terça-feira, junho 8

Futebol: Paixão à primeira vista

"A partir de 12 de Junho tem início o campeonato europeu daquele que é para muitos um desporto verdadeiramente apaixonante. O fascínio que um espectáculo como o futebol pode ter sobre multidões, contaminando cada indivíduo que, de uma forma ou de outra acaba por se elevar à categoria de adepto, justifica a retransmissão das competições nos mais diversos locais, seguindo formas de transmissão desde o emocionante directo até aos planos angulares que captam meticulosamente cada pormenor, cada ângulo do campo. Apaixonante é o desporto-rei que nos mobiliza mas que também nos oferece um espaço de afirmação de identidades individuais e colectivas. "Futebol: o revelador de todas as paixões" (in Le Monde Diplomatique, Junho de 2004) é o título dado por Christian Bromberger a um artigo recomendável a todos os apaixonados por este desporto de equipa. Bromberger é etnólogo e publicou, entre outras obras, Football: la bagatelle la plus sérieuse du monde (2004) ou ainda Le Match de football. Ethnologie d'une passion partisane à Marseille (1992). Nos últimos anos, o futebol tem sido alvo de pressões, quer no que diz respeito à criminalidade financeira, quer ao clima de insegurança dos estádios que já contam com alguns mortos e feridos (Inglaterra, Sheffield, 95 mortos em 1989; Bélgica, Heysel, 39 mortos e 600 feridos em 1985). Não desanimem porém os amantes de futebol porque, ao contrário dos estigmas que o têm caracterizado como "divertimento banal que distrai de uma visão clara de ordem social e dos grandes problemas da existência individual e colectiva", esse que é considerado por muito o ópio do povo é dos poucos desportos que permite o libertar de emoções colectivas, muitas vezes reprimidas pelos valores socialmente impostos no quotidiano. Será que o futebol está ao serviço exclusivo dos Estados? Não será antes o futebol um estímulo para uma consciência política? Não terá o futebol um papel revelador do ponto de vista cultural e simbólico? Questões pertinentes levantadas por Bromberger que convergem num «terreno de afirmação de identidades». "São realmente massas anónimas e unânimes, nas quais o entusiasmo comum, a alegria festiva de estar com os outros e a mobilização consensual contra o adversário comum adormecem, pelo menos temporariamente, a consciência das diferenças". Tomar partido de um clube é não só a afirmação de uma identidade, mas também a coragem de viver em plenitude a emoção, sem medo de hinos, de bandeiras, ou até mesmo de excessos verbais e gestuais. Mas o futebol pode ter ainda outros encantos: o trabalho de equipa aliado à performance individual, a solidariedade. Contraditório pode pois ser o futebol - ao mérito individual e colectivo pode sobrepôr-se a falcatrua, quando a derrota se torna também intolerável e a infelicidade dos outros é felicidade do eu. Entre «Nós» e os «outros», o verdadeiro futebol deve consagrar as fidelidades territoriais, as lealdades nacionais, a justiça e arbitratiedade, o apaixonante encontro entre "regiões e gerações". Porque "semana após semana o jogo recorda-nos, de modo lancinante, a verdade fundamental de um mundo incerto: o destino é doravante um eterno recomeço".

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