sexta-feira, maio 21

Portugal

Portugal I - O Benfica não é campeão
Olá a todos, aos do novo e do velho granito, sem distinção.
Sendo que sou caneta dormente deste nosso prosatório, como dormentes são as nossas realidades por razões que não interessa (para já) discutir, reservo-me o direito de possuir à época um belo saco cheio de coisas para dizer, diria até a transbordar, se não estivesse já habituado à elasticidade dos plásticos modernos que aguentam sempre mais um ou dois alqueires antes de se desmancharem suavemente e começarem a verter o conteúdo pela calçada a fora.
Camaradas pedreiros das pedradas, depois de toda a comédia a que tivemos o prazer de assistir de camarote, este ano, por alturas das comemorações da “agitação” de Abril, e sem um mês volvido sobre o mistério da letra desaparecida já nada se fala do assunto e tudo parece mais uma vez remetido para os confins do passado.
Sentindo-se já o gostinho da ressaca na boca, percebe-se que nada seria mais previsível, quando a letra perdida foi apenas e tão só Reciclada, Reocupando o velho lugar no Retrocesso, a que de facto assistimos de camarote, da sociedade portuguesa em relação ao que gostamos de chamar de conquistas de Abril.
Uma dessas conquistas, provavelmente a mais central na polémica das letras, foi supostamente a liberdade de expressão. Esquecendo facilmente que a manipulação faz apanágio nas sociedades actuais, fácil é também esquecer que todas as liberdades estão à partida conformadas por outro tipo de interesses, infelizmente muito distantes da cada vez mais mergulhada no esquecimento palavra.
A manipulação provoca a alienação, e que melhor forma de conformar liberdades impunemente que a total alienação da sociedade, constantemente afogada em lodo e diamantes de si própria. Se não está o Cruz está o Laureus, se não está o Silvino está o Rock e tudo sempre bem misturadinho com o bendito futebol.

Portugal II - O Porto não ganhou tudo

Depois temos o azar de ter um país pequenino, tão pequenino. Tão pequenino que começo a duvidar que exista um recanto onde seja possível alguém esconder-se e poder dizer: não quero ouvir mais nada sobre futebol. Pronto. Estou farto. Farto. Já não aguento mais ver a tromba do Figo nos rótulos de congelados da secção de frios do supermercado, já não consigo olhar para a bandeira nacional sem experimentar uma sensação de náusea só agravada pelas cores primárias dos equipamentos foleiros das equipas nacionais. Um cantinho onde possa estar sossegadinho, não me importa se sozinho, onde não precise de assistir à morte de um homem em directo 9 vezes por dia durante uma semana, ou ao funeral do outro depois da festa de arromba avenida abaixo, avenida acima, avenida abaixo, avenida acima, ou então à fúria sandinista dos “Qualquer coisa boys” bairro alto abaixo, bairro alto acima, e das enxurradas de nórdicos de chanatos e de calções, e com aqueles estúpidos chapéus às cores com guizos pendurados que tocam com prazer se alguém lhes oferecer um amendoim para acamar os litros de cerveja que os taberneiros lhes vendem para depois aparecerem na televisão a dizer que sim senhor, isto do europeu é que foi bom para o negócio! Ainda bem que ontem vendi mais 30 cervejas do que é habitual, porque a minha mulher foi hoje despedida ao fim de 30 anos de serviço na empresa onde trabalhava e como já não tem idade para ir trabalhar para outro sítio, olhe, acho que pegamos no lucro da cerveja, compramos umas roupitas novas e vamos ali para ao pé do rio a ver os Laureus passar. Ainda aparecemos na televisão e tudo! Ai era tão lindo!

Portugal III - (O Sporting não ganhou nada)

Pensando bem, a estratégia de colocação dos estádios por parte do governo nem foi de todo despropositada, bem encostadinhos ao litoral, lá deixou as pessoas do interior descansadas quando já se convocavam os santinhos e os chifrudinhos para que ninguém se lembrasse de encaminhar uma qualquer maré de fanáticos munidos das respectivas cornetas e tarolas e dos chapéus com guizos para a nossa, tão imaculadamente isolada, terrinha.
Infelizmente, numa total falta de respeito pelos interesses do interior, outros houve que foram menos espertos e abriram as perninhas ao negócio da moda, munindo-se de infra-estruturas de que 99% da população nunca poderá usufruir para seu proveito próprio mas que sem dúvida servirão para encher meia dúzia de bolsos mais afortunados.
A nós, fundanenses, cabe-nos louvar o isolamento a que os nossos autarcas, corajosamente, diga-se, nos relegam, e a auto-estrada que, a distância segura, levará as buzinas dos arruaceiros do futebol para longe dos nossos lares e das nossas tabernas que, munidas de duas ou mais televisões, começam a fazer as delícias da clientela, que poderá assim assistir em simultâneo ao desastre (ou não) da selecção nacional, ou a uma qualquer detenção de um dos patriarcas do Norte, ou a mais episódios da infeliz novela “Todos na Pia”, ou até mesmo à cobertura mediaticamente paga por todos nós de um qualquer casório pacóvio de uma jornalista estrangeira.


Portugal IV - próximos episódios

- Luís Figo é um clone
- Mourinho foi punk na adolescência

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