quinta-feira, junho 16

A maravilhosa actividade da comunicação.

A palavra design durante o seu período de entranhamento no vocabulário popular, passou a ser utilizada para adjectivar positivamente um produto que se submeta aos cuidados da disciplina. O seu desenvolvimento paralelo e complementar ao das artes do século XX nem permitiu aos profissionais especializados na área encararem o seu trabalho com a seriedade dos estudos científicos, nem encontrar o conforto proporcionado pelas legtimações elitistas. Não faltaram tentativas para teorizar de modo sério a actividade, mas muitas delas atingiram conclusões ridículas. A teoria da cor de Kandinsky, por exemplo, apoiou-se sempre em opiniões pessoais, e os manifestos colectivos e individuais foram perdendo validade e pertinência.

As grandes batalhas da arte dos anos 70 travaram-se na frente da desmaterialização da peça, enquanto o design e a engenharia inventiva já tinham dada como certa a importância da ideia, aquando da primeira legislação relativa aos direitos de autor nos finais de séc XIX. Chegando ao séc. XXI, Design é um termo de uso massificado e o seu emprego funciona geralmente como garantia de produto de qualidade. Os teóricos do design deixaram de se preocupar com a imposição de restrições significativas à utilização da palavra, e talvez seja, esse, um dos avanços em relação à teoria da arte, que muitas vezes limitou a correcta aplicação do uso do signo a um número reduzido de practicantes. Invertendo o pensamento, Mário Moura ousa afirmar que "o design está para a arte assim como o pastor está para o rebanho", na medida em que a actividade previamente denomidada por arte comercial (a.k.a. design gráfico) encontra na arte (no convencional sentido do termo) um infidável número de recursos criativos. Não é uma questão de submissão nem de seguidismo. É antes um desporto como todos os outros onde quem tem mais jogadores pelo seu lado, marca mais golos.

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Nem todos os produtos são oriundos de um processo bem sucedido de trabalho de avaliação, detecção e resolução de um problema comunicacional mas o exercício de distinção entre a práctica correcta de uma disciplina e o mau uso da mesma actividade, nunca ficou totalmente resolvido. É nesse campo que a comunidade de designers incide recorrentemente com a mesma obcessão que os artistas plásticos modernistas tinham na primeira metade do século XX. A procura do novo e a ultrapassagem qualitativa ou quantitativa do modelo anterior, ainda hoje ajudam o espírito competitivo a criar novos códigos apoiados nos já existentes. Este estado só é possível porque na sua génese, o design, resolvia problemas de comunicação. A actividade que surgiu para remendar com criatividade os métodos de produção em série, foi relevante para enobrecer o meios de comunicação para massas. Com o passar dos anos, houve quem passasse a descrever o Design como um contentor apelativo mas vazio de significado, pro-consumista, sem quaiquer pretensões de democratização. Ou melhor, como uma actividade cujos propósitos seriam os de acentuar uma estratificação social em prol de detentores de maior poder económico e político, que financiam a própria actividade. Não sendo uma disciplina estanque, nem necessitando de ligitimação por parte de elites, o Design sempre conseguiu evitar a completa cedência aos interesses particulares. Ele ainda é importante como forma de comunicação colectiva e o seu alcance torna possível que a melhor e/ou a pior das mensagens circule livremente.

Comments:
Texto muito interessante, parabéns, mesmo se nalguns pontos existe uma visão um pouco sectarista que naturalmente é de efeito profissional :)
 
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