terça-feira, novembro 16
Pôr o dedo na ferida
O assassinato do cineasta Theo van Gogh, no seio de uma das mais exemplares sociedades multiculturais europeias, a holandesa, coloca o problema do terrorismo num plano não só político mas também cultural: o do confronto entre duas ideias diferentes de civilização, de valores humanos e de direitos sociais. É este pôr do dedo em cima da ferida que a Europa tem de fazer, de uma vez por todas, para sentir a dor de uma traição a uma ideia justificativa e desculpadora que ela própria construíu ao longo dos tempos, mas que é hoje violentamente posta em causa. A cartilha de postulados com que a Europa encara outros povos, perspectivada sempre à luz de um sentimento de culpa arreigado desde os tempos da colonização e expansão imperialista noutros continentes, está, no mínimo, desadequada.
Escrevo estas linhas contra mim mesmo. Faço parte daquela imensa maioria que sempre acharam que o conflito entre o Ocidente e o Islão (chamemos os pólos pelos nomes) girava essencialmente em redor de problemas geo-políticos, dos quais o conflito israelo-árabe é o nó górdio. A isto acrescia a constante ingerência ocidental em territórios árabes tendo em vista unicamente a exploração dos seus recursos naturais (petróleo) ou o aproveitamento da sua estratégica posição geográfica. São razões válidas, e penso que continuam a sê-lo. Mas são claramente insuficientes para que nelas se continuem a diluir todos os horrores.
Assassinar alguém devido às opiniões que expressa recorrendo ao seu inalienável direito à livre expressão (por muito errada, exagerada ou deturpada que estivesse) não tem nada de geo-político. É ser contra uma ideia de civilização e de sociedade. E fazê-lo no meio de uma sociedade de acolhimento, é vil.
Os EUA, muito à sua maneira obtuso-conservadora já encontraram uma forma de responder e reagir a este tipo de violência. Eu discordo total e visceralmente da equação que eles encontraram para solucionarem este choque de civilizações, na qual a reeleição de Bush é o denominador comum. Mas o certo é que os norte-americanos não tiveram receio de encarar os seus medos e de dar-lhes uma resposta, ainda que o preço tenha sido uma profunda divisão do país.
Na Europa, um constrangimento cínico nas altas esferas políticas e nos círculos sociais impede que se fale destas questões desassombradamente. E então? Quantos mais 11 de Março, Theo van Goghs ou células terroristas a operarem na casa ao lado, aproveitando o vazio que a litania humanista já não colmata e o respeito cultural que já não pacifica? Digo outra vez: é preciso despir alguns complexos e pôr o dedo na ferida de uma vez por todas! Sem cair em extremismos, xenofobias ou evagelismos anacrónicos e pouco consentâneos com o nosso capital humanista e civilizacional. Mas que é urgente outro tipo de resposta, discurso e acção parece-me mais do que evidente!
Escrevo estas linhas contra mim mesmo. Faço parte daquela imensa maioria que sempre acharam que o conflito entre o Ocidente e o Islão (chamemos os pólos pelos nomes) girava essencialmente em redor de problemas geo-políticos, dos quais o conflito israelo-árabe é o nó górdio. A isto acrescia a constante ingerência ocidental em territórios árabes tendo em vista unicamente a exploração dos seus recursos naturais (petróleo) ou o aproveitamento da sua estratégica posição geográfica. São razões válidas, e penso que continuam a sê-lo. Mas são claramente insuficientes para que nelas se continuem a diluir todos os horrores.
Assassinar alguém devido às opiniões que expressa recorrendo ao seu inalienável direito à livre expressão (por muito errada, exagerada ou deturpada que estivesse) não tem nada de geo-político. É ser contra uma ideia de civilização e de sociedade. E fazê-lo no meio de uma sociedade de acolhimento, é vil.
Os EUA, muito à sua maneira obtuso-conservadora já encontraram uma forma de responder e reagir a este tipo de violência. Eu discordo total e visceralmente da equação que eles encontraram para solucionarem este choque de civilizações, na qual a reeleição de Bush é o denominador comum. Mas o certo é que os norte-americanos não tiveram receio de encarar os seus medos e de dar-lhes uma resposta, ainda que o preço tenha sido uma profunda divisão do país.
Na Europa, um constrangimento cínico nas altas esferas políticas e nos círculos sociais impede que se fale destas questões desassombradamente. E então? Quantos mais 11 de Março, Theo van Goghs ou células terroristas a operarem na casa ao lado, aproveitando o vazio que a litania humanista já não colmata e o respeito cultural que já não pacifica? Digo outra vez: é preciso despir alguns complexos e pôr o dedo na ferida de uma vez por todas! Sem cair em extremismos, xenofobias ou evagelismos anacrónicos e pouco consentâneos com o nosso capital humanista e civilizacional. Mas que é urgente outro tipo de resposta, discurso e acção parece-me mais do que evidente!