segunda-feira, julho 26

Alucinação [Cale]tiva


Os grandes gurus sempre viveram obcecados pelo deserto...diz quem lá vai que nos encontramos, que renascemos...a semana ficou marcada pela chegada das areias do Sahara, mas as suas poeiras escaldantes trouxeram mais que o abrasante calor, trouxeram algo de estranho, de hipnótico, algo que transfigurou esta cidadela da beira interior. O extâse tomou as ruas, a folia do improviso cercou a cidade e a população fez suas as suas ruas...a música fundiu-se com o calor e a alegria com o desejo de ver, dançar, viver! Entre jams, mergulhos e (muita) cerveja, sentiu-se algo há muito esquecido: o orgulho, o orgulho de ser de cá, de estar cá...provou-se que o poder só tem de acender o rastilho, que já temos pólvora que chegue! Deu-nos o mote e fizemos a festa e a cultura. Podia ter sido melhor, podia ter sido mais barato, podiam ter vindo outros espéctaculos, mas o que fica é a animação, a vida que possuiu o Fundão, as suas ruas e as suas gentes. Para o ano (e se o Sahara ajudar...) há mais!

Comments:
Sobretudo os espectáculos de dança...
 
Bom para o Fundão, bom para nós!
E eu para ano quero lá estar!
Tive peninha de não ir e sentir essa euforia,essa cerveja, esse calor, essa cultura.
Quando for grande quero ser uma gurua.
1 beijo pela imagem (tão bonita) e texto bem disposto ;)
Já sinto falta de ir à terra...tá quase. tá quase.Até lá!
 
CALE FESTIVAL/FESTIVAL LUGAR À DANÇA: MEMÓRIA DESCRITIVA
COM RASGOS DE IRRITAÇÃO ALTERNADOS POR MOMENTOS DE ADMIRAÇÃO PELO PRÓXIMO.

Foi com duas semanas de antecedência que o Miguel me contactou para fazer um cartaz/desdobrável com propósitos publicitários e informativos anunciando uma primeira edição de um festival que se iria passar na minha querida terra natal. Desde logo lhe disse que o faria com todo o gosto. Nos primeiros telefonemas fiquei a saber a programação, que incluia: um festival paralelo, daqueles que se vendem em pacotes de actuações, exposições e conversas saudáveis de localização variável (Festival Lugar à Dança); uma Oficina de Trabalho (Filarmóniko 2004) à que já me acomodei ou não fosse a sua presença anual numa qualquer freguesia do meu concelho; um colóquio (URBE: Pensar a cidade) que tinha como mote o lançamento de um livro que ainda não li nem vou ler como demonstração de repulsa pela marca de água falseada na imagem que me enviaram para o desdobrável; uma maratona fotográfica (Lo(mo)cale) que enalteceu o "momento Kodac" de modo irrepreensível; dois concertos, sendo que um, de música tradicional basca, agradou (a julgar pela presença até ao final) a uma geração anterior, e outro nem tanto, pois quando se chega aos quarenta fica-se sem paciência para distorções de guitarras, ondas em serra de sintetizadores "vintage" e vozes em falsete acima dos 80 decibéis; uma exposição de fotografia de Diamantino Gonçalves que ilustrava uma publicação de distribuição gratuita editada pelo Gabinete Técnico Local (?).
É a esta exposição que, mesmo correndo o risco de pararem de ler por aqui, vou dedicar mais palavras do que aos restantes acontecimentos.
Foi no Casino Fundanense. No primeiro piso. Numa sala que ameaça ruir. Alcatifada, teve nove expositores móveis que se organizaram concentricamente, criando uma espécie de flor cuja jante foi um plimpto que suportou um mapa da cidade do Fundão onde estiveram dispostos 36 marcadores assinalando os locais de recolha das imagens.
Tive o cuidado de ler o "Cadernos 2 - Fumos da cidade/chaminés do Fundão". Notei que a pesquisa (pelo menos a literária) foi feita. Apesar de não avançar com novidades cumpre a sua função inicial que é a de despertar interesse na população pelo objecto estudado. Não que tenha sensibilizado os próprios editores da publicação (ainda não consegui compreender umas chaminés feitas, mais ou menos pela altura dessa exposição, no edifício da Câmara Municipal).
No dia da inauguração entre amigos os comentários não passaram de adjectivos qualificativos como "bonito", "lindo", "fantástico", criticou-se á laia de piada uma bandeira do Sport Lisboa e Benfica que ajudava a construir uma das 36 imagens que lá estavam, e ouviram-se repetidas felicitações. Não estou habituado a ouvir alguém dar os parabéns a um médico por ter curado um gripe. Adiante.
As questões técnicas e conceptuais: A escolha do papel não foi a mais feliz no que toca à textura e à absorvência. O papel texturado produziu irregularidades visíveis nas manchas de cores planas sem variações lumínicas. A elevada percentagem de absorvência fez com o preto se esbatesse fazendo com que todas as peças se definissem apenas por jogos de cinzentos que aliados aos brancos da própria folha travaram uma batalha inglória para se imporem à excessiva ornamentação das paredes e até à própria estrutura da sala.
A particularização do universo estudado (chaminés) foi de encontro à atitude quase científica denunciada pela relação de comunicção entre o mapa e as imagens, recordando-nos os modos expositivos típicos de museus que não de arte. No entanto, para minha grande irritação, essa atitude não foi coerente em todos os detalhes da exposição, começando pela aleatoriedade da escolha dos pontos de vista de cada chaminé. Se me permitem uma sugestão: que tal registar os objectos em planos de frente e laterais de modo a possibilitar uma melhor compreensão das próprias chaminés (método europeu). Mas como cá na nossa terra estas coisas da arte não podem ser claras e objectivas, continuarei a apreciar as grandes doses de mistério e subjectivade que o verdadeiro apreciador de arte gosta de sentir. Para rematar não pôde faltar a citação do poeta ao lado da imagem.

Faço questão de afixar este comentário porque tenho a certeza de que não houve assim tantas críticas quanto isso e no Fundão, quem tem um olho é rei (desde já anuncio a minha coroação), e quem lê pode implantar a
República.

Em jeito de conclusão, permitam-me dizer sem ironias corrosivas, que o tempo em que se passou o CALE foi uma das mais animadas semanas que já passei na Beira Baixa.
Parabéns ao Miguel Pereira a todos os participantes.
 
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