sexta-feira, janeiro 30

Comunidade?

Pelo que tenho acompanhado nas notícias, o processo de criação de uma comunidade urbana da Beira Interior está ser a minado por querelas políticas que nada têm a ver com a defesa do supremo interesse das populações. Em causa está a (des)união dos dois distritos que constituem o interior centro do país, Castelo Branco e Guarda. O processo começou logo como não devia, com bordoadas de parte a parte numa discussão que tem sido debatida a três: municípios da Guarda, por um lado, municípios de Castelo Branco, por outro e, no meio da guerrilha, os municípios da Cova da Beira e Penamacor. Durante semanas tenho assistido tristemente à ladainha hipócrita de vários presidentes de Câmara, invocando razões de desafinidade geográfica para justificar a sua disconcordância quanto à união das Beiras Interior Norte e Sul. Neste particular, numa recente edição do Jornal do Fundão, o presidente da Câmara de Manteigas diz que "não há afinidades entre a zona da Guarda e a de Castelo Branco que justifiquem a união". Por essa razão, o autarca não aceita que a comunidade se estenda para Sul da Gardunha. Os municípios da Cova da Beira e Penamacor tentam ser o elo de ligação entre os dois lados da trincheira, embora nem sempre pelas melhores razões. Mas vamos por partes.
1- Depois de falhado o processo da regionalização, a constituição das comunidades urbanas, na minha opinião, é uma oportunidade histórica para a atribuição de novas competências e peso às regiões, capazes de estimular a sua autonomia e desenvolvimento futuros. Estas entidades supra-municipais, desde que bem esquematizadas e objectivas nos seus princípios, são essenciais para a criação de sinergias regionais assentes em factores estruturantes comuns (basta atravessar a fronteira e apreciar o exemplo de nuestros hermanos). A principal vantagem é uma visão de conjunto sobre um mesmo território, seja na defesa de interesses comuns junto do poder central, seja no aproveitamento de fundos estruturais para a realização de grandes obras regionais que é urgente fazer, seja ainda na promoção unificadora de determinadas mais-valias, entre as quais o turismo ocupa um lugar de destaque. Só vantagens, portanto.
2- O que transparece do discurso dos autarcas é o vício do poder e o medo da perda de influência política. A repetição do discurso da má vizinhança, infelizmente tão arreigado na nossa mentalidade portuguezinha, não serve a defesa dos interesses dos munícipes nem reflecte o sentir de afinidades geográficas, como querem fazer passar algumas mentalidades políticas mais retrógadas. A verdade é que poucas delas percebem verdadeiramente a importância suprema da constituição da comunidade urbana, principalmente no que ela tem de futuro, ultrapassando a efemeridade dos seus cargozinhos de paróquia. Reféns dos entronizados poderes locais, os autarcas lá vão desfiando a ladainha insuflada e autista do poder, quais tigres de papel: na Guarda teme-se que a união a Castelo Branco venha retirar influência à Beira Interior Norte. Porquê?! Será porque fica mais perto de Lisboa vindo ali pela A23? Ficam mais próximos do governo central, numa posição privilegiada para congeminar cabalas contra a Guarda? No meio do fogo cruzado, a Cova da Beira lá vai tentando fazer com que a Gardunha seja uma ponte e não uma barreira. Mas nem sempre pelas melhores intenções: quando a Guarda veio dizer que não queria a união a Castelo Branco, o presidente da câmara da Covilhã veio logo espingardar que o objectivo era evitar que a Covilhã ficasse no centro (geográfico) da comunidade!! Será preciso dizer mais para perceber os seus "nobres" motivos? Por seu lado, o presidente da câmara de Castelo Branco alinha pela mesma bitola separatista, vai piscando o olho aos vizinhos do Alto Alentejo e assobiando para o ar quando se levantam coros de protesto na "sua" região. Ficamos sem perceber verdadeiramente a sua posição, se é que tem mesmo alguma sobre o assunto.
3- A opinião pública informada tem aqui um papel fundamental no despertar de consciências e deve obrigar os poderes locais a agir em consonância com o seu dever (e não com os seus próprios interesses pessoais de protagonismo) de defender os interesses da região e do país. Não é o Euro 2004 que é um desígnio nacional, as comunidades urbanas é que o são. Só elas poderão desenhar um novo mapa de afinidades e possibilidades. Para concluir e fazendo minhas as palavras de um leitor igualmente indignado com a situação, publicadas na úiltima edição do Jornal do Fundão: "Avancem para a constituição da Comunidade Urbana das Beiras, JÁ!"

P.S.- os meus partenaires de pedraria bem que podiam assumir a sua costela beirã e dar a sua opinião sobre o tema. Eu bem que gostava de sabê-la.

quinta-feira, janeiro 29

Sempre dá para um papo-sêco!

As regulares negociações salariais entre governo e sindicatos da administração pública (os tais "parceiros sociais") são sempre marcadas por alguma tensão, provocada essencialmente pelo desvio dos números de parte a parte. Esgrimem-se percentagens de um e de outro lado e toda a gente fica algo hipnotizada pela abstracção dos números. Mas no essencial está a falar-se de maior ou menor poder de compra, está a decidir-se sobre o dinheiro no bolso das pessoas. Este é o princípio social que deve estar sempre na mente de governo e sindicatos, seja nestas negociações, seja em qualquer outro acto de política económica. Assim, é absolutamente espantoso saber que nesta última ronda de negociações, o único resultado tenha sido um aumento de dez cêntimos no subsídio de alimentação!! Haja alguma sensibilidade, meus senhores! Nem que fosse por uma questão de diplomacia – uma vez que, com este governo, dificilmente se possa falar em questões de ética e moral – , nunca se deveria ter permitido que esse fosse o único "aumento" que o governo de um Estado tem para oferecer aos seus funcionários administrativos. Por uma questão de decência, e já agora também reveladora de alguma consciência social que percebesse o sentir generalizado dos portugueses nestes últimos tempos, a opinião pública nem sequer deveria saber que esse cenário esteve em cima da mesa. Revela arrogância e falta de tacto. Ou provavelmente alguém os informou que dez cêntimos sempre dá para um papo-sêco. E como é para o povo…

Adenda: Neste caso também não se pode esquecer a postura dos sindicatos que, na minha opinião, foram extremamente inábeis a explorar esta declarada falta de chá do governo. Que eu tenha visto, nenhum dos seus representantes se mostrou indignado. É claro que, pela frente, há ainda muita peleja retórica com o governo e o panorama poderá eventualmente mudar, o que aconselha sempre a ter alguma prudência. Mas há uma grande diferença entre o aceitável e a ofensa, ou será que os senhores sindicalistas também precisam de engolir um papo-sêco por dia para perceber essa diferença?
B-Line

quarta-feira, janeiro 21

A Mostarda no nariz de Bush

Finalmente, todos nós terráqueos, temos uma oportunidade única de ter voto na matéria política mais influente para as nossas vidas - as eleições presidenciais americanas.
E o que é verdadeiramente espantoso nesta revolução de cidadania global, é que esse direito de voto vai ser-nos dado de bandeja por uma portuguesa. Não acreditam??!!! Então vejam só.




Para mandar o Bush como sinal de boa vontade na próxima missão aos marcianos, para os enganar sobre o Q.I. médio dos terráqueos, basta começarmos a entornar hectolitros de ketchup Heinz nas nossas batatas fritas, purés de batatas, e se estivermos mesmo empenhados em ter um novo inquilino na Casa Branca, podemos começar a untar o bacalhau e o cabrito com ketchup da marca Heinz.

Isto tudo, porque a mulher e potencial futura primeira dama dos "Américas" é uma portuguesa chamada Teresa Coelho. Ela é herdeira da colossal fortuna Heinz e a grande matriarca dos ketchups e maioneses com que tem cozinhado um belo refogado de apoio ao seu segundo marido - o senador John Kerry, que ontem deu um passo de gigante para ser o adversário de Dabliú Bush nas Presidenciais americanas, ao vencer as primárias do Partido Democrata no Estado do Iowa.

Como todos sabemos, o Presidente da América é eleito por um conjunto de fortes lobbies industriais e económicos que sustentam as candidaturas e que depois cobram o pagamento das fianças e favores, quando tiverem um interlocutor privilegiado na White House.
Bush foi eleito com o apoio da indústria petrolífera, armamento, construção civil e tabaco americana (os "usual" do partido repúblicano). Neste momento desenha-se uma frente mais liberal e "usually democratic", onde além de Bill Gates e da indústria informática americana, se coloca agora na linha da frente a indústria dos molhos.
São eles que vão bancar a campanha e o candidato democrata, e eu prefiro mil vezes um presidente americano devedor de favores aos molhos e aos softwares, do que um devedor de favores à indústria do armamento. Portantos já sabem, "Vote for Heinz, for a better ketchup in the white house".
- Ó Jaime, passa-me aí a mostarda.

O actor Henriques grava Cêdês

Parece que o profícuo Actor Henriques, estimado artista do regime, já faustamente laureado pelo Ricardo, se está a preparar para gravar um Cêdê, com contos literários baseados em contos e lendas da Beira Baixa, escritos por pessoas com mais de 13 anos (há muito talento escondido nos doze anos).

Li a notícia envergonhada no "JF", e finalmente fez-se luz no meu espírito nas trevas. Os ausentes camaradas pedreiros encostaram as picaretas e deixaram o convívio da pedreira para se dedicarem à labuta escrita para o cêdê do Henriques.
Ainda vamos ver um conto do Ricardo sobre o movimento operário na Estação Ferroviária da Fatela gravado num cêdê patrocinado pela CM do Fundão, e dito por essa voz melífula do Actor Henriques. Já o Vasco pia mais fino, deve escrever sob pseudónimo para fintar as mais que presumíveis bocas do Tall.
O mistério resolve-se, a Poirot o que é de Poirot, e já se sabe, que Com Cêdê quem ganha é você

Apetites com nome de gente



Bitoque - Fotografia de Diamantino Gonçalves


Para lamber as pontas dos dedinhos e mandar para o diabo a catrefa de blogues, jornais de referência e outros imprimaturs da maçada generalizada, fiquem lá com este autêntico naco da mais fina e rebuçada literatura, dado à estampa na última semana de turbilhão publicista da Nação.
É na página oito do Semanário Regional "Douro e Neve" da cidade da Guarda (que fantástico nome para um jornal), que é a farta secção de Publicidade, vem a quatro colunas, logo por baixo do anúncio da "Perfumaria Abelhinha". Ora vejam só, e mordam-me bem o nome dos pitéus:


Restaurante Cabicanca
Premiado com vários diplomas e participações de Gastronomia e Cozinha Regional.

Gerência de Belmira Pires

Especialidades
Entradas Torresmos, bolas de carne, enchidos, queijo da serra.
Pratos regionais:
- Bacalhau à Cabicanca
-Polvo à moda da Tia Xica
- Cabrito assado no Forno à moda do Tio António Forneiro
- Arroz de feijoca com nacos de vitela à moda da criada do Abade da Lapa
- Feijoca à moda da Avô Cândida
- Batata com pele e Migas à 14
Sobremesas
- Arroz doce à moda da D. Adelaidinha
- Queijo da Serra com marmelada à moda do senhor Pintinho
- Requijão com doce de abóbora à Cardeal
- Papas de Milho à moda da Casa Grande.

Servimos Casamentos, baptizados e lanches para todo o País. Sala própria para reuniões e banquetes

A supra-citada catedral provinciana da comezaina e das opíparas refeições está erguida em Aguiar da Beira. É, provavelmente, das muitas casas de pasto espalhadas pelo interior norte do País, onde ainda é possível folhear uma ementa como se percorressemos as desventuranças das personagens de um qualquer romance do Mestre Aquilino Ribeiro.
É este o País que ainda vale a pena amar e preservar, o país da marmelada dos Pintinhos, do arroz de feijoca à moda da criada do Abade da Lapa, do polvo à moda da Tia Xica, da feijoca à moda da Avó Cândida.
É este país de nomes, que nos vai morrendo nos braços, e dos sabores que se vulgarizam sob o paladar amansado e manso.
É pena, mas o que nos sobra é o País do Big Mac e do Big Brother, um país que é uma Big Merda.
Salvemos a marmelada do senhor Pintinho, porque só assim salvamos um bocadinho deste nosso Portugal.

Vou de triciclo

Ouvi hoje de manhã na rádio que o preço dos transportes públicos vai aumentar cerca de 3,9%!!!! (Será que ouvi bem o valor?) Devem estar a gozar com a cara das pessoas! Qual é o português utilizador, por exemplo, dos fabulosos autocarros da carris que, no seu perfeito juízo, acha este aumento justificado? E vão subir assim os preços porquê? Por acaso o dinheiro vai ser investido para reformular os veículos, comprando uns mais modernos e confortáveis? Vai servir para reestruturar linhas e carreiras? Vai servir para contratar novos condutores e técnicos, ou para formar os antigos? Vai ser usado para abrir novos itinerários que sirvam melhor as pessoas? Não, nada disso. O anunciado aumento de preços surge despudoradamente só, isolado na sua crueldade perante todos os que enfrentam um panorama económico de contenção e congelamento de ordenados. Mas nada disso importa, porque o serviço público, seja ele qual for, existe é para chupar os bolsos dos utentes até às costuras.
Por outro lado, este aumento vem dar mais uma punhalada na já moribunda esperança numa verdadeira reforma do sistema público de transportes, que favorecesse a sua utilização em detrimento do automóvel e que fornecesse aos utentes um serviço digno e organizado.
A questão ambiental das emissões poluentes (Portugal já ultrapassou a quota permitida há muito) também não é para aqui chamada, que isso são balelas de ambientalistas freaks e radicais.
Viva a palhaçada inconsequente do dia europeu sem carros!! Viva a construção do túnel do Marquês!!! Vivam as filas intermináveis de automóveis!!! Viva o efeito de estufa!!! Vou mas é de triciclo até à Gronelândia!!

terça-feira, janeiro 20

A história de um molestador de ovelhas

"O Pastor das almas é um molestador de ovelhas" é o título da primeira foto-novela dedicada ao tema da sexualidade caprina, que está em exibição ao público em Vodka7 Uma verdadeira novela bloguistica de má rês

Como pode ferir susceptibilidades mais aguçadas, decidi não colocá-la aqui, mas não quis deixar de desviar um bocadinho de tráfego lá para o meu pasquim. Perdoem-me a ousadia.

Elogio à velhice corajosa e ao repórter JF

Apesar de não ser muito dado a elogios públicos e notórios (prefiro mil vezes a martelada a golpes de picareta escrevente), não queria de deixar um aviso aos confrades, para darem uma espreitadela ao Jornal do Fundão e à reportagem de Nuno Francisco em Vale de Urso sobre o ensino recorrente e a alfabetização da terceira idade.
Na mesma edição em que o editorial de Fernando Paulouro Neves faz um diagnóstico crítico sobre a terceira idade em Portugal, o nosso camarada Tall mostra que a velhice não é necessariamente um compasso de espera pela morte. Uma reportagem tocante pela simplicidade e pela abordagem humanista que faz de uma turma de velhos que decidiu aprender a ler e escrever o seu nome. Uma turma de velhos corajosos para quem a vida é ainda um desafio de conhecimento. A eles, ao Jornal do Fundão que nos continua a dar estes retratos do interior que há dentro do interior, e ao meu amigo Nuno Francisco, o meu muito obrigado, por saber que no meio desta merda que é Portugal, ainda prosperam flores de esperança e de humanidade. Como escrevia o repórter, nunca é tarde demais para aprender a primeira palavra.

sexta-feira, janeiro 16

Serviço ao cliente

Descobri! Camaradas pedreiros e netomaníacos avulsos deste blogue, descobri o maior cancro da sociedade portuguesa: o serviço ao cliente. Neste país ser consumidor significa suportar o calvário dos condenados e mesmo assim não perceber porquê – o Sísifo que nos desculpe mas em Portugal sofre-se mais do que ele com o despropósito e bizarria de algumas situações em que é colocado o desgraçado do consumidor.
Para a grande maioria das empresas prestadoras de serviços deste país, o cliente é essa fonte anónima de rendimento que é preciso extorquir sempre que seja possível e de cada vez que a ingenuidade calhe bem de braço dado com a desonestidade. A questão só se nos coloca desta maneira óbvia devido a uma irónica exclusão de partes: o que as empresas melhor fazem é cobrar o serviço que prestam. Tudo o resto falha escandalosamente, a começar logo pela prestação do próprio serviço. E se este não fosse tão defeituoso e duvidoso talvez não fôssemos obrigados a gastar horas infindáveis da nossa existência à espera que, de um qualquer guichet bolorento, chamem pelo número da nossa senha. Já para não falar da penitência que é tentar resolver as coisas por telefone. Depois de ligarmos através de um úmero quase-grátis e quase-verde, tipo 808-qualquer-coisa, com música deslavada a martirizar-nos o ouvido e a santidade que resta, somos atendidos por um técnico do falacioso "serviço ao cliente". E, sem a mínima intenção de perceber a questão, aí estão eles, de auricular correctamente colocado no cocuruto e voz melosa, a informar-nos que temos que ter paciência, que devemos escrever uma cartinha ao director de serviço a explicar toda a situação e anexar fotocópia do BI e cartão de contribuinte. Depois é aguardar por uma resposta. E eu é que vou ser obrigado a fazer tudo isso? "Mais alguma coisinha em que posso ser útil?". Sim, que tal ligar a ficha telefónica ao seu rabo, já que só me diz merda?
Se Portugal fosse um país normal, em que a dignidade da pessoa que paga por um serviço e a solicitude da empresa em resolver todos os seus problemas fosse regra, nenhuma destas empresas-pesadelo sobreviveria. O mais trágico é que não existe alternativa, são todas assim. A solução é resguardarmo-nos no cliché do Kafka e deixarmo-nos estar aqui sossegadinhos no meio de todo este lodo, à espera que os tempos mudem e que, até lá, não nos cai mais um processo em cima. E ir resmungando entre dentes com todo o desprezo: Haja cú para tudo isto!

P.S.- após algumas semanas atribuladas em que fui tropeçando nas festas de Natal e fim-de-ano, para já não referir a avalanche de caixotes de cartão, própria de uma mudança de casa, tenho ainda a culpar pela minha ausência neste blogue, a inoperância da SAPO ADSL, que ignorou por completo a minha advertência quanto ao facto de eu possuir um Macintosh, tendo mesmo assim enviado um modem incompatível com o meu computador. E eu a pagar…Tenho dito. Bom Ano Novo para todos aqueles que o merecem!

quarta-feira, janeiro 14

Contrabandismo nihilista

A crise está pela hora da morte e nem o contrabando sobrevive aos nefastos efeitos da conjuntura económica. Em Castelo Branco, foram agarrados uns artolas que num rasgo de génio larápio, conseguiram impingir uma camioneta a rebentar pelas costuras de Maços de tabaco vazios. O crédulo (para não dizer otário) comerciante já esfregava as mãos agiotas de contentamento com o "cacau" que iria para o bolsinho, sem passar na narina aquilina da Ferreira Leite, quando abriu o maçito de Marlboro lá dentro só viu fumo. Só fiquei sem saber se foi o comerciante que fez queixa à polícia, e se pode ser punido por comprar contrabando de nada. O contrabandismo nihilista faz escola na Beira Baixa !

PS: Que tal uma mensagem anti-tabágica nos maçitos de tabaco a dizer - O Governo adverte que 40 por cento do valor que está a pagar por este maço, vai direitinho para os cofres do Estado. Não seja otário, fume tabaco de contrabando ou então uma ganzólia para desenjoar...

terça-feira, janeiro 13

Venham a nós os 'jaquinzinhos'

Se há coisa em que um português dificilmente sente uma crise de identidade é na comida. Da Beira Baixa ao Minho, do Alentejo ao Algarve, há livros e livros de receitas que comprovam a nossa profusão e imaginação no que é salgado e no que é doce.

Vem isto a propósito de que há povos que não têm tanta sorte: os ingleses por exemplo. Parcos em soluções próprias sobre o que colocar no prato, viram agora ser-lhes negada a última instituição culinária: o "fish n'chips".

tadinhos...

sexta-feira, janeiro 9

Liberdade de quê?

O PSD/PP quer impor limites à liberdade de imprensa para defender os "direitos da personalidade", constantemente abocanhados pelos mastins da imprensa de escandaleira (que nos dias que correm é quase toda).
Acho que uma visita aos estaleiros de obras públicas onde emigrantes do leste e africanos vivem em condições infra-humanas, uma visita a alguns lares da terceira idade do País onde os velhos são enfileirados para a morte, uma atençãozinha nas fábricas exploradoras que empregam mão-de-obra infantil, ou mesmo uma deslocação à Casa Pia para escutar as vítimas de abusos sexuais, seriam uma utílissima forma de a coligação que sustenta o Governo (ou será o contrário), perceber como é que os "direitos da personalidade" são grosseiramente violados todos os dias em Portugal.
É impressão minha ou os políticos portugueses não estão preocupados com os "direitos da personalidade", mas sim com os direitos de algumas personalidades. Deve ser impressão minha...
Portanto, diziam os senhores, liberdade de quê?

Uma Terra nostra !

As imagens fabulosas de Marte, proporcionadas pelo génio humano e pelo engenho americano (isto é a ver se saco uns comentários mais acesos), são também um óptimo pretexto para deitar um outro olhar para este nosso Planeta Terra, que continuamos a esgotar e a maltratar numa voragem suicida que nos vai fazer perder a todos. É também um excelente pretexto para evocar a magnífica obra de Diamantino Gonçalves, senhor de uma lente humana e apaixonada, que consegue transmitir às paisagens da nossa terra (em especial da nossa Beira) uma força tranquila e serena, que não se egota no voyerismo bucólico da paisagem, mas na própria relação afectiva do fotógrafo com a terra que o rodeia. São elementos de pujante vida aqueles que a objectiva de Diamantino Gonçalves capta, e que mesmo vistas num ecrã de computador, conseguem transpotar-nos para um breve momento de solidão e rendição perante o Absoluto Majestático da Natureza, a única divindade que merece culto e devoção.
Para quem não sabe, e outros bem melhores e mais conhecedores da sua obra, poderão avalizar, Diamantino Gonçalves, é também um fundanense de empenhado sentido cívico, daquele que rareia, que proporcionou a descoberta das gravuras rupestres no Zêzere, rapidamente "expropriadas" pela sofreguidão de protagonismo de alguns políticos de meia branca cá do burgo. Mas altaneiro a essas rasteirices reptilárias, sobrevive uma obra de indispensável consulta e deleite, ainda que no pouco adequado formato de uma página de Internet. Algumas das visões de Diamantino Gonçalves podem ser encontradas no site Fotopt, que é também uma vastíssimo encontro de talentos múltiplos, de poetas e prosadores que fazem da lente a sua pena. Vale a pena visitar, e por lá parar nas paisagens da Marateca, ou nos caminhos de "chiaroscuro" da nossa Gardunha.
Honra seja feita ao Vasco, que me guiou até a um coração da Beira escondido nesse grande Atlântico da Internet, e por isso, não resisto à laia de "negativo" da fotografia de Marte, puxada pelo Yuri, em "roubar" mais uma fotografia do Diamantino Gonçalves, um olhar sobre "O Nosso Pantanal" que é a Barragem da Marateca.
Entre a Marateca e Marte, por uma Terra que é nossa.




Foto de Diamantino Gonçalves

Outras pedrarias



A notícia de que o símio mais poderoso do mundo (G.W. Bush) quer mandar uma missão tripulada (por ele?) a Marte, inspirou-me partilhar a impressionante imagem da Mars Exploration Rover. A sonda vai passar por ali uns tempos à volta dos calhaus em busca de respostas para questões muito antigas sobre o planeta vizinho. Afinal, partir cascalho sempre traz novas perspectivas.

quinta-feira, janeiro 8

Pedreiros de Malho Murcho

Parece que os maçons desta pedreira andam de malho murcho...

Já sei que sou mija-prosa, mas antes uma tusa de mijo do que tusa nenhuma.

Os "espadinhas" e a reforma da administração pública

Parece que o Governo descerrou mais uma bandeira na sua guerra contra essa corja de mandriões, impreparados e subsdio-dependentes que são os trabalhadores portugueses. Agora é a reforma da administração pública, que nos garantem, vai-nos por "au pair" da Europa civilizada, para preparar a nossa adminsitração para o choque cultural que aí vem com a entrada dos países do Leste e do Báltico na mesa da Europa. Aparecem-nos a defender essa "reforma" uns putos engravatadinhos e de franjinha à Beatle (para dar o toque mais cool e refrescante à politica) que se alcovitam na terceira bancada do PP e na oitava do PSD, e alguns que com MBA em Harvard e forjados na Católica do Espadinha liberal.
São estes "putos", que transitaram directamente das selectas universidades suiças e americanas, que são tu cá, tu lá com os mandamentos oculto da nova gestão de pendor neo-liberal, que vão reorganizar e refundar a administração pública em Portugal.
Para eles o funcionário público é um parasita, e o trabalhador um mero factor de competitividade com os Países do Leste. São eles que nunca tiveram um trabalho de merda na vida, que transitaram dos bancos da Universidade para as "canteras" dos partidos e daí para as poltronas aveludadas do poder, são eles que vão comandar mais uma "reforma do século" (e ainda a procissão vai no adro). Acho que a solução Maoísta de os mandar cavar batatas nos campos, ou fazer turnos seguidos e picar o cartão magnético para fazer uma mija na fábrica, seria mesmo uma hipótese a equacionar. Puta que os pariu!

Já lá vão Dois

Há dois dias nasceu a nova 2. O canal da sociedade civil, o serviço de público da RTP no Canal 2. O novo Canal dirigido por Manuel Falcão (eminência parda do laranjismo culto e oculto) foi abençoado por um bem-pensante jornal "Público". O voluntarioso José Manuel Fernandes estendeu-lhe opiparamente os mais sonoros cantos laudatórios, enquanto o melhor e mais crítico da televisão portuguesa - Eduardo Cintra Torres, dava beneplácito em causa própria - fez parte da "intelligentsia" que definiu o rumo para o desnorteado serviço público de televisão em Portugal.
Pelo caminho, palmadinhas no lombo do Morais Sarmento, do Almerindo "pão e vinho" e do risível Rodrigues dos Santos e a sua "coorte" de medíocres.
Em dois dias, do que vi do canal da sociedade civil foi mais do mesmo. Ou seja, uma programação herdada da antiga grelha, com alguma qualidade, mas pouca consistência. As entrevistas soporíferas e condescendentes de Ana Sousa Dias - erguida ao pedestal da divindade da intelectualidade cá do brejo - junta-se agora uma mais fresca e viçosa Anabela Mota Ribeiro, que faz um magazine de artes e espectáculos que parece um Kalkito da Sociedade de Belas Artes da Madame Carrilho.
Parece que o Nuno Santos vais fazer uma coisa do género - Estado da Nação, e para já, o mais notório da mudança é mesmo o inenarrável logotipo que aparece estampado no cantinho superior do ecrã, e que representa a iconografia da mudança.
Absolutamente deplorável, intrusivo e sem-graça, o doizinho que vai ornamentar os filmes, as óperas e esperemos o programinha cultural da insonsa Anabela Mota Ribeiro. O que vale é que o ´"Público" me garante que a Dois vai mudar a televisão em Portugal.
Enquanto não muda, faço já um zapping para o Archie Bunker na SIC Gold, à espera de melhores dias.

quarta-feira, janeiro 7

Boto intemporal

Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho , todo nu, gosto!

Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.

Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto!

António Boto
(in "Antologia de poesia portuguesa erótica e satírica")


Não sei porquê veio-me à memória este célebre poema desse grande e desconhecido António Boto. Tenho que deixar de ler jornais e ver têbê. As coisas que me lembro

Um Casino cheio de Pinto

Parece que o inefável Pinto da Estrela teve uma ideia luminosa. Fazer um Casino na Serra da Estrela. O Xô Lopes que se cuide, que cá por estas bandas também há autarcas atentos e cosmopolitas, se não se põe a pau, ainda o Frank Gherry vem de inter-cidades fazer um Casino aqui nas fraldas da Serra da Estrela. Eu, por mim aposto tudo no vermelho. Estou já a ver os pastores sem rebanho e os desempregados das fábricas de laníficios a irem torrar as últimas economias nas máquinas de Jackpot. E a estudantada preparando-se para os exames finais de geometria descritiva, descrevendo as coxas curvilíneas da bailarinas russas, enquanto aviam a mesada em generosas garrafinhas de Moet&Chandon, partilhada com a nata da sociedade covilhanense, mundialmente famosa pelo fausto das peles legítimas das mulheres ilegítimas dos industriais da terra. Vivó luxo ! Um Casino para a Estrela, já !
Putas e jogatana, isso sim é um cartaz turístico de verdade.

O que vai mudar em 2004

?

"A esperança é achar que a merda um dia cheire bem." Céline

Pão e charutos

Sabemos viver num País que se governa a pão e circo. "Aqui na terra tão jogando futebol, há muito samba, muito show e rock&roll. Mas eu queria-lhe dizer que a coisa aqui tá preta." Já cantava o Chico Buarque. Pois é, a coisa aqui tá mesmo preta. "Non se vivere solo di pane", parece a máxima dos falcões de rapina neo-liberal que se acomodam altaneiros nos poleiros do galinheiro do Estado. Sem galinha de ovos de ouro para depenar, estes rapinadores de colarinho engomado e gravata "à Bush" - como diz o meu amigo Ricardo da minha gravatola vermelhusca. - vão se entretendo a depenicar o grãozinho escondido e a picar os miolos da populaça. Este é o País-Padaria-Galinheiro, onde o preço do pão pode vir a aumentar 35% - por concertação dos padeiros-liberais que vão amealhando a sua choruda côdea à conta daqueles que têm de diariamente de comer o pão que o diabo amassou.
Este é o mesmo País onde os charutos vão deixar de ser considerados bens de luxo, passando a pagar um imposto bem mais razoável.
Aquilo que até podia ser uma boa notícia para os apreciadores de "puros" e para as exportações do regime fiel de Castro, acaba por ser ensombrado pela carestia do pão. Por um lado, aumenta-se o pão, por outro, tornam-se os charutos mais acessíveis ao comum dos mortais. Por este andar, o melhor é mesmo trocar o pão com manteiga por umas belas baforadas de Montecristo.
Em vez de dar pão aos pobres, a nova caridade neo-liberal passará a estender a charuteira com umas beatas de charutilhas de má catadura. Em Portugal já temos o circo, só nos falta o pão.

domingo, janeiro 4

Derby da miséria ou Estado hipnótico da Nação

Também podemos falar de futebol, aliás, neste País parece que o futebol é um assunto de Estado, pelo menos do Estado cá do sítio.
Tudo a propósito do grande derby da segunda circular, que ocupou todo o fim-de-semana informativo como se fosse uma colónia de ácaras ocupa uma alcatifa pouco higiénica. Uma grande fanfarra mediática, grupos de amigos a organizarem petiscadas caseiras, e um resto de País domingueiro acotovelando-se na bejeca e tremoço do tasco comunitário que se diponha a pagar a tença aos manos Oliveira e à SportTv. Um país suspenso de um jogo de futebol, de um Benfica-Sporting, que por momentos eclipsa as poucas-vergonhas da Casa Pia, da Justiça e dos politiqueiros, o futebol que parece assinar um armistício informativo no Iraque, onde os americanos continuam a tombar no vespeiro que eles próprios atiçaram, um País suspenso no "pathos" relvado, onde tal qual a tragédia grega, são expiados os males e as frustrações de uma nação pródiga na auto-comiseração. E tudo para quê?
Para assistir a uma hora e meia de um jogo a que dificilmente se podia chamar futebol. Uma miséria franciscana que é o retrato fiel de um País que veste dez fatos de gala com assinatura de estilistas/arquitectos e que custam milhões, mas que não disfarça a peúga rota a fugir para o chinelo, que é traço perene desta nova portugalidade. E tudo isto para quê - para ser palco de uma deplorável e indecorosa imitação daquilo que deve ser um jogo de futebol. Independentemente do resultado do derby - de inteira justiça, apesar do penalty roubado logo a abrir - o que sobressaiu foi o futebol terceiro-mundista que temos. A qualidade sofrível dos intérpretes pagos como magos de bola que não são - são um conjunto de fraudulentos talentos, sustentados e promovidos por uma indústria de media e de espectáculo que cria essa hipnose colectiva a que todos prestamos veneração, independentemente da consciência de estarmos permanentemente a ser defraudados nas expectativas.
Neste Benfica-Sporting, apenas as cores das camisolas e o ambiente escaldante de uma catedral erguida para pedintes iludiu aquilo que se passou dentro das quatro linhas - um jogo dos distritais, com pancadaria de meia-noite, entradas assassinas e "birras" de meninos-grunhos-riquissimos de mais que duvidosa fibra moral e humana. Na Catedral da Luz - com a honrosa excepção de alguns poucos verdadeiros jogadores de futebol (Barbosa, Ricardo, Liedson, apesar de tudo Tiago e Nuno Gomes), tudo o que nos foi dado a ver foi a imagem fiel e não hipnótica da qualidade intrínseca do nosso futebol, que bem feitas as contas é um espelho fiel de um país trafulha, adepto da ronha, da fuçanguice e do fiteirismo, que são traços identitários do lusitanismo de pacotilha. As pisadelas de Petit, os empurrões de Miguel e Rochemback, as cotoveladas de Beto, os agarrões de Simão, as idas à piscina de João Pinto, são apenas comportamentos desportivos de má índole que podemos encontrar encapotados noutras corteses formas, todos os dias e em todos os lugares deste país de percevejos engomados. Com toda a justiça, merece Portugal o futebol que tem. Merecer os grandiosos estádios cheios de mosquedo que vai ter para prolongar o estado hipnótico colectivo. E, sobretudo merece o Presidente da República que vai ter, o mesmo que descerrou a placa comemorativa do primeiro Derby no estádio da Luz. O benfica paga uma dívida de gratidão a presidente-lagarto, tendo os vendilhões do templo o descaramento de ter uma placa na Luz com o nome do Dr. Pedro Santana Lopes - o futuro presidente de todos os portugueses, porque afinal a grande maioria de todos os portugueses também merecem um País assim. A hipnose continua dentro de momentos. Viva o Benfica! Viva o Futebol! Viva Portugal

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