quinta-feira, novembro 13
Manuel da Silva Ramos regressa ao Neo-Realismo
O escritor Manuel da Silva Ramos apresenta hoje na Covilhã o seu último romance--Café Montalto. O livro (muito cinematográfico) conta a estória de Rui Vaz, um jornalista nascido na Covilhã, que depois de trinta e cinco anos de ausência, regressa à cidade natal para o enterro do pai (poderoso industrial de lanifícios na ex-Manchester portuguesa) que morrera no albergue dos inválidos do trabalho, abandonado por todos. Neste regresso Rui vaz vai descobrir o grande amor da sua vida, Marta.
O livro de Manuel da Silva Ramos é uma "factioficção", onde o escritor consegue cruzar uma estória imaginada com acontecimentos reais, e, através de uma estrutura narrativa bem montada, podemos revisitar situações como as lutas subterrãneas de resistência ao fascismo português e o combate dos operários pela sobrevivência e pela dignidade, numa cidade sempre caracterizada por fortes desigualdades sociais.
Um combate pela memória, feito de palavras de pedra (graníticas), sem nunca perder de vista a estória de amor de dois malditos, oiçam-no:
"Rui vaz olhava o corpo de marta...
Tinham feito mais uma vez amor e ela adormecera depois de ter gritado forte...
A nudez não tinha coronha nem gatilho. Era uma arma que se disparava sózinha...agora estava pousada ao sol num deserto... resplandecia...
Viu vir um camelo lento e sedento. Os olhos estavam cheios de areia. Logo que chegou perto dela a sua língua branca imensa...
Era ele voltado para a estrela polar dos seus sentimentos...
Começou a chupar-lhe os dedos dos pés, tão pequeninos como os loukoums que fazem em Marrakech. São na África gostava deb pastelaria...
Tens de vir comigo ao Sara, ver o bahr bela ma, o mar sem água. Tenho a certeza que lá encontraremos o Saint Exupéry, o principezinho e também o Léon Werth...
tens de vir comigo aos Montes Tassili porque eu agora te chupei os seios e eles ganharam forma geológicas bizarras...
Tens que vir comigo aos Montes Tibesti porque eu agora te chupei as axilas essas montanhas inacessiveis mas sempre frescas.
Tens que vir comigo aos desertos de Ténére porque eu agora te chupei uma lágrima perdida...Lá montados num camelo no mês de inverno seguiremos as caravanas de sal infindáveis, com esses tuaregues meus aamigos que fazem so silêncio uma aventura constante...Depois iremos ver essas terríveis montanhas azuis de Mármore que se afogam no mar de areia desse Térére e que podem ser verdes se tu as olhares...
Tens que vir comigo ver as tempestades de areia na orla do deserto do Chalbi porque eu agora te beijei o clítoris e vi uma revolta incerta no teu corpo...
Tens que vir comigo ver os rebanhos de cabras dos Tubus porque eu agora te penetrei outra vez e tu gorgoleijas como uma cabrita ligeira...
Tens que vir comigo à ilha vulcânica de Guinni Koma, não muito longe de Jibuti, porque ela se parece com os teus dois seios-- que agora chupo como um javardo.
Tu és o meu deserto e eu sou um "banido por Deus", sim,sim,sim, mas embora sejas minha irmã vais casar comigo!
--Amo-te meu irmão!`Não posso viver sem ti! disse Marta abrindo os olhos.
--e eu também, irmã! A culpa não é nossa!
[Manuel da Silva Ramos, Café Montalto, Alma azul, pag 267]
O livro de Manuel da Silva Ramos é uma "factioficção", onde o escritor consegue cruzar uma estória imaginada com acontecimentos reais, e, através de uma estrutura narrativa bem montada, podemos revisitar situações como as lutas subterrãneas de resistência ao fascismo português e o combate dos operários pela sobrevivência e pela dignidade, numa cidade sempre caracterizada por fortes desigualdades sociais.
Um combate pela memória, feito de palavras de pedra (graníticas), sem nunca perder de vista a estória de amor de dois malditos, oiçam-no:
"Rui vaz olhava o corpo de marta...
Tinham feito mais uma vez amor e ela adormecera depois de ter gritado forte...
A nudez não tinha coronha nem gatilho. Era uma arma que se disparava sózinha...agora estava pousada ao sol num deserto... resplandecia...
Viu vir um camelo lento e sedento. Os olhos estavam cheios de areia. Logo que chegou perto dela a sua língua branca imensa...
Era ele voltado para a estrela polar dos seus sentimentos...
Começou a chupar-lhe os dedos dos pés, tão pequeninos como os loukoums que fazem em Marrakech. São na África gostava deb pastelaria...
Tens de vir comigo ao Sara, ver o bahr bela ma, o mar sem água. Tenho a certeza que lá encontraremos o Saint Exupéry, o principezinho e também o Léon Werth...
tens de vir comigo aos Montes Tassili porque eu agora te chupei os seios e eles ganharam forma geológicas bizarras...
Tens que vir comigo aos Montes Tibesti porque eu agora te chupei as axilas essas montanhas inacessiveis mas sempre frescas.
Tens que vir comigo aos desertos de Ténére porque eu agora te chupei uma lágrima perdida...Lá montados num camelo no mês de inverno seguiremos as caravanas de sal infindáveis, com esses tuaregues meus aamigos que fazem so silêncio uma aventura constante...Depois iremos ver essas terríveis montanhas azuis de Mármore que se afogam no mar de areia desse Térére e que podem ser verdes se tu as olhares...
Tens que vir comigo ver as tempestades de areia na orla do deserto do Chalbi porque eu agora te beijei o clítoris e vi uma revolta incerta no teu corpo...
Tens que vir comigo ver os rebanhos de cabras dos Tubus porque eu agora te penetrei outra vez e tu gorgoleijas como uma cabrita ligeira...
Tens que vir comigo à ilha vulcânica de Guinni Koma, não muito longe de Jibuti, porque ela se parece com os teus dois seios-- que agora chupo como um javardo.
Tu és o meu deserto e eu sou um "banido por Deus", sim,sim,sim, mas embora sejas minha irmã vais casar comigo!
--Amo-te meu irmão!`Não posso viver sem ti! disse Marta abrindo os olhos.
--e eu também, irmã! A culpa não é nossa!
[Manuel da Silva Ramos, Café Montalto, Alma azul, pag 267]