sexta-feira, janeiro 16

Serviço ao cliente

Descobri! Camaradas pedreiros e netomaníacos avulsos deste blogue, descobri o maior cancro da sociedade portuguesa: o serviço ao cliente. Neste país ser consumidor significa suportar o calvário dos condenados e mesmo assim não perceber porquê – o Sísifo que nos desculpe mas em Portugal sofre-se mais do que ele com o despropósito e bizarria de algumas situações em que é colocado o desgraçado do consumidor.
Para a grande maioria das empresas prestadoras de serviços deste país, o cliente é essa fonte anónima de rendimento que é preciso extorquir sempre que seja possível e de cada vez que a ingenuidade calhe bem de braço dado com a desonestidade. A questão só se nos coloca desta maneira óbvia devido a uma irónica exclusão de partes: o que as empresas melhor fazem é cobrar o serviço que prestam. Tudo o resto falha escandalosamente, a começar logo pela prestação do próprio serviço. E se este não fosse tão defeituoso e duvidoso talvez não fôssemos obrigados a gastar horas infindáveis da nossa existência à espera que, de um qualquer guichet bolorento, chamem pelo número da nossa senha. Já para não falar da penitência que é tentar resolver as coisas por telefone. Depois de ligarmos através de um úmero quase-grátis e quase-verde, tipo 808-qualquer-coisa, com música deslavada a martirizar-nos o ouvido e a santidade que resta, somos atendidos por um técnico do falacioso "serviço ao cliente". E, sem a mínima intenção de perceber a questão, aí estão eles, de auricular correctamente colocado no cocuruto e voz melosa, a informar-nos que temos que ter paciência, que devemos escrever uma cartinha ao director de serviço a explicar toda a situação e anexar fotocópia do BI e cartão de contribuinte. Depois é aguardar por uma resposta. E eu é que vou ser obrigado a fazer tudo isso? "Mais alguma coisinha em que posso ser útil?". Sim, que tal ligar a ficha telefónica ao seu rabo, já que só me diz merda?
Se Portugal fosse um país normal, em que a dignidade da pessoa que paga por um serviço e a solicitude da empresa em resolver todos os seus problemas fosse regra, nenhuma destas empresas-pesadelo sobreviveria. O mais trágico é que não existe alternativa, são todas assim. A solução é resguardarmo-nos no cliché do Kafka e deixarmo-nos estar aqui sossegadinhos no meio de todo este lodo, à espera que os tempos mudem e que, até lá, não nos cai mais um processo em cima. E ir resmungando entre dentes com todo o desprezo: Haja cú para tudo isto!

P.S.- após algumas semanas atribuladas em que fui tropeçando nas festas de Natal e fim-de-ano, para já não referir a avalanche de caixotes de cartão, própria de uma mudança de casa, tenho ainda a culpar pela minha ausência neste blogue, a inoperância da SAPO ADSL, que ignorou por completo a minha advertência quanto ao facto de eu possuir um Macintosh, tendo mesmo assim enviado um modem incompatível com o meu computador. E eu a pagar…Tenho dito. Bom Ano Novo para todos aqueles que o merecem!

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