sexta-feira, janeiro 30

Comunidade?

Pelo que tenho acompanhado nas notícias, o processo de criação de uma comunidade urbana da Beira Interior está ser a minado por querelas políticas que nada têm a ver com a defesa do supremo interesse das populações. Em causa está a (des)união dos dois distritos que constituem o interior centro do país, Castelo Branco e Guarda. O processo começou logo como não devia, com bordoadas de parte a parte numa discussão que tem sido debatida a três: municípios da Guarda, por um lado, municípios de Castelo Branco, por outro e, no meio da guerrilha, os municípios da Cova da Beira e Penamacor. Durante semanas tenho assistido tristemente à ladainha hipócrita de vários presidentes de Câmara, invocando razões de desafinidade geográfica para justificar a sua disconcordância quanto à união das Beiras Interior Norte e Sul. Neste particular, numa recente edição do Jornal do Fundão, o presidente da Câmara de Manteigas diz que "não há afinidades entre a zona da Guarda e a de Castelo Branco que justifiquem a união". Por essa razão, o autarca não aceita que a comunidade se estenda para Sul da Gardunha. Os municípios da Cova da Beira e Penamacor tentam ser o elo de ligação entre os dois lados da trincheira, embora nem sempre pelas melhores razões. Mas vamos por partes.
1- Depois de falhado o processo da regionalização, a constituição das comunidades urbanas, na minha opinião, é uma oportunidade histórica para a atribuição de novas competências e peso às regiões, capazes de estimular a sua autonomia e desenvolvimento futuros. Estas entidades supra-municipais, desde que bem esquematizadas e objectivas nos seus princípios, são essenciais para a criação de sinergias regionais assentes em factores estruturantes comuns (basta atravessar a fronteira e apreciar o exemplo de nuestros hermanos). A principal vantagem é uma visão de conjunto sobre um mesmo território, seja na defesa de interesses comuns junto do poder central, seja no aproveitamento de fundos estruturais para a realização de grandes obras regionais que é urgente fazer, seja ainda na promoção unificadora de determinadas mais-valias, entre as quais o turismo ocupa um lugar de destaque. Só vantagens, portanto.
2- O que transparece do discurso dos autarcas é o vício do poder e o medo da perda de influência política. A repetição do discurso da má vizinhança, infelizmente tão arreigado na nossa mentalidade portuguezinha, não serve a defesa dos interesses dos munícipes nem reflecte o sentir de afinidades geográficas, como querem fazer passar algumas mentalidades políticas mais retrógadas. A verdade é que poucas delas percebem verdadeiramente a importância suprema da constituição da comunidade urbana, principalmente no que ela tem de futuro, ultrapassando a efemeridade dos seus cargozinhos de paróquia. Reféns dos entronizados poderes locais, os autarcas lá vão desfiando a ladainha insuflada e autista do poder, quais tigres de papel: na Guarda teme-se que a união a Castelo Branco venha retirar influência à Beira Interior Norte. Porquê?! Será porque fica mais perto de Lisboa vindo ali pela A23? Ficam mais próximos do governo central, numa posição privilegiada para congeminar cabalas contra a Guarda? No meio do fogo cruzado, a Cova da Beira lá vai tentando fazer com que a Gardunha seja uma ponte e não uma barreira. Mas nem sempre pelas melhores intenções: quando a Guarda veio dizer que não queria a união a Castelo Branco, o presidente da câmara da Covilhã veio logo espingardar que o objectivo era evitar que a Covilhã ficasse no centro (geográfico) da comunidade!! Será preciso dizer mais para perceber os seus "nobres" motivos? Por seu lado, o presidente da câmara de Castelo Branco alinha pela mesma bitola separatista, vai piscando o olho aos vizinhos do Alto Alentejo e assobiando para o ar quando se levantam coros de protesto na "sua" região. Ficamos sem perceber verdadeiramente a sua posição, se é que tem mesmo alguma sobre o assunto.
3- A opinião pública informada tem aqui um papel fundamental no despertar de consciências e deve obrigar os poderes locais a agir em consonância com o seu dever (e não com os seus próprios interesses pessoais de protagonismo) de defender os interesses da região e do país. Não é o Euro 2004 que é um desígnio nacional, as comunidades urbanas é que o são. Só elas poderão desenhar um novo mapa de afinidades e possibilidades. Para concluir e fazendo minhas as palavras de um leitor igualmente indignado com a situação, publicadas na úiltima edição do Jornal do Fundão: "Avancem para a constituição da Comunidade Urbana das Beiras, JÁ!"

P.S.- os meus partenaires de pedraria bem que podiam assumir a sua costela beirã e dar a sua opinião sobre o tema. Eu bem que gostava de sabê-la.

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