sexta-feira, novembro 21

Chutar para a veia do negócio

Em primeiro lugar subscrevo inteiramente a repugnância manifestada pelo Vasco em relação ao lamentável episódio da direita bolorenta, que prefere fazer vista grossa ao facto de 30 por cento da população prisional estar "contaminada" com doenças infecto-contagiosas. Mas, essa é apenas a face visível de uma ruinosa inversão na política de combate e tratamento da toxicodependência, por onde este Governo enveredou a reboque dos habituais interesses privados que sibilinamente se agregam no remanso dos gabinetes do Ministério da Saúde.
Convém relembrar aos mais desatentos, que o Dr. Luis Filipe Pereira, actual Ministro da Saúde, transitou directamente da administração do Grupo Mello - que tem chorudos e duvidosos interesses nos negócios da Saúde, vide o escandaloso contrato de concessão do Amadora-Sintra.
Desde o primeiro dia, este ministro está claramente mandatado para desmantelar o Serviço Nacional de Saúde e entregá-lo de bandeja na mão à corja de magnates do lucro fácil.
Racionalizar os serviços de saúde é para estes senhores cortar custos. Aumentar a produtividade é obrigar os médicos a "despachar" um volume perigoso de actos médicos, que podem prejudicar a qualidade do próprio acto, que passa a ser avaliado e desenhado por gestores de folhas Excel, em vez de profissionais de Saúde. Recorde-se também a vergonhosa colonização partidária das administrações dos hospitais, onde vale tudo - até meter cunhas para jovens e recém-licenciadas sobrinhas de deputados do PSD.

Para lançar a habilidosa cortina de fumo que envolve todas as políticas de má fé e mentira deste Governo, foi içada a bandeira demagógica de: vamos acabar com as listas de espera. Essa populista medida, continua também ela em lista de espera...
No que respeita ao combate e tratamento da toxicodependência, que são conceitos bem diferentes, a primeira medida deste Governo foi desarticular o SPTT (Serviço Prevenção e Tratamento da Toxicodependência) e pulverizar as competências daquela instituição, retirando assim poder ao homem que mais fez pela Prevenção e Tratamento da Toxicodependência em Portugal, e que finalmente conseguiu vencer as barreiras da moral hipócrita para lançar em Portugal um programa sério de metadona - O Dr. João Goulão-, por acaso público militante do Partido Comunista Português e candidato à AR pelo círculo de Faro.
Para o seu lugar, o Governo nomeou um polícia, o Dr. Fernando Negrão, cuja maior proeza detectivesca foi ter quebrado o segredo de justiça, passando umas informações comprometedoras à sua sobrinha - jornalista do Diário de Notícias - sobre o caso Moderna, e que foi também candidato pelo PSD à Assembleia da República, curiosamente pelo círculo de Faro, depois de ter sido corrido da PJ pelo então ministro socialista, António Costa.

Ou seja, para tratar e prevenir o flagelo da toxicodependência, o Governo nomeou um polícia, e para desenhar o novo modelo científico e político do sector, escolheu uma eminência parda, que é proprietário de uma série de clínicas de tratamento de toxicodependência, com programas livres de drogas, e que ficaram às moscas, a partir do momento em que foi introduzida a metadona. A metadona é má para o negócio das clínicas privadas, acabe-se com ela, ou pelo menos reduza-se à mínima expressão.
É este o grande designio da actual politica portuguesa de prevenção e tratamento da toxicodependência, e o resto são falinhas mansas, e música de câmara.
Toda a comunidade científica que há muitos anso se dedica em Portugal ao estudo e combate do fenómeno da toxicodependência não se fará rogada em qualificar esta política assassina e irresponsável, protagonizada por um polícia e por um médico que é considerado um mero "charlatão" entre os seus pares.

Os programas com metadona e em ambulatório são um paradigma do tratamento da toxicodependência em toda a Europa civilizada (da qual obviamente não fazemos parte), e com resultados muito positivos em vários países. Dois anos depois de termos enveredado por esse difícil rumo, o actual Governo faz uma perigosa inversão de marcha, e fá-lo por valores economicistas que se sobrepõem a qualquer ideologia - de direita ou de esquerda. Fá-lo, alinhando por aquela que é a verdadeira ideologia deste Governo - a do dinheiro e a dos capitalistas do lucro fácil.
Deste modo continuaremos durante muitos e bons anos a ser o país da CE com uma maior taxa de "agarrados", já que os "agarrados" ao poder são quem mais ordenam.
Podemos andar calados e complacentes, mas não nos tomem por parvos, pode ser que um dia destes a gente se farte a sério.

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