sexta-feira, fevereiro 6

Comunidade ou condomínio de interesses

Camarada Bruno, a questão que levantas sobre as Comunidades urbanas, merece uma análise atenta, que não se compadece com espaventosas ejaculações opináceas que este teu amigo é pródigo em fazer. Não queria, no entanto, deixar de dizer que mais do que a querelice politiqueira em que os nossos estimados autarcas gostam de se envolver, parece-me que é a própria criação de Comunidades Urbanas como novo modelo de organização territorial (que é como quem diz, modelo organizacional de captar subsídios) que me parece pouco sustentável.
Em primeiro lugar, a designação Comunidades Urbanas, faz pressupor uma continuidade geográfica, ou pelo menos proximidade, entre cidades médias, que é realidade inexistente no interior do País.
Este é portanto um modelo desfazado da realidade do nosso País; desfazado no espaço e sobretudo no tempo.
No tempo, porque esta “reorganização” territorial está quinze anos atrasada e a sua única justificação reside numa tentativa desesperada de Portugal conseguir aproveitar racionalmente as últimas gotas de investimento comunitário.
A grande teta comunitária vai secar muito brevemente, e aí seremos finalmente confrontados com um retrato deprimente de um País subsídio-dependente que perdeu uma oportunidade histórica para se desenvolver correctamente.
Mais do que as querelas dos nossos autarcas, que na sua mesquinhice habitual estão ocupados a tentar dividir os tostões finais do saque à boa vontade comunitária, o que é deprimente é perceber que sucessivos governos e uma inteira geração desperdiçou uma oportunidade histórica de fazer um País novo.
O que temos é um País velho, com alguns adereços novos. O que temos é o País do Alqueva, da Expo 98 e do Euro 2004, o que temos é um país culto no desperdício e erudito na arte da golpada. Temos laçarote e meia rota.
Aliás, gostaria apenas de recordar, que ao contrário da reputação que goza, eu acredito que o principal responsável do atraso endémico de Portugal e da autêntica vergonha nacional que foi uma década de açambarcamento de subsídios estéreis e irreprodutivos,
eu acredito que o principal responsável político tem um nome. Chama-se Prof. Aníbal Cavaco Silva, e graças à memória curta e grossa do povo português, é ele o principal candidato a ser o próximo Presidente da República Portuguesa. É o regresso à cultura aparente do sucesso fácil e da prosperidade enganadora que nunca gozámos, é nesse saudosismo parolo e míope que se baseia a crescente popularidade do Prof. Cavaco.
É bom não esquecer que foi durante o seu “próspero” e “progressista” consulado que Portugal recebeu o maior volume de investimento comunitário, e foi durante o seu consulado que os subsídios à agricultura, à formação e ao desenvolvimento regional, acabaram na maior parte das vezes para engrossar umas contas bancárias, para comprar jipes de alta clindrada, ou foram desviados para outros fins mais obscuros.
É por causa do Governo do Prof. Cavaco Silva e do Engº António Guterres, que foram complacentes com a tripa forra aos subsídios comunitários, que hoje nos encontramos no último lugar do pelotão europeu.
Mas a culpa não é só deles, é de todos nós, que fomos sendo anestesiados com créditos, telemóveis, automóveis potentes, viagens ao Brasil, Expo`s 98, grandes auto-routes, e life style.
Se aos políticos a história não vai certamente perdoar, a todos nós é a consciência que nos vai pesar no dia em que descobrirmos que continuamos a viver num país pobre em que o fosso entre ricos e pobres vai ser cada vez mais cavado, num País dependente, com um interior moribundo e que definha à sombra da inércia, num país onde a esperança é palavra vã...
Com ou sem Comunidades Urbanas, com ou sem regionalização, com ou sem políticos de meia branca, nada de fundamental vai mudar em Portugal, até ao dia em que começemos todos a mudar.
Há uma música dos “The The”, que pode ser um bom princípio. “If you can`t change the world, change youself”. Acho que vale a pena tentar...

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