terça-feira, março 16

O terror bate à porta


Velasquez, a forja de Vulcano, Museu do Prado (Madrid)

O dia 11 de Março e o espúrio massacre de inocentes trabalhadores dos subúrbios madrilenos, é mais um acto da negra tragédia terrorista que se abate sobre o mundo como uma pestilência do Mal, e como uma guerra de fronteiras invisíveis que se propaga como uma epidemia sangrenta.
A Europa acordou finalmente para o terror global, que lhe fere o coração bondoso, habituado a condescender, dialogar, contextualizar e humanizar em esforços diplomáticos, aquilo que hoje sabemos só pode ser travado numa lógica de guerra, e não é certamente uma guerra convencional.
Os corpos mutilados espalhados pela gare de Atocha ensinaram a uma Europa tolerante e bem pensante, que o único limite para a tolerância é a intolerância.
Toleramos tudo, não podemos tolerar a intolerância assassina da Al-Qaeda e do fundamentalismo árabe. Amargamente, o atentado à Europa ocorre num país habituado ao medo e à bastardice do terror etarra, acolitado na pretensa validação moral da luta armada, por designios sufragados por uma pequena minoria.
O separatismo basco é sinónimo de terrorismo basco, tal como a causa árabe representa o “terror” de impor a vontade fanática de uma minoria a uma larga maioria.
Em Atocha, os corpos despedaçados não estão distantes e separados por essa confortável barreira invisível entre a Europa e o resto do mundo.
Não são corpos de chiitas rebentados em plena oração pelos seus “irmãos” terroristas árabes, tentando fomentar o caos e a guerra civil no Iraque. O hálito fedorento da morte e do terror soprou nas nossas nucas, com a mesma violência de sempre, antes preservado pela distância.
Em Atocha não morreram espanhóis, morreram europeus, gente que pagou com a vida o facto de viverem num país europeu, com um estilo de vida europeu, com ideais e valores europeus, gente que vivia em democracia e que nela acreditava como único garante da defesa dos direitos do homem e da humanidade.
Foi isso que a Al-Qaeda quis fazer explodir com os seus comboios-genocidas, com o mesmíssimo objectivo que os aviões teleguiados contra as Twin Towers.
Acreditar que o atentado de Atocha é uma mera retaliação pelo envolvimento do Governo espanhol na Guerra do Iraque é não entender o flagelo com que o Ocidente se debate, é subavaliá-lo. É o melhor caminho para a cedência, a rendição e a aceitação do terrorismo como meio de uma minoria feroz impor a sua tresloucada vontade. Acreditar nisso é desacreditar a democracia e a sua defesa intransigente, que todos os homens de bem e todas as nações de bem devem fazer.
Caso contrário, os milhares que morreram em Nova Iorque, em Bali, em Istambul, em Bagdad, em Casablanca, em Madrid, e os milhares que ainda morrerão em Londres, Paris, Roma, Lisboa, Rabat, ou em qualquer local do mundo onde um célula da Al-Qaeda esteja activa, esses “mártires” inocentes da civilização e democracia, terão uma segunda morte ainda mais dolorosa, porque servirão a “causa” do fundamentalismo árabe, que os encara como meros instrumentos, desprovidos da singularidade da vida.
A tocha da humanidade e das conquistas civilizacionais do ocidente não pode ser apagada por um punhado de medievais e cobardes ayahatolas do terror global.
Iludam-se os bens pensantes e a esquerda estilo “Loja de Conveniência”, o que está em causa não é um conflito ideológico, nem a política externa americana, nem a “guerra” do petróleo. O que está em causa é um tremendo choque civilizacional, travado numa escala global, e nesse choque uma “neutralidade” estilo suiço é quase tão criminosa como as bombas temporizadoras da Al-Qaeda. Com o terror não se pode contemporizar.



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