sexta-feira, outubro 31

Subsídio para um suicídio

O orçamento é de pouca monta:
Apenas uma corda,
Daquelas grossas de nó marinho
que prendem âncoras
dos veleiros vadios
que partem com as marés arredias,
domados por Zebedeus
que cospem sangue,
e disfarçam com hálito a bagaço

Dois metros de corda,
bastam
um conto por metro
dois contos por certo
Um nó dado,
que a nó dado
Não se olha o dente de cavalo cansado
Um nó sem deslinde,
Nem melindre das boas almas da nação
Excelência...
Falo-lhe ao coração

Dois metros de corda bastam
e a rogo,
Um banco de madeira tosca,
Como toscas são as palavras que lhe arremedo,
Excelência...
Carvalho estaria muito bem,
Que é madeira pobre,
mas honrada
Capaz de suportar o peso da poesia
E que nas mãos e escropo
de carpinteiro certeiro,
decerto não cederia
Ao quilograma da poesia

E pregos, por caridade,
excelência...
Meia dúzia de pregos,
dos bons
Que mais do que um conto não seriam,
e pouco pesariam
na consciência de um bom cristão,
e no orçamento da nação

E com isto:
Dois metros de corda,
um banco de madeira tosca,
um punhado de pregos, (dos bons,)
poderia Vossa Excelência estar certo
que daria por bem gasto o dinheiro da Nação.
nem seria perdulário
do magro erário

Seria um subsídio a fundo perdido,
Mas com grande visão,
Já que aliviaria a nação
Do peso da poesia

No dia em que, por sua graça
e infinita bondade,
Excelência...
der despacho a este procedimento
e apoiar o esmorecimento

Poderei, enfim
Dar o derradeiro nó na poesia,
subir ao banco de madeira tosca
E morrer na forca,
Como compete
ao poeta

V7

Dedicado ao senhor Ministro da Cultura de Portugal... e arredores


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