quarta-feira, novembro 5

Pobreza interior

"A pobreza das nações" bem podia ser o títulado gongórico da Proposta de Orçamento de Estado para 2004, apresentada pelo benemérito Governo PSD/PP. Entre outras originalidades, da qual, resolver o problema das florestas com receitas da gasolina, nos parece roçar a alta Comédia, digna da criação de uma Secretaria de Estado da Piromania, com sede no Hospital Júlio de Matos. Mas entre o chorrilho de originalidades e engenharias trapezistas da Ministra Ferreira Leite e "sus muchachos", uma nos merece principal atenção. O Governo decidiu fixar em 15% a taxa do IRC a empresas que se decidam instalar no Interior. Numa tentativa de corrigir as gritantes assimetrias regionais, o Governo franqueia as portas do Interior às empresas fartas do stress dos mercados bolsistas.
Em vez de off shores na Madeira, passaremos a ter as Termas financeiras da Touca, ou o off shore de Monfortinho, onde as tentaculares empresas bolsistas e outros crápulas capitalistas passarão a instalar a sua sede social, com apenas um fax e um contínuo encarregue de abrir a correspondência.
A banca e as principais empresas de telecomunicações estão já em negociações para a compra da Tasca do Ti Xico Ferrador, na Atalaia do Campo, que passaria a ser uma espécie de Wall Street do Interior, com meia dúzia de yuppies a aviarem-se de tintos à hora de expediente, enquanto as "holdings" milionárias beneficiariam do apetitoso desconto no IRC.
Mas, o que o Governo dá com a mão, tira com todas as outras.
Toma lá desconto no IRC, mas passa para cá a massa das portagens que vamos cobrar nas SCUT`s, mesmo que isso custe dezenas de milhões de euros para fazer umas casotas novas para os portageiros. E, como vamos, provavelmente passar a ser o mais efervescente centro capitalista de Portugal, não vale a pena investir por estas bandas. O investimento público do PIDAC junta Castelo Branco e Guarda como os dois distritos menos afortunados na distribuição do bolo rei - cerca de 2,5 por cento do bolo (ou seja a fava), enquanto os distritos de Lisboa e do Porto acumulam mais de metade da guloseima. A pobreza do interior é a pobreza de espírito dos seus governantes.

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