quarta-feira, junho 23

Agarrei...

...no bloco de manhã mas o lápis escorreu-me das mãos à velocidade do pensamento. Mal tocou o chão desatou a correr deixando-me especado à porta do café.
O computador não foge, permanece aqui, estático, ligado, dias e dias seguidos, sabe-se lá a pensar no quê. Não me deu novidade alguma quando o acordei, deve ter percebido que a longa ausência se deveu ao facto de haver outro na minha vida e deve ter ficado chateado.
O que ele não sabe é que também eu senti a sua falta, e agora demoro horas a escrever uma frase, agora que o sonho é real e começa a tomar conta do que resta de mim.
Ergam-se os muros da vontade!
Murmurava-se, à beira da loucura e da tasca do Jaime.
Afastem-se do caminho as horas, os horários, o ter que fazer!
Impeça-se o pensamento de ser comandado!
Deixe-se a liberdade em paz!
Ou invente-se outra, que esta deixou de servir.
Porque não OBRESSÃO? Ou ENGANADE? MANIPULAÇÃO!
Ou simplesmente ______________ ?
Liberdade.
À porta das fábricas que deixam de produzir, em vivendas com vista para o mar, em hotéis a demolir, nas casas a cair… com vista para o mar.
Que lindo mar.
Que linda blusa de cetim com essa página da poesia toda de Ar Naldo a servir-te de écharpe! Parabéns! Acho que é moda, nada moda.
O Moeda agora dorme aqui em frente a casa, na paragem do 12, vejo a sua cama daqui enquanto escrevo, às vezes levo-lhe comida e cigarros mas nem sempre tenho para lhe dar. Consigo ouvir o seu monólogo continuado.
-DáumaMoedadáumaMoedadáumaMoeda!DáumCigarrodáumCigarrodáumCigarro,
que se transforma quando lhe pergunto:
- Tens fome?
- Tenho. Podes dar-me cabo dela?
- Posso.
Vou à padaria que abriu por baixo da casa dos Senegaleses, onde era o antigo forno.
- Um café e umas carcaças, como dizia a música, e um maço de cigarros.
E um mundo novo.
Dançado, escrito e cantado por artistas conhecidos. Pelo Sérgio Godinho, que ainda se lembra das músicas de 70, quando a pulseira de ouro está 10 anos à frente, muito à frente!
E uma carrada de artistas conhecidos a fazer anúncios a detergentes milagrosos e milagreiros na televisão, enquanto as telenovelas se apoderam da internet, pelo menos dez anos à frente.
- À frente de si próprios, dizia o filósofo. Não podia estar mais enganado, atrás, atrás de si próprios, a correr, 10 anos inteirinhos passados a correr atrás de si próprios, e eu atrás, a correr atrás deles.
Mas porque correm, meu deus?
Acho que correm atrás dos trinta dias em que continuam a existir on line, mesmo depois da morte.
Chega.
O espectáculo tem que continuar.
Agarrei no bloco de manhã mas o lápis escorreu-me das mãos à velocidade do pensamento. Mal tocou o chão desatou a correr deixando-me especado à porta do café.

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