quinta-feira, agosto 4

House Music all night long!

Não são necessárias muitas idas às danceterias da moda para compreender que a House está diferente. Em pouco mais de duas décadas aquilo que começou por ser a expressão musical de um grupo de pessoas residentes em Chicago dissolveu-se na cultura mundial. Talvez dissolução não seja o melhor termo para descrever o que as culturas que a tempo lhe mudaram.

Se existem pessoas que podem ser responsabilizadas pelo maior fenómeno de música de dança popular até hoje registado, essas pessoas são Ron Hardy e Frankie Knuckles. Os métodos que eles usavam para misturar os temas ainda não atingiam os níveis de sofisticação de hoje, e apenas os criadores do turntablism como Grandmaster Flash e Kool Herc conseguiam transformar a coisa numa arte. Ron e Frankie conseguiam não parar a música durante 9 horas se necessário. Para tal utilizavam curtas sequências de ritmos e trechos A cappella de modo a não fazerem colidir os diferentes tempos das faixas audio. A partir de meados da década de setenta, Ron Hardy já misturava discos em turntables e fitas em máquinas reel-to-reel em sets de 72 horas. Entretanto, Frankie Knuckles trabalhava para uma audiência na parte sul de Chicago, no Wharehouse onde misturava New wave, Funk, Jazz, et cetera, com ritmos produzidos por ele.

whare house

Ambos foram reciclando as suas actuações com acetatos prensados e fitas, dos “novatos” que, ao mesmo tempo que eram influenciados pela extravagância dos seus sets, desenvolveram o fenómeno. Marshal Jefferson, Larry Heard, DJ Pierre, Adonis, entre muitos outros, foram conduzidos à House por eles.

reel 2 reel 2


A maioria dos produtores de House tinham fortes ligações à música. Adonis tinha começado a demostrar interesse pelo Jazz seu contemporâneo que estudou no American Conservatory of Music. Uma audição descontraída dos primeiros 16 compassos de No Way Back chega para denotar algumas das raízes do movimento.
Também o hino da House Music, Move Your Body de Marshal Jefferson, é prova desta forte ligação ao Jazz.
Além da dura verdade que atingiu a juventude conservadora dos anos 80, (a House foi criada principalmente por pretos homossexuais e o seu público inicial era maioritariamente constituído pretos homossexuais) houve mais razões para a inexistência da explosão imediata. O som de Chicago era mais profundo e extravagante do que o Disco comercial da altura e, apesar de imediatamente se ter expandido por um punhado de clubes de Chicago e Nova Iorque (Wharehouse, The Loft, Paradise Garage, Club Zanzibar…), não houve aceitação fácil por parte das editoras multinacionais.
Nathaniel Pierre Jones, por exemplo, começou a produzir com dois amigos uma sonoridade que se diferenciava dos timbres House. Com a ajuda de uma caixa de ritmos velha e alguns sitetizadores (entre eles o TB303) criaram uma série de temas que deram a Ron Hardy. O DJ não resistiu e começou a difundir aquilo a que agora chamamos Acid-House. A primeira vez que Ron tocou um tema de Phuture, ele ainda não tinha sido lançado. Passou-o 4 vezes, sendo que nas primeiras mesmo o público habituado à House não reagiu bem (“What’a fuck is it?!!”) e à quarta a estranheza entranhou-se. Os temas foram trabalhados por Marshal Jefferson, re-gravados e lançados em 1986 sob o nome de Acid Trax, de Phuture.
Uma nota: a Roland tinha criado o TB303 (sintetizador de linhas de baixo) para acompanhar guitarristas solistas. O timbre artificial da máquina não convenceu o público alvo e a sua produção foi terminada pelas 20 000 unidades. Consequentemente podia ser comprado por muito pouco dinheiro numa loja de objectos usados.

Ibiza

À Europa o estilo chegou por Ibiza, local de férias de muitos jovens dos países do norte europeu. No final dos anos oitenta Manchester ainda dava cartas. A Factory tinha já os New Order. Na Haçienda tinham tocado nomes como a desconhecida Madona (em 1984), Happy Mondays, OMD, The Smiths e Eurythmics…
Mas a aprovação das massas veio com a chegada da Acid House. Alguns residentes mal informados diziam que a Acid tinha começado em Manchester pela mão dos 808 State e de um tipo chamado Gerald Simpson (AGCG). O fenómeno foi mal interpretado em muitos sentidos e o consumo de esctasy, speeds e outras substâncias ilegais foi imediatamente relacionado com os compassos 4/4. Hoje em dia existem produtores de Jungle que citam a vaga de Acid House como decisiva na evolução dos seus trabalhos. Não será certamente alheia a este facto, a lei anti-consumo-de-XTC que proibiu que os clubes ingleses tivessem música repetitiva no ar.

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