sexta-feira, junho 25

Contos Parabólicos

Máxima humanidade
A Intenção era boa, a execução não foi a melhor - Esta parábola futebolistica é ironicamente o epitáfio da humanidade.

Devir histórico
Ao primeiro tempo sucedeu-se o segundo tempo, e assim sucessivamente. O eterno destino do futebol é circular como uma bola.

Mercado de carne
No final da partida os jogadores das duas equipas trocaram de camisolas, mas não chegaram a trocar os corpos como numa música do Sérgio Godinho.

Amarguinha táctica
O catenaccio é uma táctica defensiva - proferiu o treinador.
- Por isso, hoje somos obrigados a jogar em fellatio !
Esta súbita ousadia estratégica trouxe muitos amargos de boca à squadra azurra.

Last call
A baliza estava aberta ... ao contrário do bar - lamentava-se o adepto da cerveja.

Vulgaridade artística
Zé Manel era um homem vulgar, típico e igual a tantos outros. O anónimo macho lusitano, conpíscuo e desprovido de qualquer tipo de sensibilidade. Tinha no entanto um apurado sentido estético, diria quase barroco, sobre a arte de ver um jogo de futebol à frente do televisor. Enquanto no ecrã de plasma se projectava a imagem dos dribles de Zidane, ou das defesas de Buffon, Zé Manel colocava no seu hi-fi um CD de Death Metal, e contratava putas de todas as nacionalidades para lhe fazerem grandes mamadas, enquanto bebia cerveja e arrotava copiosamente.
Está assim provado, que mesmo o mais anónimo dos homens tem um sentido de perversão artística muito superior a qualquer mulher dotada de inteligência e humor. Para Zé Manel, o broche era uma forma de expressão artística só comparável a ver um bom jogo de futebol. Essa é uma cacofonia que infelizmente nenhuma mulher compreende. As putas estão por isso muito mais próximas do verdadeiro universo masculino do que qualquer mulher letrada.

Trent
A cotação do petróleo está a dois jogadores brasileiros por barril.

Delfos online
"Um jogo de futebol é como uma tragédia grega", já dizia o Oráculo de Delfos, o mesmo que fundou a lógica de que prognósticos só no fim, e anteviu o resultado final do Portugal-Grécia, na sua crónica semanal no Record online.

Defesa da arte
"A verdadeira arte é a sagração da disciplina. Só a férrea vontade permite a disciplina da criação da obra, e a sua destruição. A verdadeira arte é por isso efémera, perecível e destrutível. É no caos e na negação que se concretiza a arte, nunca na sua criação."
Depois desta palestra do treinador daquela equipa Barroca, os defesas entreolharam-se, murmurando - o que será que o mister quis dizer com isto? Acho que é para cortar as bolas de qualquer maneira, traduziu o veterano capitão.

Angústia no banco
Devido a um trauma profissional, o suplente tremia com a ideia de mudar um pneu.

Moeda báltica
Aquele derby teve de ser decidido por moeda ao ar, o que acabou por contribuir para a disseminação da moeda única naquele país do Báltico.

Hipnose galinácea
Panenka o hipnotizador checo deixou de marcar penaltis e passou a a fazer crer aos guarda-redes adversários que eram frangos.

Onze contra onze
As nações da Europa uniram-se para um torneio de futebol e desuniram-se para a Constituição do onze inicial.

Soluço decisivo
O guarda-redes foi acossado por um convulsivo ataque de soluços. Solidário, o avançado-centro da equipa adversária pregou-lhe uns valentes sustos.

Morte no éter
Este jogo é impróprio para cardíacos – anunciou em tom estrindete o narrador desportivo da rádio, antes de tombar vítima de uma síncope cardíaca. Uma morte etérea.

Matar saudades
O anjo das pernas tortas desceu ao relvado, fintou dois russos, um português, três centrais paraguaios, vários fiscais de linha, um “steward”, dois massagistas e uma horda de adeptos que se preparavam para invadir o relvado. Satisfeito, Garrincha voltou para o ceú para driblar toda a equipa do inferno.

Veneno digestivo
Da bota do venenoso extremo da selecção da Bolívia libertou-se um Piton que devorou toda a defesa adversária, mastigando com vagar o guarda-redes.

A ressurreiçãoO avançado-centro morreu ao amanhecer... e ressucitou ao terceiro dia.

Filosoficamente correcto
Farto de rematar à baliza, sem sucesso, o avançado-centro decidiu deixar de rematar à baliza. Uma excelente opção táctica, já que na prática o resultado foi o mesmo.

Todos nús
Num acampamento de nudistas o monitor decidiu organizar uma partida de futebol num campo pelado. O problema foi distinguir uma equipa da outra, afinal a Nike não patrocina pilas.

Bicla
Negrete trocou o pontapé de bicicleta por uma potente Kawasaki. Comprou o “on the road” do Kerouac e fez-se à estrada para o Euro.

Homo Erectus
O massagista continuava a esfregar o trinco, que envergonhado não evitou uma erecção espontânea.

Dieta táctica
Vão lá e comam a relva – gritou o treinador ao intervalo. Jarbas, o central de marcação, levou a ordem à letra e tornou-se vegetariano.

Tintol é gol
Venha outro penalti que o guarda-redes mexeu-se – escrevia o jovem jornalista desportivo, cofiando o bigodinho presumido enquanto cogitava – onde é que eu já ouvi isto?

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