segunda-feira, outubro 20
Uma forma de morte social
Foi noticiado, na semana passada, que a gestão da empresa da Nova Penteação, sedeada no concelho da Covilhã, vai ser assumida pelo empresario Paulo Oliveira. Este epílogo foi conseguido após um acordo com os sindicatos. O referido acordo(?) faz com que dos 460 trabalhadores da empresa apenas 100 vão voltar a laborar. Para os outros, o caminho é o desemprego. Numa região tão desertificada e deprimida, o resultado deste pseudo acordo é apenas e tão só catastrófico.
Perante este dramático contexto social, vem bem a propósito ler um texto de Bourdieu que a edição portuguesa do Le monde Diplomatique fez sair na edição do passado mês de Junho. Este texto do grande sociólogo francês, de título "O terrível descanso que é o da morte social", constitui um pequeno prefácio à edição francesa de um estudo, realizado em 1931 pelos investigadores Marie Jaboda e Hans Ziesel sob direcção de Paul Lazarsfeld, sobre os desempregados de Marienthal, uma pequena cidade austríaca cuja principal empresa tinha falido.
E o que diz Bourdieu? Segundo o francês, a etnografia propiciada pelos inquéritos elaborados aos desempregados referidos revela o sentimento de desespero, até de absurdo, que a todos eles se impõe. E isto porque se viram repentinamente privados não apenas de uma actividade e de um salário mas também de "uma razão de ser social". Perdido o quotidiano próprio de um trabalho (um "universo objectivo de incitações, e indicações que orientam e estimulam a acção e, desse modo, toda a vida social"), da sua função socialmente conhecida e reconhecida , as suas vidas perdem "um sentido". Parafraseando o Sérgio Godinho a vida de um trabalhador "é feita de pequenos nadas". Mas pequenos nadas bem importantes para a subjectividade do indivíduo trabalhador.
Mas Bourdieu remete a seguir para uma problemática extremamente interessante: a aparente irracionalidade das acções de indivíduos desempregados ou dos marginais da under-class. Para este autor, para viver no não-tempo em que nada acontece, "desapossados da ilusão vital de terem uma função ou uma missão", os desempregados podem a certa altura, para se sentirem existir, recorrer a actividades (como a lotaria ou os vários jogos) que permitem reintroduzir por um instante o "tempo finalizado que em si mesmo origina satisfação". Se virmos bem, este fenómeno pode ser observado na relação "doentia" e fanática que indivíduos em dificuldades económicas tremendas têm com os seus clubes de futebol.
No contexto das sociedades centrais do capitalismo as actividades de lazer têm cada vez uma maior centralidade social e mesmo económica. A função social das actividades de lazer será exactamente a ocupação deste não tempo e a necessidade desse tempo finalizado.
Perante este dramático contexto social, vem bem a propósito ler um texto de Bourdieu que a edição portuguesa do Le monde Diplomatique fez sair na edição do passado mês de Junho. Este texto do grande sociólogo francês, de título "O terrível descanso que é o da morte social", constitui um pequeno prefácio à edição francesa de um estudo, realizado em 1931 pelos investigadores Marie Jaboda e Hans Ziesel sob direcção de Paul Lazarsfeld, sobre os desempregados de Marienthal, uma pequena cidade austríaca cuja principal empresa tinha falido.
E o que diz Bourdieu? Segundo o francês, a etnografia propiciada pelos inquéritos elaborados aos desempregados referidos revela o sentimento de desespero, até de absurdo, que a todos eles se impõe. E isto porque se viram repentinamente privados não apenas de uma actividade e de um salário mas também de "uma razão de ser social". Perdido o quotidiano próprio de um trabalho (um "universo objectivo de incitações, e indicações que orientam e estimulam a acção e, desse modo, toda a vida social"), da sua função socialmente conhecida e reconhecida , as suas vidas perdem "um sentido". Parafraseando o Sérgio Godinho a vida de um trabalhador "é feita de pequenos nadas". Mas pequenos nadas bem importantes para a subjectividade do indivíduo trabalhador.
Mas Bourdieu remete a seguir para uma problemática extremamente interessante: a aparente irracionalidade das acções de indivíduos desempregados ou dos marginais da under-class. Para este autor, para viver no não-tempo em que nada acontece, "desapossados da ilusão vital de terem uma função ou uma missão", os desempregados podem a certa altura, para se sentirem existir, recorrer a actividades (como a lotaria ou os vários jogos) que permitem reintroduzir por um instante o "tempo finalizado que em si mesmo origina satisfação". Se virmos bem, este fenómeno pode ser observado na relação "doentia" e fanática que indivíduos em dificuldades económicas tremendas têm com os seus clubes de futebol.
No contexto das sociedades centrais do capitalismo as actividades de lazer têm cada vez uma maior centralidade social e mesmo económica. A função social das actividades de lazer será exactamente a ocupação deste não tempo e a necessidade desse tempo finalizado.