quinta-feira, dezembro 4
Os elogios
Porque nem só de bílis vive o homem, nem mesmo os blogs mais viperinos; porque há coisas que merecem ser elogiadas, aquele tipo de coisas que nos fazem sentir bem por abrirem uma brecha de luz nos dias. Não quero desvirtuar o carácter interventivo e crítico do Granito mas há pedradas que podem ser atiradas com mãozinhas de seda, ou não?
O elogio do Y
À sexta-feira, o jornal Público (o meu diário nacional preferido) edita um suplemento cultural: o Y. Bonito, com um grafismo extremamente cativante (para quem não saiba, este suplemento já ganhou vários prémios internacionais de design gráfico para a imprensa), despretensioso, inteligente, actual. Não é que seja o melhor suplemento cultural que se possa exigir a um jornal generalista de âmbito nacional e com um perfil editorial a apontar para as classes média/alta (basta olhar para outros exemplos estrangeiros); mas não deixa de, na minha opinião, ser o melhor cá do burgo em termos comparativos. O conteúdo é diversificado e tratado de forma inteligente mas sem ser demasiado hermético nem puxar para o elitismo cultural. Digamos que, para jovens urbanos medianamente esclarecidos e com algum nível cultural, o Y é o melhor que se pode ter. Não deixa de ser mainstream, mas é um mainstream alternativo, ou seja, tem a inteligência necessária para jogar com as referências culturais comuns de pessoas que se regem por um determinado estilo de vida e que são movidas por interesses próprios. É por isso que, cada vez que leio o Y, sinto que aprendo ao mesmo tempo que me deslumbro. Parabéns ao Público e ao Y.
O elogio da Oxigénio
A frequência, infelizmente só acessível na zona da Grande Lisboa, é 102.6FM: Rádio Oxigénio. Cada vez que faço uma viagem para a capital, logo que começo a sentir o cheiro mais intenso a dióxido de carbono e assim que o horizonte começa a ficar entaipado pelos prédios dos subúrbios de Lisboa, aí estou eu a mudar a sintonia em busca da Oxigénio. Boa música, muito boa música a toda a hora (para quem gosta do género, obviamente) mas, acima de tudo, um bom conceito de rádio com um formato que lhe assenta que nem uma luva. Além da música (que é quase tudo), os animadores, os blocos informativos ligeiramente fundamentalistas e alguns concursos compõem um ramalhete de puro bom gosto e estilo.
A música. Já chateia tentar enquadrar os sons num qualquer conceito teórico (chamar-lhe alternativa/dançante seria o mais aproximado possível) e o que interessa mesmo, para quem gosta do género de música com que a Oxigénio perfuma o éter lisboeta, é o extremo bom gosto da selecção musical.
Os animadores. Seria suficiente invocar o nome de um dos principais mentores da Rádio Oxigénio: Isilda Sanches, uma menina que escreve umas coisas sobre música com grande conhecimento de causa e que já andou por projectos radiofónicos bem marcantes, como a suadosa X-FM (agora convertida numa razoavelmente interessante Rádio Voxx, em 91.6FM). Foi esta senhora que quando alguém lhe pediu para definir a Oxigénio, ela respondeu: "se a Oxigénio fosse uma pessoa seria alguém com quem poderíamos estar à conversa durante horas enquanto bebíamos uns copos". Resta dizer que os outros animadores alinham pela mesma filosofia Zen e fazem jus ao estilo "good vibrations"… mas com muita inteligência e bom gosto à mistura.
A informação. Nada de grandes pretensões, somente uma ressalva fundamentalista: o ambiente. São raros os blocos informativos da Oxigénio que, juntamente com o resumo das "gordas" do dia, não acrescentem informações sobre questões ambientais. E neste cadinho verde de informação cabem desde notícias internacionais sobre, por exemplo, o protocolo de Quioto (sem se coíbirem de uma visão crítica sobre o assunto ou mesmo lançar uns impropérios contra os não-signatários, entre os quais estão os EUA, por exemplo), a questões mais caseiras como, por exemplo, situações relacionadas com a qualidade de vida na capital. E o Santana que se cuide, porque estes meninos não têm papas na língua no que ao ambiente diz respeito. E ainda bem.
Resta dizer que nas noites de fim-de-semana reproduzem o programa do guru Giles Peterson, na Radio BBC one. Um mimo para os ouvidos mais exigentes.
Em suma, o slogan desta rádio não podia ser mais acertado: "Oxigénio, música para respirar". Bem fundo e a plenos pulmões, acrescento eu. Parabéns à Rádio Oxigénio.
O elogio do Y
À sexta-feira, o jornal Público (o meu diário nacional preferido) edita um suplemento cultural: o Y. Bonito, com um grafismo extremamente cativante (para quem não saiba, este suplemento já ganhou vários prémios internacionais de design gráfico para a imprensa), despretensioso, inteligente, actual. Não é que seja o melhor suplemento cultural que se possa exigir a um jornal generalista de âmbito nacional e com um perfil editorial a apontar para as classes média/alta (basta olhar para outros exemplos estrangeiros); mas não deixa de, na minha opinião, ser o melhor cá do burgo em termos comparativos. O conteúdo é diversificado e tratado de forma inteligente mas sem ser demasiado hermético nem puxar para o elitismo cultural. Digamos que, para jovens urbanos medianamente esclarecidos e com algum nível cultural, o Y é o melhor que se pode ter. Não deixa de ser mainstream, mas é um mainstream alternativo, ou seja, tem a inteligência necessária para jogar com as referências culturais comuns de pessoas que se regem por um determinado estilo de vida e que são movidas por interesses próprios. É por isso que, cada vez que leio o Y, sinto que aprendo ao mesmo tempo que me deslumbro. Parabéns ao Público e ao Y.
O elogio da Oxigénio
A frequência, infelizmente só acessível na zona da Grande Lisboa, é 102.6FM: Rádio Oxigénio. Cada vez que faço uma viagem para a capital, logo que começo a sentir o cheiro mais intenso a dióxido de carbono e assim que o horizonte começa a ficar entaipado pelos prédios dos subúrbios de Lisboa, aí estou eu a mudar a sintonia em busca da Oxigénio. Boa música, muito boa música a toda a hora (para quem gosta do género, obviamente) mas, acima de tudo, um bom conceito de rádio com um formato que lhe assenta que nem uma luva. Além da música (que é quase tudo), os animadores, os blocos informativos ligeiramente fundamentalistas e alguns concursos compõem um ramalhete de puro bom gosto e estilo.
A música. Já chateia tentar enquadrar os sons num qualquer conceito teórico (chamar-lhe alternativa/dançante seria o mais aproximado possível) e o que interessa mesmo, para quem gosta do género de música com que a Oxigénio perfuma o éter lisboeta, é o extremo bom gosto da selecção musical.
Os animadores. Seria suficiente invocar o nome de um dos principais mentores da Rádio Oxigénio: Isilda Sanches, uma menina que escreve umas coisas sobre música com grande conhecimento de causa e que já andou por projectos radiofónicos bem marcantes, como a suadosa X-FM (agora convertida numa razoavelmente interessante Rádio Voxx, em 91.6FM). Foi esta senhora que quando alguém lhe pediu para definir a Oxigénio, ela respondeu: "se a Oxigénio fosse uma pessoa seria alguém com quem poderíamos estar à conversa durante horas enquanto bebíamos uns copos". Resta dizer que os outros animadores alinham pela mesma filosofia Zen e fazem jus ao estilo "good vibrations"… mas com muita inteligência e bom gosto à mistura.
A informação. Nada de grandes pretensões, somente uma ressalva fundamentalista: o ambiente. São raros os blocos informativos da Oxigénio que, juntamente com o resumo das "gordas" do dia, não acrescentem informações sobre questões ambientais. E neste cadinho verde de informação cabem desde notícias internacionais sobre, por exemplo, o protocolo de Quioto (sem se coíbirem de uma visão crítica sobre o assunto ou mesmo lançar uns impropérios contra os não-signatários, entre os quais estão os EUA, por exemplo), a questões mais caseiras como, por exemplo, situações relacionadas com a qualidade de vida na capital. E o Santana que se cuide, porque estes meninos não têm papas na língua no que ao ambiente diz respeito. E ainda bem.
Resta dizer que nas noites de fim-de-semana reproduzem o programa do guru Giles Peterson, na Radio BBC one. Um mimo para os ouvidos mais exigentes.
Em suma, o slogan desta rádio não podia ser mais acertado: "Oxigénio, música para respirar". Bem fundo e a plenos pulmões, acrescento eu. Parabéns à Rádio Oxigénio.