sexta-feira, junho 18

Eu, Fundão

Muito boa tarde meus senhores.
Boa tarde, e muito obrigado.
Agradeço aos senhores governantes,
por à minha beira, uma auto-estrada terem colocado.
Eu que por aqui, vivo estagnado,
sujeito a secar, a ser dragado,
sugado p’la terra que me tem suportado.
E o verão rigoroso que tudo tem estragado,
as cerejas os pêssegos a comida p’ró gado.
Em mim, o que seca, é o que está já estragado,
a água que brota, que alimenta o gado,
que rega o campo, de químicos atolado,
que desembocou aqui, para morrer estagnado.
Seca-me o sol que me tem vigiado,
a sucessão dos poderes, que me tem controlado,
seca-me o desprezo que por aqui tem passado,
e a água que não vem, lá daquele lado.
Meus senhores: Muito obrigado.
Obrigado por sobre mim terem escrito e falado.
Obrigado por esse gesto não ser obrigado.
Obrigado por beberem do pobre estagnado.
E se por acaso, passarem ao lado,
Não vos repugno por haverem repugnado,
Não vos ignoro por haverem ignorado,
Não passo afinal de um lago estagnado.

Fundão, Junho de 2000

(aos camaradas da pedreira. Porque depois de 4 anos, a única alteração que tive que fazer foi de caminho de ferro para auto estrada)

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