terça-feira, novembro 23
A cereja no topo do hamburguer
Se há frutinha que marca o actual consulado laranja no Fundão é a cereja.
O simpático e emblemático produto das terras da Beira foi elevado ao estatuto de símbolo do regime, e qualquer dia corre o risco de passar a ser cuspido com o desprezo, devido ao afã massificador da autarquia em elevar a cereja a símbolo da nação fundanense.
Para os amantes das teorias conspirativas, a "intelligentsia" da CMF, que reconheçamos é escassa e se cinge a um gabinete de 10 m2, pegou na cereja ao colo e elevou-a a uma espécie de símbolo de propaganda política. Ao contrário do seu amigo Santana, que sempre gostou de mandar colar cartazes auto-propagandistas, o Dr. Freches descobriu na cereja um meio mais subtil de se auto-promover, a si e ao salvífico exercício do poder iluminado que retira o Fundão da Idade das Trevas e o coloca no mapa cor-de-laranja da atenção mediática.
Mesmo eu que sou pouco dado a teorias da conspiração começo a desconfiar de tamanho empenho na promoção da cereja.
Depois da campanha de "outdoors" que apanhou desprevenidos os condutores suburbanos da Grande Alface, foi a campanha do Euro 2004, e até aí tudo bem, mesmo se quisermos discutir a relação custo/benefício dessas operações de marketing.
Acho que foram boas operações de charme e que ajudam a associar o simpático fruto a uma simpática região.
Mas, com a notícia que li no "site" do JF de que os produtores de cereja, com o claro beneplácito da CMF (a grande estratega da imagem da cereja) estão a ver se conseguem colocar as cerejas do Fundão na Cadeia McDonalds, penso que se está a ter mais olhos que barriga. Em vez de um Big Mac, vamos agora ao McDonalds mamar umas cerejinhas do Fundão?
Entendo a "gula" de escoar a produção por uma mega-cadeia de "junk food", que conjunturalmente pode dar aos produtores um meio de ganharem uns valentes tostões, mas onde vão ser obrigados a "esmagar" as suas margens de lucro, para os Tio Patinhas do McDonalds poderem aceitar a presença dos nossos frutos ao lado dos Muffins.
Por isso, mesmo do ponto de vista da racionalidade económica, desconfio muito desta ideia.
E depois, mais grave do que isso. Ao colocar a cereja do Fundão como um produto massificado, comercializado numa cadeia que não goza da maior das reputações no que concerne à qualidade e ao equilibrio alimentar, está-se, na minha opinião, a fazer uma associação negativa para a cereja do Fundão.
Ora, se já foram gastas algumas centenas de milhares de contos na promoção do valor "qualidade" e no valor "sabor" deste produto, vai-se agora desperdiçar essa imagem apenas porque surge uma oportunidade de negócio interessante?
Qualquer aprendiz de "marketing" saberia explicar aos senhores produtores de cereja e aos "estrategas" da CMF que a colocação da marca "cerejas do Fundão" numa cadeia de "junk food" como o McDonalds pode até aumentar a notoriedade da marca, mas vai contrariar toda a linguagem e imagem que até agora foi construída para a marca - ou seja, produto natural da terra, de qualidade e com um certo sabor exclusivo.
Até posso entender a tentação dos produtores em terem no McDonalds um canal de distribuição e escoamento muito interessante, mas dificilmente entendo que a CMF possa "patrocinar" este "negócio" sob o risco de destruir todo o trabalho e investimento até agora competentemente feito para criar uma "imagem de marca" para as cerejas da Cova da Beira e para o próprio Concelho do Fundão.
Se calhar os teóricos conspirativos até têm razão, e a CMF só viu na cereja uma óptima e subtil forma de se auto-promover; e se assim for que melhor sítio do que o McDonalds para fazer campanha eleitoralista.
Espero bem que não, e que a pouca "intelligentsia" autárquica dedique a este assunto um pouco mais de reflexão, do que aquela que suscitam as euforias pacóvias e galvanizadas com a ideia de verem cerejas do Fundão no topo dum hamburguer McDonalds.
PS: Decorreu em Turim um gigantesco festival gastronómico, e na Alemanha as Olímpiadas da Gastronomia. Era aqui que a CMF devia apostar na cereja do Fundão, tornando-a um produto exclusivo e refinado, capaz de atrair as atenções dos grandes "chéfes" de cozinha do mundo inteiro. É que, por exemplo, se um senhor como Paul Bocuse, um dia decidir desenhar uma tarte de cerejas com os frutos do Fundão, o futuro estaria garantido, porque são estes homens que definem as grandes tendências da alta-cozinha europeia.
Podíamos até não ser tão ambiciosos, mas, por exemplo, porque não desafiar (e pagar) aos grandes chefes de cozinha portugueses para inventarem pratos e sobremesas com cerejas do Fundão, e depois podê-las apresentar a concurso nos grandes certames internacionais.
É mais fácil, e mais rápido escoar as camionetas de cerejas para o McDonalds, mas aí elas rapidamente deixarão de ser cerejas do Fundão, para serem simplesmente umas cerejas quaisquer. É esse o risco que se corre.
O simpático e emblemático produto das terras da Beira foi elevado ao estatuto de símbolo do regime, e qualquer dia corre o risco de passar a ser cuspido com o desprezo, devido ao afã massificador da autarquia em elevar a cereja a símbolo da nação fundanense.
Para os amantes das teorias conspirativas, a "intelligentsia" da CMF, que reconheçamos é escassa e se cinge a um gabinete de 10 m2, pegou na cereja ao colo e elevou-a a uma espécie de símbolo de propaganda política. Ao contrário do seu amigo Santana, que sempre gostou de mandar colar cartazes auto-propagandistas, o Dr. Freches descobriu na cereja um meio mais subtil de se auto-promover, a si e ao salvífico exercício do poder iluminado que retira o Fundão da Idade das Trevas e o coloca no mapa cor-de-laranja da atenção mediática.
Mesmo eu que sou pouco dado a teorias da conspiração começo a desconfiar de tamanho empenho na promoção da cereja.
Depois da campanha de "outdoors" que apanhou desprevenidos os condutores suburbanos da Grande Alface, foi a campanha do Euro 2004, e até aí tudo bem, mesmo se quisermos discutir a relação custo/benefício dessas operações de marketing.
Acho que foram boas operações de charme e que ajudam a associar o simpático fruto a uma simpática região.
Mas, com a notícia que li no "site" do JF de que os produtores de cereja, com o claro beneplácito da CMF (a grande estratega da imagem da cereja) estão a ver se conseguem colocar as cerejas do Fundão na Cadeia McDonalds, penso que se está a ter mais olhos que barriga. Em vez de um Big Mac, vamos agora ao McDonalds mamar umas cerejinhas do Fundão?
Entendo a "gula" de escoar a produção por uma mega-cadeia de "junk food", que conjunturalmente pode dar aos produtores um meio de ganharem uns valentes tostões, mas onde vão ser obrigados a "esmagar" as suas margens de lucro, para os Tio Patinhas do McDonalds poderem aceitar a presença dos nossos frutos ao lado dos Muffins.
Por isso, mesmo do ponto de vista da racionalidade económica, desconfio muito desta ideia.
E depois, mais grave do que isso. Ao colocar a cereja do Fundão como um produto massificado, comercializado numa cadeia que não goza da maior das reputações no que concerne à qualidade e ao equilibrio alimentar, está-se, na minha opinião, a fazer uma associação negativa para a cereja do Fundão.
Ora, se já foram gastas algumas centenas de milhares de contos na promoção do valor "qualidade" e no valor "sabor" deste produto, vai-se agora desperdiçar essa imagem apenas porque surge uma oportunidade de negócio interessante?
Qualquer aprendiz de "marketing" saberia explicar aos senhores produtores de cereja e aos "estrategas" da CMF que a colocação da marca "cerejas do Fundão" numa cadeia de "junk food" como o McDonalds pode até aumentar a notoriedade da marca, mas vai contrariar toda a linguagem e imagem que até agora foi construída para a marca - ou seja, produto natural da terra, de qualidade e com um certo sabor exclusivo.
Até posso entender a tentação dos produtores em terem no McDonalds um canal de distribuição e escoamento muito interessante, mas dificilmente entendo que a CMF possa "patrocinar" este "negócio" sob o risco de destruir todo o trabalho e investimento até agora competentemente feito para criar uma "imagem de marca" para as cerejas da Cova da Beira e para o próprio Concelho do Fundão.
Se calhar os teóricos conspirativos até têm razão, e a CMF só viu na cereja uma óptima e subtil forma de se auto-promover; e se assim for que melhor sítio do que o McDonalds para fazer campanha eleitoralista.
Espero bem que não, e que a pouca "intelligentsia" autárquica dedique a este assunto um pouco mais de reflexão, do que aquela que suscitam as euforias pacóvias e galvanizadas com a ideia de verem cerejas do Fundão no topo dum hamburguer McDonalds.
PS: Decorreu em Turim um gigantesco festival gastronómico, e na Alemanha as Olímpiadas da Gastronomia. Era aqui que a CMF devia apostar na cereja do Fundão, tornando-a um produto exclusivo e refinado, capaz de atrair as atenções dos grandes "chéfes" de cozinha do mundo inteiro. É que, por exemplo, se um senhor como Paul Bocuse, um dia decidir desenhar uma tarte de cerejas com os frutos do Fundão, o futuro estaria garantido, porque são estes homens que definem as grandes tendências da alta-cozinha europeia.
Podíamos até não ser tão ambiciosos, mas, por exemplo, porque não desafiar (e pagar) aos grandes chefes de cozinha portugueses para inventarem pratos e sobremesas com cerejas do Fundão, e depois podê-las apresentar a concurso nos grandes certames internacionais.
É mais fácil, e mais rápido escoar as camionetas de cerejas para o McDonalds, mas aí elas rapidamente deixarão de ser cerejas do Fundão, para serem simplesmente umas cerejas quaisquer. É esse o risco que se corre.