terça-feira, março 16

TAP ATAQUE



Na última edição do Expresso, onde a fotografia de Santana Lopes em genuflexão luzidia perante o sumo-pontífice tem honras de capa, aparece um artigo de opinião, envergonhadamente remetido para um cantinho obscuro do Caderno de Economia.
Trata-se de um artigo de leitura absolutamente indispensável, assinado por Ângelo Felgueiras, o presidente do sindicato dos pilotos da TAP. Um artigo em que este temível sindicalista que conquistou um estatuto "excepcional" para os pilotos da transportadora aérea vem defender os méritos da administração da empresa. Para o leitor mais desatento, um sindicalista a tecer loas à administração seria de cair de pantanas, ou no mínimo suspeito.
Mais, trata-se de uma administração que nos últimos três anos não deu nem mais um chavo de aumentos aos trabalhadores, nem mais regalias, nicles, népias, niente.
Parece ficção, mas não é. Esta administração, que liderou o “milagre” do saneamento da TAP, com um ambicioso e duro plano de reestruturação da empresa, feita com os trabalhadores e não contra os trabalhadores, como é costumeiro no dirigismo nacional, esta administração que finalmente deu um rumo à TAP, que lhe traçou objectivos e que lhe introduziu modelos de gestão profissionais e racionais, e que granjeou o apoio dos trabalhadores e dos sindicatos mesmo com o congelamento de salários, esta boa administração conduzida pelo brasileiro Fernando Pinto parece ter os dias contados.
Insólito não é, uma empresa de capitais públicos que funciona, que recupera, que apresenta resultados em paz laboral vê-se na eminência de ver os “autores” deste milagre sumariamente corridos da empresa.
A explicação é tão terrivelmente simples e indigna que até dá vómitos. O “brasileiro” foi convidado a reestruturar a TAP pelo antigo Minsitro do Equipamento socialista, Jorge Coelho, e temendo as reacções dos trabalhadores e dos media, o Governo de Durão Barroso achou por bem manter o “brasileiro” no cargo, não sem antes ventilar para os pasquins a soldo uma bocas sobre o “ordenado milionário” do “brasileiro”, ainda assim muito abaixo do praticado noutras empresas públicas portuguesas geridas por comissários políticos. Como o cambalacho não resultou, o Governo de Durão Barroso decidiu nomear um Presidente para a TAP, que hierarquicamente seria colocado acima do “braileiro” mas sem carta branca para correr com ele imediatamente. Foi assim que o sr. Cardoso e Cunha, gestor público e notório, notório pelo seu autoritarismo bacoco, pela sua inclinação para o despesismo galopante como tão provas deu como primeiro Comissário da Expo, foi assim que este grotesco gestor público, e obediente comissário político, ascendeu à presidência da TAP.
Há quase dois anos este delegadote da gula partidária vem arregimentando a tradicional horda de descontentes e de tachistas militantes, com os TSD (Trabalhadores Sociais Democratas) à cabeça, histéricos pelo Governo da sua cor política não ter imediatamente saneado o brasileiro e a sua equipa, e não ter redistribuído o “saque” de regalias entre os comparsas dos Congressos sociais-democratas.
Há dois anos que a TAP vive numa guerra surda entre duas administrações – a profissional e rigorosa, e a política e mesquinha –, naturalmente com os acolitados da politiquice a tentarem forçar o “brasileiro” a bater com a porta, por não terem a coluna vertebral no sitio e a coragem de “correrem” com ele. Todos sabemos como a história vai acabar, porque vivemos em Portugal, terra de ácaros, de respeitáveis intrujas e de trafulhice organizada. Ângelo Felgueiras, ironiza e bem “sempre conseguimos melhores resultados nas negociações com administrações políticas do que com que administrações profissionais”. Será que o pretexto para correr com o brasileiro vai ser a necessidade de aumentar o poder de compra dos cerca de 10 mil trabalhadores da TAP. Este é o modelo clássico da gestão política das empresas públicas, um farta-vilanagem que até mete dó. Toda a gente sabe e ninguém tem os tomates de dizer porque é que isto se passa, nem os jornais as condições nem coragem para chafurdar neste pardieiro infecto. A verdade é só esta – a colonização parasita de empresas públicas por políticos profissionais não serve só para dar emprego a estes ilustres inúteis, serve sobretudo para ter nestas empresas aquilo que na gíria empresarial e politiqueira se chama – O HOMEM DA MALA. É o homem que distribui favores, condiciona concursos, encomenda serviços desnecessários e superfulos, e por tudo isso cobra subrepticiamente uma taxa que leva de mala em punho às sedes dos partidos. A gestão política das empresas públicas é uma forma encapotada e insidiosa de financiar os partidos políticos, e depois queixam-se da falta de produtividade dos trabalhadores.
Mas que importa tudo isto, quando Santana Lopes beija a mão ao Papa ?


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