de ir para o privado?


- Que o Marcelo Rebelo de Sousa acha que os políticos recebem pouco e têm privilégios para compensar - ele lá sabe!

- Que 70 mil novas camas piolhentas de turismo avançam para o litoral alentejano e ameaçam betonizar uma das poucas áreas do litoral que ainda passava relativamente incólume à voracidade de promotores canalhas e à ganância de autarcas-bandidos.

- Que o presidente do Benfica continua a fazer um choradinho por causa do cartão-agiota, eu cá por mim não compro e espero que assim cumpra a ameaça do adeus ó vai-te embora.

- Que o Peseiro correu com meia equipa de gente séria e foi ao Brasil às compras de supermercado a ver se encontra outro Liedson entre os pacotes de arroz e farofa.



- Que a Lili Caneças e aquele cabeleireiro asqueroso continuam a fazer capas de revista e a ser leitura obrigatória no combóio para a Cruz Quebrada.

- Que o Luís Delgado ainda escreve no DN, é comentador na SIC e sei lá mais o quê.

- Que o Guterres fazendo jus à sua condição de refugiado/fugitivo político é agora Alto Comissário para os Refugiados.
Povos de todo o mundo eis um excelente motivo para ficarem bem quietinhos nas vossas terras.

- Que o Durão Barroso acha que é melhor dar um tempo à Constituição. Como fazem os namorados desavindos a dizer, o melhor é para para pensar na nossa relação. Já toda a gente com namoricos tarimbados na agenda telefónica sabe o que este paleio quer dizer. - Ó referendo espera ai um bocadinho pá, que eu vou lá fora fumar um cigarro e pensar melhor nisto!

- Que há três portugueses que aderiram ao Tratado Constitucional e comungam dos princípios de Shengen ao fazerem parte de uma rede internacional de pedofilia na net, enquanto por cá os pedófilos-nacionais correm perigosamente para fora da rede.

- Que o Freitas é o tal homem em duplicado, como o do Saramago, ou como o papel-químico. Como ministro pensa uma coisa, mas pessoalmente pensa outra totalmente diferente. É um Mr. Hyde a dobrar finados.

- Que as marchas de Santo António continuam piores que as revistas foleiras do Parque Mayer, e que ainda há noivas de Santo António que se casam sem estarem prenhas!

- Que o Miguel Ângelo dos Delfins ainda canta
- Que o Manuel Maria Carrilho ainda é candidato.
- Que o António Vitorino ainda continua a dizer que NÂO é candidato a Presidente
- Que o Cavaco continua à espera de Godot.
- Que nos feriados a bicha para o Algarve atingiu 70 km de extensão e as arcas frigoríficas das morgues voltaram a estar lotadas.
- Que o café continua razoavelmente mau numa razoável maioria de estabelecimentos ditos de restauração.
- E que o preço dos copos continua em alta, e a alegria da noite, em baixa.
- Que o Bairro Alto está infestado de turistas: Alemães cavernosos, espanholas feias e tonitruantes, italianos rebarbados com a mania que são o Totti e japoneses que em vez de olhos têm lentes Nikon.
Sempre que viajo para longe, trago uma secreta esperança que alguma coisa tenha mudado. Mas nós por cá gostamos pouco de mudanças e na frente ocidental nada de novo, é a mesma valentíssima merda de sempre.




O Vasco Graça Moura escreve que a Europa está defunta, e eu pergunto-lhe se só agora notou o cheiro. Uma Europa velha que vai enterrando os seus mortos e a sua memória de um tempo em que sabia lutar, sabia acreditar, sabia ter esperança, sabia amar e sabia encontrar a beleza da poesia nas pequenas coisas.
É um pouco de luta, de esperança, de fé, de poesia e de amor que se enterrou com os corpos de Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade. O que vai sobrando é a nova trafulhice organizada num hospício de vícios antigos e hábitos andrajosos.

Isto ainda não é o Brasil, diz o sapiento e bafioso Moita Flores, comentado o arrastão de Carcavelos. Pois não, e é pena, comparado com Portugal, o Brasil é um país civilizadissimo!

Para a próxima meto baixa psicológica de Portugal, e compro um bilhete só de ida.
Vou-me embora para Pasárgada!

Comments:
Tiraram, mas são para consumo caseiro, hi, hi. Home vídeo pá, home vídeo

Um abraço
 
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