quinta-feira, abril 22

AS vozes e os silêncios na fotografia de Diamantino Gonçalves

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A escrita do Olhar
Um fotógrafo, Diamantino Gonçalves, a fotografar a Beira Interior. Ele afirma apenas: " A fotografia é a minha âncora, de geografias da memória, sentimentos, amizade e revolta..."
Nas fotografias de Diamantino Gonçalves não há espaços vazios. Está lá sempre, e sempre, essa originalidade de saber olhar e de dizer as coisas mesmo quando (aparentemente) a figura humana não figura na foto.
A actual reprodução excessiva de imagens produz-nos uma carência incurável, um "não querer ver mais". Esse acto de descoberta que era o "ver" tornou-se desnecessário. No entanto, as fotografias de Diamantino Gonçalves mantém uma força que lhe permite materializar aquilo que designamos por o efeito do real, mas uma fotografia é também uma testemunha , isto é, foi aquele fotógrafo, naquele preciso momento que disparou o obturador. O que retém a fotografia pela fixação? Detentora do seu próprio tempo e da sua própria matéria, a fotografia dá sentido a esse movimento perdido dos instantes, materializando o real, bem como o universo da imaginação.
Talvez nunca possamos deixar de caracterizar a fotografia como a arte que capta o tempo. Mas "representar" o real, exercer a capacidade de fixar as coisas, não pode ser indissociável do acto de "dizer" o real. Uma imagem fotográfica pode ser detentora de vários códigos que pedem uma explicação.
A máquina fotográfica de Diamantino Gonçalves é, sobretudo, uma questionação das coisas. Dianantino Gonçalves encontra na Beira Interior a sua geografia de afectos. Com a sua objectiva--fixa a memória e retrata uma região inevitávelmente ligada aos desígnios do tempo. As suas fotografias têm uma maneira de olhar . Têm também, uma maneira de dizer. Representar o real faz-nos reconhecer de imediato a objectividade e autenticidade do material documental fotográfico, mas dizer o "real" implica uma profunda reflexão sobre a imagem que se escolhe, a forma como se aborda um tema.

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A ordenação do olhar
Para além da função documental, a fotografia está também revestida de um valor emotivo que a torna um dos mais preciosos arquivos de vivências e memórias. Assim é a fotografia de Diamantino Gonçalves, fruto da consciência e do saber ver a imagem real daquilo que desejamos ter mas que brevemente deixamos de possuir.
Nas imagens escolhidas por este fotógrafo reconhecemos aldeias como o Açor ou a Póvoa da Atalaia, paisagens como a da campina da Idanha, ou a Cova da Beira ou o Pinhal. É com a luz do Beira que alimenta essa necessidade de fixar as coisas, melhor, de as arquivar em modo quase diarístico. A fotografia espelha assim simultaneamente uma relação de crítica e cumplicidade: cumplicidade com o próprio mundo, crítica ao processo de realização das obras num plano mental que antecede necessariamente qualquer fotografia. A capacidade de interrogar e problematizar a realidade expressam a dupla função de ‘espectáculo’ e ‘vigilância’ da fotografia, como já o referiu Susan Sontag, na medida em que o olhar do fotógrafo sobre o mundo é naturalmente diferente – um mundo em que tudo é passível de uma fruição estética. Nessa ordenação do mundo e do olhar, muito mais do que uma simples imitação das coisas reais, a fotografia de Diamantino Gonçalves é o recapturar os instantes da vida, como se rodasse um filme.


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