quarta-feira, junho 9

Os retratos de esforço

Os retratos de esforço
São tirados à chuva,
Como se fossem de fim de dia,
Quando as luzes temporizadas dos neons da cidade piscam e se apagam.
Os gasómetros das cidades às vezes também se fundem com as cidades em redor,
com o negrume da noite que dá descanso a quem dorme na rua.
A liberdade vendida em embrulho de miséria.
O frigorífico feito urna removido por lixeiros de noite de temporal.
Os retratos de esforço
São tirados de manhã
Quando as almas fugidias se escondem de um dia atrasado, misturadas com o cinzento dos rostos que marcam a cadência sonora das buzinas das fábricas.
Quando as buzinas das fábricas, meticulosamente empunhadas por condutores de táxis com os motores ainda frios aos soluços pelas avenidas se ouvem trazidas pelo vento das manhãs.
Quando os Kispos ruidosos se apoderam dos corpos que empurram para as ruas, para dentro dos autocarros onde se sentam ao lado das irmãs e irmãos que nunca tiveram.
Quando no vão transparente de um prédio, onde o frio pareceu dar tréguas ao rosto gretado de um homem durante a noite, permanece o mesmo homem, igualmente transparente e gretado.
Os retratos de esforço
São tirados por cegos
que empunham os olhos
como quem fuma um cigarro
Mostrando as coisas
que se cansaram de ver.

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