sexta-feira, outubro 17

Putas e vinho verde

Pela segunda vez na história, desde os nossos egrégios avós, Portugal estampou-se na capa da "Time".
A mais globalizante, maçadora e universal das revistas americanas, decidiu por duas vezes colocar as fuças de Portugal na fronha.
A primeira foi com o monóculo do Spínola e de um cravo numa G-3, a propósito da Revolução dos cravos. Quase 30 anos depois, nada mais de interessante se passou neste pardieiro à beira mar plantado. Nada mais, até que os intrépidos repórteres americanos descobriram que havia putas em Bragança.
The New Red District como título, uma meretriz brasileira em chiaroscuro, com uma igreja e o pelourinho ao fundo, numa construção cénica a evocar uma Pietá do Putedo.
A reportagem, frondosa em jactâncias e ejaculações precoces, tem no entanto, o mérito de ter feito mais pela promoção internacional do nosso País do que qualquer Expo-98, Euro 2004, ou outras trapalhadas obristas do género.
Bragança passou a estar no centro das atenções mundiais, com um brilhozinho vermelho que assinala o terreno próprio das casas de mercantilismo da carne. Por deliciosa ironia do destino, na mesma edição da Time, uma página dupla de publicidade anunciava com pompa e circunstância o Euro 2004.
Por cá foi um reboliço, um ai jesus, com governantes abespinhados, a ameaçar cortar a publicidade à Time, com o mesmo timbre mandão com que tutelam a subsidiodependência com que estão habituados a sustentar o favor e a alcovitice da imprensa caseira. Que pequenez de espírito, que provincianismo bacoco.
Então não vêm os senhores que nos desgovernam, que esta constitui uma excelente oportunidade para atrair o investimento externo - em grandes franchisings de bordéis pelo País inteiro. E, para atrair hordas de rebarbados turistas sexuais aos encantos dos montes de Vénus, que se podem espalhar pelo País inteiro.
Esta, meus senhores, constitui uma oportunidade histórica para salvar o interior que se sume de gente. À maneira de D. Sancho, repovoemos as aldeias perdidas de Portugal.
Repovoemos as aldeias com putas - brasileiras, moldavas, romenas, colombianas, marroquinas.
Vamos a isso, fechem-se as fábricas a cadeado, arrumem-se as alfaias agrícolas, mãos à obra - vamos povoar o interior de bordéis. Liberalize-se a jogatana, cultive-seo adultério generalizado, escoemos a produção vinícola jorrando o tinto, autorizem-se as drogas. Vamos fazer do interior de Portugal o Paraíso Sexual da Europa. Em vez de gastarmos o dinheiro em estádios, que ficarão às moscas, e na promoção do Euro 2004, gaste-se a cheta em putas, em putas e vinho verde - que essa sim é a nossa verdadeira vocação atlântica.
Já estou a imaginar uma grande campanha de promoção da imagem de Portugal patrocinada pelo ICEP, com o sr. Cadilhe de máquina de calcular em punho a somar a nota preta que as máfias internacionais vão enterrar nos depauperados cofrinhos da Ministra Leitosa.
Eu dou já uma ideia para um solgan vencedor, à laia do Euro 2004, que diz que em Portugal o melhor tempo é o do prolongamento. O slogan seria - "Em Portugal, o melhor são os preliminares. Venha-se em Portugal, terra de Putas e vinho verde".

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